Nos artigos
anteriores ficou estabelecido que todos os tipos de fenômenos
parafísicos, não só no aspecto material, mas também no aspecto diretor,
devem-se aos vivos ("animismo"). Poderia haver alguma exceção?
("espiritismo", demonologia etc.?)
No Congresso
Internacional de Varsóvia, René Sudre enumerou quinze fatos ou
condições, apresentados pelos "mestres" espíritas mais prestigiados,
entre os espíritas para defender a intervenção espíritos dos mortos no
mundo dos vivos. Poder-se-iam acrescentar mais dois ou três tipos de
fenômenos. Entre estas "provas", quatro ou três são tipos ou condições
de fenômenos parafísicos: materializações completas, algumas aparições,
certas moldagens e impressões digitais (a fogo!: pirogênese).
1º) Corpo
inteiro
Albert de Rochas
reconhece acertadamente que é o inconsciente do vivo - e até aventura-se
a aceitar que poderia alguma vez ser o consciente - quem molda o seu
ectoplasma em forma de mãos, rostos etc. (ecto-colo-plasmia; de cólon =
membro) e mesmo de fantasmas tênues (fantasmogênes)
Mas -
acrescenta - há "fatos que só podem ser explicados por meio da possessão
temporária (...) por uma entidade inteligente de origem desconhecida.
Tais são as materializações de corpos humanos inteiros (...) Na
materialização de um corpo completo, este corpo é quase sempre animado
por uma inteligência diversa da do médium. Qual a natureza dessas
inteligências? Em que fase da materialização intervêm elas para dirigir
a matéria física exteriorizada? São questões do mais alto interesse, que
ainda não puderam ser respondidas por meus colaboradores nem por mim".
Se podem ser
respondidas é precisamente o que estes artigo pretende elucidar...
Os espíritas passam
por cima... da circunspecção de Rochas
Segundo
muitos "mestres" espíritas, a inteligência desconhecida não poderia ser
o inconsciente do vivo. Para eles, trata-se de "materialização completa,
identificação perfeita", prova incontroversa da intervenção dos
espíritos dos mortos. A materialização, isto é, a formação completa do
ser humano com peso, respiração, circulação sangüínea, todo tipo de
detalhes fisionômicos etc., enfim, tudo, seria manifestamente
melhor identificação do que as impressões digitais...
Não
qualquer materialização. Por mais completa que seja. Inicialmente contra
o slogan "materialização completa, identificação perfeita" haveria que
descartar muitíssimas materializações onde o parecido com a
pessoa representada não seja completo.
A
Federação Espírita Brasileira dá muita importância a uma materialização
que a médium Florence Cook... teria realizado. Acrescenta-a à história
de Katie King - este
caso sim muito
célebre e importante - e a um livro, também de alguma importância, de
Aksakof:
Em
várias sessões a materialização de uma jovem... Na sessão quarta disse:
"Não me reconheceis, minha mãe?" Um instante depois "Florence, o
espírito de minha filha, veio sentar-se nos meus joelhos. Tinha os
cabelos longos e flutuantes. Seus braços estavam nus, assim como os seus
pés, sua roupa não tinha nenhuma forma, dir-se-ia que estava envolvida
por alguns metros de musselina (...) Esse espírito não trazia toca, sua
cabeça estava desguarnecida".
"Exclamei: 'Florence,
minha querida, és tu realmente? Respondeu ela: 'Iluminai mais e olhai
minha boca'. Vimos então distintamente seu lábio deformado, como no seu
nascimento, quando os médicos que então a viram declararam que o caso
era muito raro. Minha filha só vivera alguns dias. Ela crescera no mundo
dos espíritos (?!), e parecia ter 17 anos. Vendo essa prova inegável da
sua identidade, derramei bastantes lágrimas, sem poder dizer uma
palavra".
** Não
interessa agora discutir se com toda essa emotividade a Sra. Ross-Church
tinha condições de exercer qualquer controle sobre uma fraude facílima.
Nem se tinham capacidade de controlar coisa alguma os outros dois - e só
dois - assistentes à sessão, ambos espíritas mais do que convictos...
