Interpretação demonológica e psiquiátrica

Interpretação demonológica

Na concepção medieval, existia um eterno conflito entre Deus e o diabo. Na ofensiva contra Deus , os demônios buscam apoderar-se daquilo que, por ser a obra mais perfeita do criador, representa a imagem divina: o Homem.

Na concepção demonológica, cada homem está rodeado de demônios empenhados em invadí-lo e dominá-lo.

O diabo se insinua através do substrato instintivo e sensível da natureza humana, em maior conexão com as funções corporais.

O demônio, agindo nesta zona, estimula no homem, representações mentais nocivas que quanto mais imperiosas, tanto mais tendem a exercer repercussões sobre as faculdades ligadas à inteligência e à vontade, redutos da alma.

Para assegurar a vitória de Deus, os anjos mantêm o individuo alerta contra os ataques diabólicos, incentivando-o a usar de bastante energia para repeli-los e agir de conformidade com as leis divinas. Todo homem deve ser provado e só depois de haver medido forças com o demônio e de certo modo haver descido ao Inferno, tem possibilidade de subir ao Céu.

Sob a ação ordinária do diabo, o indivíduo em estado de tentação se sente acometido pelos mais diversos apetites, sensações, paixões, imagens e lembranças, acarretando-lhe o obscurecimento da consciência, do entendimento e da vontade, sendo impelido à prática do mal.

O homem revive em si mesmo, a luta entre anjos bons e maus, entre Deus e o diabo, entre o Céu e o Inferno, entre o Bem e o Mal. Dispõe de uma vida elevada, a vida da alma voltada para Deus, para o Bem.

Com essa vida superior, o homem esclarecido pela inteligência e dotado de vontade própria, esforça-se para reprimir e esquecer nas profundezas de sí mesmo, uma vida inferior, a vida do corpo, apegada a funções fisiológicas e às seduções do mundo, voltada para o diabo, o inferno, o mal, manifestando-se no âmbito da alma através dos impulsos instintivos, estados afetivos, sensações, lembranças e fantasias.

De acordo com concepções mais modernas, contrária às da antiga demonologia, o diabo não determina diretamente a doença, mas através da tentação instiga os impulsos inerentes à natureza humana e, com o obscurecimento da consciência, do intelecto e da vontade, impele o indivíduo para o pecado. Sob a influência do pecado, o indivíduo se lança a estados de maior tensão emocional, de embriagues, de insanidade física e mental; então, enfraquecida sua capacidade de resistência, permite mais facilmente que o demônio o envolva sob a forma extraordinária de obsessão, ou nele se incorpore sob a forma mais extraordinária da possessão.

 

Interpretação psiquiátrica

    O psiquiatra interpreta os distúrbios ocorridos tão somente no plano bio-psico-social. Atualmente quando alguns pacientes interpretam o que lhes sucede como dependente da ação extraordinária exercida por demônios ou espíritos, essas citações são geralmente catalogadas com outros sintomas inerentes a determinados quadros da Patologia Mental.

      Recentemente difundiu-se no mundo, e após profundas pesquisas de diversas universidades lançaram-se as bases da interpretação parapsicológica. A parapsicologia estuda e explica os mesmos fenômenos extraordinários que se atribuíam aos demônios ou espíritos. Com as investigações sobre tais atividades através do método experimental, a Parapsicologia desvenda as "Novas fronteiras da mente".

      Do ponto de vista psiquiátrico, os pacientes apresentam de início, um estado neurótico e com o agravamento das condições psíquicas, um estado psicótico; outros pacientes que apresentam imediatamente manifestações próprias da "possessão demoníaca", apresentam sintomatologia própria de estado psicótico.

      No século XVII, o Padre Surin, S.J., teria "recebido" o demônio chamado Leviatã, "saído" do corpo da irmã Joana dos Anjos, e mergulhou em estado de agitação. No diagnóstico psiquiátrico de L'Hermitte, a "possessão" do Pe. Surintraduziu-se do quadro próprio da psicose alucinatória crônica, caracterizado por múltiplos fenômenos de automatismo mental, atualmente descrita sob a denominação de parafrenia e mesmo admitida como forma clínica de esquizofrenia.

      Para a compreensão dos fenômenos mais "misteriosos", é imprescindível ao psiquiatra o conhecimento das descobertas parapsicológicas.

      Hoje, todos esses sintomas extraordinários, antigamente incompreensíveis e atribuídos à possessão, são plenamente explicados e compreendidos pela Parapsicologia.

 

Livro- As fronteiras da demonologia e da psiquiatria de João Carvalhal Ribas- Edigraf Resumo e observações de  Maria Cristina Aquino e Oscar G. Quevedo S.J.

 

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