Nem
interessa discutir se é possível na eternidade - onde não há tempo! -
que uma menina de poucos meses cresça até adquirir um corpo (perispirítico?)
de 17 anos... O que interessa agora frisar é que o slogan de
"materialização completa, identificação perfeita" não se pode aplicar a
casos como este, onde nem sequer a mãe reconhece sua filha
materializada. Onde a identificação proviria só de um detalhe: lábio
deformado quando criancinha. Necessariamente após 17 anos seria muito
diferente: nem sequer esse detalhe pode ser, contra o que se afirma,
"prova inegável de sua identificação".
Neste
artigo tratamos unicamente de casos onde a materialização seja
completamente igual à pessoa representada quando viva. Ou, seja!..., com
pouca diferença. Esse é o sentido do slogan espírita.
A refutação... dessa
convicção espírita é, inclusive, muito fácil:
Se a escotografia, a
ectoplasmia, a ecto-colo-plasmia, a fantasmogênese e a transfiguração
são reconhecidos como ideoplasmia dos vivos (a imagem que os vivos têm),
por que não considerar também ideoplasmia dos vivos a materialização?
Logicamente, o
fenômeno em si mesmo, seria simplesmente um pequeno grau, um pequeno
passo a mais, na graduação ideoplástica nos fenômenos ectoplasmáticos.
Nenhuma diferença essencial. O que a materialização teria de mais
imagem, de mais idéia, de mais identificação?
SUBJETIVISMO
Tudo menos
identificação
Entre as
inúmeras cartas que recebo em resposta aos artigos que publico, a do Sr.
Edwin Pereira de Mello merece destaque. É a respeito das
materializações.
"Freqüentei, durante duas décadas, sessões espíritas -Kardecistas, de
mesa branca!, mas terminei por não acreditar em nada. Até que (...)
A convite e com toda
minha descrença, acabei indo descobrir sessões de materializações.
Sessões públicas. Nos primeiros dias, apesar de ver espíritos
materializados, achava que tudo era um truque formidável.
Até que em sessão
de laboratório - quatro pessoas -, os fatos se revelaram de uma maneira
extraordinária. A entidade que se materializa -sob o nome de Pe. Zabew-
é do papa Leão XIII, acompanhada de Petrus Zeferino, Abud Malek -
falando em árabe -, Tião e Irubi. Todos eles nítidos, palpáveis, matéria
corpórea igual à nossa, produzida pelo ectoplasma do sensitivo, que
durante o trabalho dorme profundamente. Segurando a materialização pela
mão, sentimos até as batidas do pulso. Como duvidar? E as fotografias?
(...)
Enfim, freqüentei
muito tempo, e parei porque em uma das noites, o padre (Zabeu, Leão XIII)
disse que aquela seria a última sessão, e de fato há 40 anos dessas
ditas sessões.
O mais curioso é que
no mesmo instante, os mesmos fatos se repetiam em outro lugar, com as
mesmas personagens. Perguntei à entidade como era possível, tendo ela
informado que são outras legiões de espíritos que usam os mesmos nomes e
vozes.
Sempre acompanhei
sua pregação (Pe. Quevedo) contra a crendice, li seus livros, concordei
com muitos pontos de vista, mas... Ai!Ai!, esses são fatos ainda para
mim sem explicação.
Com todo o
respeito e admiração, firmo-me respeitosamente, (assinado) Edwin de
Mello".
** Eu conhecia as
fotografias e as publicações a respeito das pretendidas materializações
de Leão XIII. Não oferecem nada além, pelo contrário, estão muitíssimo
aquém de outros casos observados, desde o início da metapsíquica, pelos
melhores pesquisadores. Sem a mínima dúvida muito melhores
pesquisadores. Sr. Edwin, que os quatro da sua "experiência" de
laboratório" (?!). Por isso nem aludi às materializações do Pe. Zabeu e
companhia ao estudar os melhores casos.
Prezado Sr. Edwin,
discuta, se achar conveniente, a possibilidade parapsicológica, como
fato, de "o ectoplasma do sensitivo" exteriorizar-se em tal quantidade
para formar várias materializações completas ao mesmo tempo (?!)... O
problema aqui é outro: a identificação! É o sensitivo? A materialização
completa é identificação completa do espírito do morto?
Identificação do
espírito do morto? Perdoar-se-ia ao médium que pretendesse juntar como
"colegas do além", igualmente desenvolvidos - contra as pretensas leis
cármicas que fariam diferença entre eles -, Leão XIII (rico, sábio e
santo) e um tal Tião (ignorante e pobre), e ainda os desconhecidos
Petrus Zeferino, Abud Malek e Irubi. Nem me diga que se manifestavam ao
mesmo tempo pelo mesmo médium "espíritos superiores" e "espíritos
inferiores". Porque isso vai contra a doutrina espírita, ou seria prova
de fraude do médium...
Perdoe-se ao médium
que não soubesse apresentar o verdadeiro nome do papa Leão XIII quando
era simples padre (Vicenzo Giocchio Pecci; nada de Pe. Zabeu). Mas não
se pode perdoar a um espírito, companheiro no além e no aquém do
cultíssimo Leão XIII, a disparatada concordância latina Petrus
Zeferino!!
Para que insistir?
Os mesmos pretensos espíritos materializados, o mesmo inconsciente do
médium - ou o consciente de quem treinou durante 40 anos de sessões
públicas sem contar o treino anterior - jogam por terra qualquer
pretensão de identificação: "No mesmo instante os mesmos
fenômenos se repetiam em outro lugar, com as mesmas personagens (...),
tendo ela (a entidade) informado que são outras legiões de espíritos que
usam os mesmos nomes e vozes". Escolha, Sr. Edwin: ou mentiam as legiões
de espíritos nas sessões a que o senhor assistia, ou mentiam as "outras
legiões de espíritos" no outro local.
Ou mentiam todos: se
havia "outras legiões" seria porque com o senhor também eram legiões.
Não seriam só os espíritos de Leão XIII e seus três companheiros! Não é
mais lógico reconhecer que mentiu o inconsciente - ou o consciente! - do
médium (e dos seus colaboradores)?
Em todo caso, os
fenômenos, as vozes e os nomes eram os mesmos. De legiões de espíritos.
"Materialização completa, identificação perfeita"? Identificação
de quem? Não identifica espírito nenhum, portanto basta a direção do
espírito do médium, dado que o fenômeno físico como tal certamente seria
"o ectoplasma exteriorizado do médium".
Com todo respeito: é
perfeitamente compreensível que o Sr. Edwin dê importância
materialização do Pe. Zabeu. Quem primeiro sofreu um contágio psíquico
durante duas décadas e depois ainda acrescentou mais outros 23 anos, com
53 anos de lavagem cerebral, seria até incompreensível que percebesse o
solene disparate do slogan espírita: "Materialização completa,
identificação perfeita".
Mesmo entre
espíritas destacados
Já li muitas
vezes e ouvi "mestres" do espiritismo afirmarem que os metapsíquicos e
parapsicólogos, precisamente por sua formação científica e cerebral, não
podem ser bons pesquisadores de espiritismo.
*** Faltar-lhes-ia
humildade e coração aberto, fé, para penetrar os mistérios do espírito.
E citam, distorcendo o sentido, aquela frase de Cristo: "Eu te louvo, ó
Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios
e doutores e as revelaste aos pequeninos" (Mt 11, 25 e Lc 10,21).
** Por isso,
reproduzirei a seguir, entre numerosos exemplos, uma sessão de
materialização e identificação de mortos com os mais convictos
seguidores da doutrina e com os "mestres" mais citados pelos próprios
espíritas. Certamente não eram todos menos expertos do que o Sr. Edwin
nas sessões com o Pe. Zabeu. Certamente o controle da "sessão de
laboratório" (?) do Sr. Edwin não foi mais rigoroso.
Estavam lá Gabriel
Delanne e Léon Denis, depois de Allan Kardec os mais considerados
"mestres" espíritas. Assistiam também os famosos César de Vesme, Gaston
Méry, Darget, Bénézech, Paulus, Blech, Letort e o Comandante Martin.
Completavam o grupo espírita as esposas de Bénézech e de Letort, e ainda
as senhoras Lamoureux, Noeggerath e Priet, todas espíritas fervorosas e
assíduas às sessões de espiritismo. E o público: possivelmente todos,
afeiçoados ao espiritismo...
** Algum espírita de
então ou algum espírita moderno teria alguma coisa que objetar contra
tão seleto centro espírita?
"Acompanhamos o
médium (o famoso médium Miller, em Paris) desde o primeiro degrau da
escada até a sala das sessões. Despimo-lo completamente, calças, meias e
camisa. Ele deixou-se examinar, vestiu depois outras vestes pretas, sem
forros nem bolsos, que nós mesmos proporcionávamos, após exame.
Permanecemos na entrada da cabine do médium para impedir a comunicação
com outra ou outras pessoas. Mais ainda, não permitimos que as pessoas
apertassem a mão do médium".
"Começa a sessão.
Uma primeira materialização aparece nitidamente. Diz em inglês (estavam
em Paris): 'Boa noite. Sou Effie Deane. Podem me ver?' 'Perfeitamente',
respondem os assistentes mais cultos".
Delanne faz questão
de frisar que a materialização estava vestida com um manto branco,
apesar de que o médium não podia ter levado consigo nem um fio branco.
Segue um fenômeno de
ectoplasmia com fotogênese. León Denis anuncia que vê a cortina da
cabine avultando-se, e logo aparece uma grande bola de luz, que desce,
flutua de um lado para outro, paira diante de Léon Denis e do Cte.
Martin, desce até o chão, aumenta de volume... e aparece uma
materialização completa agitando os braços. "Sou a Sra. Laffineur. Boa
noite a todos. Boa noite, queridos amigos, estou contente de ver todos;
você, Gabriel (Delanne); o senhor, Comandante. Já me reconhece, Sr. De
Vesme? Lembra-se de mim, Sra. Letort? E os Sr. Letort? Que pena que a
Sra. Noeggrath e sua filha não me conheceram. Boa noite, Sra. Lamoureux",
e logo começa a desvanecer-se progressivamente. Alguns segundos depois
só fica sobre o chão uma pequena massa branca que ainda diz: "Boa
noite".
Da cabine sai uma
materialização. Pelas condições da pouca iluminação da sala, os
assistentes só podem distinguir com nitidez um braço. A materialização
caminha pela sala. "Boa noite", e fica diante do Sr. Léon Denis, a quem
pede uma mão e a põe sobre o peito. "Que simpática!" (declarará
emocionado o "mestre", um dos três mais considerados pelos espíritas).
"Senti muito bem quando me pegou a mão e a colocou sobre seu peito.
Senti sua carne úmida e quente (completamente normal), e a força do seu
peito (feminino). Foi maravilhoso. Obrigado, querido espírito".
A materialização
aproximou-se também do Cte. Martin, tomou-lhe a mão e também passou-a
sobre o peito. O Comandante fará depois comentários semelhantes.
(Materialização perfeita, plenamente humana, completamente normal).
E o mesmo exatamente
com o Sr. Delanne. Este declarará depois que evidentemente se tratava de
uma jovenzinha de mão muito delicada. Sentiu perfeitamente o bico dos
seios. Acrescentou que esse contato físico perfeito foi uma atenção da
qual sempre falará com todo agradecimento ao espírito perfeitamente
materializado.
Momentos
depois outra materialização. Diz chamar-se Josephine Case. Cumprimenta.
Pergunta... Todos vêem, todos ouvem, percebe-se claramente o barulho de
seus passos no assoalho de madeira... Até retirar-se levantando as
cortinas da cabine mediúnica.
E assim
outras treze materializações. E mais, os assistentes viram perfeitamente
materializados quatro espíritos ao mesmo tempo: Monroc, Pierre Priet,
Marie Bosel e Angéle Marchand. Acrescente-se que o espírito
materializado da falecida Angéle foi perfeitamente reconhecido entre os
assistentes nada menos do que pela sua própria mãe, a Sra. Priet.
Apareceram materializados os espíritos do Dr. Benton, Louise Michel, mãe
da Sra. Noeggerath, e Lullu, falecida esposa do Sr. Betsy.
No mesmo círculo
espírita, com o médium Eldred, em iguais condições de controle, a Sra.
Boset reconhece a materialização de sua falecida mãe: a Sra. Letort
reconhece sem a mínima dúvida possível os espíritos materializados do
filho que perdera jovem, e de sua antiga ama de leite. Em outra sessão,
também com Eldred, o Contra-almirante W. Usborne Moore, homem
evidentemente sensato e confiável, reconheceu um dos seus parentes
próximos recentemente falecido...
**Como duvidar
de tantas sessões tão perfeitamente controladas por tão destacados
espíritas? Como poderia alguém duvidar de identificações de espíritos
que em vida foram muito conhecidos por tantos assistentes? Poderia haver
mais detalhes identificativos do que as materializações completas?
Como duvidar? Pois
tudo foi truque. Muito bem feitos, mas truques. Apesar de tanto
"entusiasmo" dos "mestres" do Espiritismo, os médiuns Miller e Eldred
terminaram por ser desmascarados pelos pesquisadores científicos da
metapsíquica.
Os
próprios médiuns reconheceram que tudo fora fraude.
Os próprios célebres
e eminentes espíritas, assistentes das sessões, tiveram de engolir que
foram ludibriados. Diga-se em sua honra, os mestres espíritas Léon Denis
e Delanne tiveram o mérito de reconhecer que tudo fora fraude.
A eles, aos grandes
"mestres" do espiritismo, nenhum "espírito superior" avisou de que
estavam sendo enganados pelos espíritos inferiores dos médiuns muito
vivos...
E não posso deixar
de enfatizar que o testemunho de parentes, paradoxalmente, nada vale em
parapsicologia. É mais suspeito, precisamente por serem parentes! A
emoção é maior nessas circunstâncias já de per si muito emotivas.
Como
prova irônica da capacidade de identificações imaginativas costuma-se
citar o que aconteceu numa sessão de materialização:
Perante uma materialização muito nítida, com o médium Craddock, uma dama
grita emocionada: "Ó, é teu pai" "Sim, meu pai", responde o marido quase
tão emocionado, mas instantes depois acrescenta com maior emoção: "Não,
é minha mãe".
** "Materialização
completa, identificação perfeita"??
Documento falso
O mínimo de lógica
exige que se inverta o slogan espírita. "Materialização perfeita,
falsificação completa".
E a voz, a altura, o
tamanho, o peso, o modo de caminhar, os gestos, até as roupas...
Poderiam ser até as cicatrizes e outras marcas corporais
características, mesmo que se chegasse a verificar que era o mesmo ritmo
cardíaco, a mesma pressão arterial, o mesmo tipo sangüíneo...
** Agora no além?
Agora, no além, todas as características dos "desencarnados" têm de ser
completamente diferentes! A materialização, quanto mais se pareça a um
vivo, maior prova de que não é o espírito do morto. Documento tanto mais
falso, quanto mais perfeito. Não só é falsa a matéria-prima, também a
reprodução.
O
ectoplasma com que se faz a materialização não é do espírito do morto, é
do vivo. Também a reprodução é com relação a um vivo, não ao espírito de
um morto.
Quando vivo!
Vai no mesmo
sentido. O parecido da materialização é com a pessoa representada quando
estava viva, não quando estava morta. A voz que tinha quando viva, o
peso que tinha quando viva, a altura, os gestos, o modo de caminhar, as
cicatrizes, as roupas que usava quando viva.
Vivo o
médium, vivo o representado pela materialização.
Identificação no sentido parapsicológico, não no sentido espírita.
Segundo
os espíritas, a identificação seria o documento ou prova de identidade
do espírito morto. Em parapsicologia, identificação é quando o médium,
psíquica ou - do que tratamos agora - fisicamente se identifica com,
se adapta ao vivo. O médium se identifica com as características
do vivo que conhece ou adivinha: entre os principais fenômenos
parafísicos, aceitam-se nos primeiros degraus, subindo, a pneumografia,
a psicofonia, a escotografia... até chegar ao patamar superior através
da ecto-colo-plasmia, fantasmogênese e por fim a transfiguração. Não
identificação do espírito, mas identificação com o vivo.
Já os
primeiros "mestres" do espiritismo que colaboraram com as pesquisas
científicas da metapsíquica, logo tiveram que reconhecer que a
materialização nada prova, nada vale em prol da hipótese espírita. A
materialização completa - como os fenômenos parafísicos em geral -
também ela é caminho errado para a hipótese do espiritismo, tendo-se de
encaminhar a pesquisa pelo aspecto intelectual.
Cito conjuntamente a
autoridade de dois espíritas metapsíquicos. Escreve Alexandre Aksakof:
"Sinto-me
satisfeito em poder reproduzir aqui as palavras do Sr. E. A.
Brackett, que se pode considerar como um perito dos fenômenos de
materialização:
'Como eu sei que há
fantasmas que (pela vontade inconsciente do médium) podem tomar quase
todas as formas que desejam, a semelhança exterior desses seres
(materializados) não tem valor algum a meus olhos, desde que faltam os
caracteres intelectuais'".
Tudo isto, e
muito mais, prova que para ser bom experimentador é preferível
primeiramente ser "cientista e cerebral", e tratando-se de espíritas,
devem ter contatos com "cientistas e cerebrais".
Ideoplasmia
É a
idéia plasmada
Que o ectoplasma é do
vivo não se discute mais.
E se não
fugirmos agora para o tema do aspecto intelectual, a idéia, a vontade
etc. que se plasmam certamente são ao menos através do médium.
Idéia - revelada ou não; repito: não fujamos agora ao tema intelectual!
- não se pode discutir que está no próprio médium.
Volto a citar
conjuntamente três mestres, um de ocultismo - talvez a maior autoridade
para os ocultistas -; outro do espiritismo, este, apoiado pelos
espíritas reunidos no Congresso de Paris; e o terceiro um mestre da
tradição da Índia.
Escreve o ocultista
Papus:
"Quando no Congresso Espírita de 1889, o Sr. Donald Mac-Nab nos mostrou
um clichê representando uma materialização de jovenzinha que ele, como
seis dos seus amigos, pudera tocar e fotografar, o médium, em transe
letárgico, estava visível ao lado da aparição.
Ora, esta aparição
materializada era a reprodução material de um velho desenho datando de
vários séculos e que muito impressionara o médium quando estava
acordado. Certas materializações poderiam portanto ser produzidas pela
idéia do médium que as objetivaria com o auxílio de certas forças pouco
conhecidas da natureza. Esta teoria (aplicada a todas foi) sustentada já
em 1884, numa carta assinada pelo hindu Koot-Houmi".
Por outra parte,
em boa lógica, de duas uma: 1) ou se pode verificar por algum dos
assistentes, ou de outra maneira, a semelhança da materialização com a
pessoa representada quando viva; 2) ou não se pode verificar. Na
primeira hipótese não há como descartar a ideoplasmia do vivo. E se não
se pode verificar, então mais facilmente cai por terra a hipótese
espírita.
Todos os casos de
materialização podem ser explicados pela ideoplasmia; e muitos deles, se
reais, não se podem explicar de outra maneira. É o caso, por exemplo,
das materializações de seres imaginários, de personagens inexistentes de
novelas, personagens inventadas pelos pesquisadores com finalidades de
pesquisa.
Como
muito bem dizia Charles Richet, em nome de toda a metapsíquica, as
materializações nada provam, só nos resta para a pesquisa existe o
caminho do aspecto intelectual.
As duas melhores
identificações...
*** Diz Bozzano, "Os
dois casos mais maravilhosos desta espécie e os mais dignos de atenção"
são o de Katie King principalmente, e "podendo suportar o confronto" o
de Estela Livermore.
** Mas para que
podiam servir todas aquelas "provas", além das marcas digitais, para a
identificação de Katie King, se a "perícia policial" não possui nenhum
dado das características da Katie King original, quando viva?
Não se necessita de
muita agudeza psicológica para compreender que os problemas de Florence
Cook procuraram inconscientemente compensação no sobrenome escolhido
para o pseudônimo da "materialização": King = rei.
Katie King, porém,
não teria sido rei nem rainha, mas apesar da falha na prosopopéia, a
compensação continua: teria sido uma princesa indiana! Ó!, o fausto das
cortes da antiga e legendária Índia!
O verdadeiro nome da
princesa teria sido Anna Owen Morgan. Descobre-se de novo facilmente a
prosopopéia da médium, porque nenhuma antiga princesa indiana poderia
ter levado um nome tão inglês.
Por outra parte não
deixa de ser estranho que a princesa indiana antiga (quando a Índia não
era ainda, nem de longe, possessão inglesa) tivesse aprendido no além
tão perfeitamente o inglês...
...e por outra parte
tivesse esquecido de reencarnar, "obrigação" indiscutível entre a quase
totalidade dos seguidores do espírita Kardecista.
O próprio William
Crookes, que durante anos dirigiu as experiências e observações das mais
famosas "materializações", as de Katie King, com a médium Florence Cook,
não aceitou a explicação espírita do caso.
Eis o melhor exemplo
como prova da intervenção dos espíritos dos mortos em alguns fenômenos
de efeitos físicos!
Mais fácil ainda
A melhor
prova de que as materializações nada valem em prol da interpretação
espírita, é que as materializações não existem. Demonstra-lo-ei em
outros artigos. Exatamente remito no livro. As forças físicas da
mente. Lá, analiso minuciosamente o caso Katie King -"o mais
maravilhoso e o mais digno de atenção- como uma das melhores provas de
transfiguração, não de materialização! Analiso também o caso
-"podendo suportar o
confronto" em interesse- de Estela Livermore, precisamente para refutar
a existência da materialização.
Concorda Kardec
Allan Kardec nunca
admitiu a materialização: no máximo da condensação do "perispírito",
O fantasma pode ter
"todas as aparências da matéria tangível; pode mesmo chegar até á
tangibilidade real, ao ponto do observador se enganar com relação à
natureza do ser que tem diante de si (...) Ninguém os poderia (...) nem
prender, nem encarcerar, visto carecerem do corpo carnal. Atingiriam o
vácuo os golpes que se lhes desferissem".
Em nota, a Federação
Espírita Brasileira objeta com as "materializações" de Katie King,
posteriores a Allan Kardec.
** A Federação
confunde materialização com transfiguração (conhecida esta e admitida
por Allan Kardec). Erra a Federação? Quem tinha razão? "Os espíritos dos
mortos", ou Allan kardec?
Não
insistirei, para não me desviar do tema das materializações, nas
contradições do próprio Kardec: os espiritismo é todo uma contradição
após outra. Kardec no parágrafo citado, primeiro afirma que o
perispírito não pode ultrapassar as aparências de matéria tangível,
mas ato contínuo diz que pode ter tangibilidade real, e
imediatamente0 se contradiz de novo porque esta tangibilidade real
só serviria para o observador se enganar. Diz que "pode mesmo chegar á
tangibilidade real", mas então, como é que "ninguém o poderia prender"?
tangibilidade real, mas então como é que "atingiriam o vácuo os
golpes que se lhe desferissem"?
Quero, porém,
destacar a contradição e total falha de método científico e de lógica
nos defensores da materialização:
Os "mestres" do
espiritismo inúmeras vezes descrevem o perispírito como "matéria
quintessenciada, de natureza fluídica (...), etérea, invisível,
inobservável para nossas percepções orgânicas". E todo mundo sabe que os
mestres do espiritismo recorreram ao perispírito precisamente para
explicar as materializações (e todos os fenômenos espiritóides).
Ora, é
contraditório: sendo o perispírito invisível, imponderável,
inobservável, como é que poderia o espírito que com ele se revestisse,
tornar-se visível, palpável, até o extremo da materialização completa?
Quem viu o ar? E o ar é incomensuravelmente mais denso que esse pretenso
perispírito etéreo... Quem vê o calor, a eletricidade etc., tão mais
grosseiros que o "éter" (?) do perispírito?
E é falha
metodológica, círculo vicioso: pretendem provar o perispírito pelas
materializações (e outros fenômenos parafísicos); e pretendem provar as
materializações pelo perispírito! Ora, na mais elementar lógica, duas
proposições, como os dois extremos numa vara flexível, que só se apoiem
mutuamente caem ambas indefinidamente por falta de outro apoio
independente...
Mais confirmação
Curiosamente os
rosa-cruzes com o seu Imperator, H. Spencer Lewis, que se acham
inspirados pela "alma divina universal" (?), concordam neste particular
com Allan Kardec e negam peremptoriamente a materialização:
"Pergunta: é verdade
que nas chamadas sessões espíritas (...), as almas de pessoas falecidas
(...) se revestem de uma forma material de tal natureza, que não se pode
descobrir diferença fisiológica entre essas almas materializadas e um
corpo físico real, terreno?"
"Resposta: é
absolutamente certo que a alma de uma pessoa não retorna à Terra (...)
Por conseguinte não poderá ela, em tempo algum (...), visitar centros
espíritas (...) Exigiria um grande volume a explicação de tudo quanto
aparentemente ocorre numa sessão espírita (...) Porém, isto não
constitui (...) uma materialização anímica, como afirmam os (...)
espíritas em virtude de má compreensão dos verdadeiros princípios em
ação. Com isto não queremos dizer que certas coisas não ocorram numa
sessão espírita, capazes de dar a impressão de uma alma materializada.
Mas o certo, porém, é que tais coisas não são aquilo que eles acreditam
ser (...) A alma não se materializa e não se reveste de alguma forma
física" (do nosso mundo).
Conclusão
"Quanto mais
perfeita a materialização, maior a falsificação". |