HÁ MUITO MAIS
SOBRE XENOGLOSSIA |
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Como vimos no
artigo anterior, entre as causas da xenoglossia, HIP é o fenômeno
parapsicológico que mais freqüentemente intervém. Como explicação total,
ou como explicação parcial completando a pantomnésia,
Ernesto Bozzano, na época em que ainda era espírita, atacando um livro do grande parapsicólogo René Sudre, afirmou: "Para compreender uma língua, não é necessário que o médium a conheça, porque lhe basta o pensamento do consulente".
Certo. E à continuação disparata: "Não assim quando se trata
de falar ("inteligentemente", de acordo com as circunstâncias). Neste caso
é taxativo e necessário que o médium conheça a língua. A clarividência (HIP,
seria o correto) é impotente para faze-la conhecer, e tal impotência
deriva do fato de que a estrutura orgânica de uma língua é pura abstração
e, em conseqüência, não se pode ver nem perceber no cérebro de outrem".
Se, pois, o médium não
conhece uma língua e a fala, o fenômeno se deveria aos "espíritos" (?!),
segundo Bozzano. E apoiado no espírita contra o parapsicólogo repete o mesmo erro o Pe. Corado Balducci, Depois de conceder que entender línguas é fenômeno natural, acrescenta: "Nos livros ou no cérebro de outrem poder-se-ão, quando muito, ler frases em língua estranha, mas não (para usá-las) entendendo o seu significado, coisa que pressupõe o conhecimento abstrato da língua. É este o argumento principal que dá um valor absoluto à nossa afirmação" (de que a xenoglossia inteligente se deveria ao demônio).
Há fatos e
experiências, que refutam essas "explicações" supersticiosas. Não apenas
palavras e frases, mas também significados, sentimentos, idéias, conceitos
abstratos etc., podem ser captados por HIP.
Os mesmos
Bozzano e Balducci se contradizem: afirmam que se podem captar frases no
cérebro do interlocutor. Afirmam que se podem entender as frases
estrangeiras ouvidas, "lendo" o pensamento de quem as pronunciou. Por que
então não se pode entender o significado dessas frases captadas? Por que
só se entenderia o ouvido e não o captado? Em ambos os casos é "ler" o
pensamento...
E, aliás, que
necessidade há de entender para falar? Bozzano e o Pe. Balducci concedem
que o sensitivo pode captar frases na mente do interlocutor. Pois bem: se
o interlocutor conhece a resposta, é evidente que na sua mente associa-se
automaticamente a frase-resposta adequada a cada pergunta. O sensitivo
pode captar e pronunciar automaticamente essa frase-resposta, mesmo sem
entendê-la. A resposta será de acordo com as circunstâncias,
"inteligente".
Já falamos,
quando se tratou da HIP, dos meninos Ilga K. e Ludovico:
Apesar de ainda não ter
começado as primeiras lições elementares, Ilga "lia" de cor ou recitava
qualquer trecho de escritos ou discursos em qualquer língua, contanto que
sua mãe fosse na sua presença lendo mentalmente ou pensando o mesmo
trecho.
O menino
Ludovico, falava inglês, espanhol e inclusive um pouco de grego (além do
francês, sua língua pátria), justamente as línguas conhecidas pela mãe. E
na ausência da mãe só sabia francês.
Se as mães pensavam
inteligentemente nessas línguas, a xenoglossia dos filhos era inteligente.
Parece que
Bozzano e Balducci "esqueceram" que a xenoglossia, a resposta, pode ser
"inteligente", sem que o sensitivo entenda o que diz...
O pensamento captado
por HIP, pode ser o pensamento (sentimento, lembranças...) inconsciente.
Aliás, é mais freqüente captar o pensamento inconsciente do que o
pensamento consciente, como veremos na 2ª série ao falarmos da
TIE ou HIE (Telepatia ou Hiperestesia Indireta do Inconsciente Excitado).
Tal é o caso,
por exemplo, das conversas em grego mantidas por Laura:
Laura era filha do juiz
Edmonds, presidente do Senado e membro da Corte Suprema de Justiça de New
York. Laura conhecia (além do inglês, sua língua natal) só rudimentos do
francês. Não nos interessa agora o fato de que sendo só rudimentos para o
consciente, o conhecimento dessa língua era tão completo para o
inconsciente, que em estado de sonambulismo espontâneo falava
perfeitamente o francês. Interessa-nos agora que ela podia falar o grego
corretamente, segundo as circunstâncias da conversa com o Sr. Evangelides,
que era grego.
Testemunha o
juiz Edmonds: "Negar o fato é impossível; é demasiado evidente. Não posso
negar que o sol nos alumia! O fato sucedeu em presença de 8 a 10 pessoas,
todas instruídas e inteligentes. Não tínhamos visto jamais o Sr.
Evangelides. Foi-nos apresentado por um amigo naquela mesma tarde. Como
pode Laura falar e compreender o grego, língua que jamais ouvira?"
Laura
anunciou, em grego, que o filho do Sr. Evangelides acabava de morrer.
Ninguém sabia ainda. Posteriormente, confirmaram-se as declarações de
Laura.
A notícia
evidentemente é fruto de um conhecimento paranormal, telepático, dada a
enorme distância.
Em quem? É Laura
que paranormalmente capta o acontecido? Temos por muito pouco provável
esta hipótese.
Parece-nos
muito mais provável que o Sr. Evangelides inconscientemente captasse a
morte do filho. Evidentemente há muito maior motivo para se estabelecer
uma relação telepática entre pai e filho agonizante ou parentes
assistentes à morte, do que entre estes e Laura...
Mas o pai, não
sendo metagnomo (assim é chamado quem manifesta fenômenos paranormais,
extrasensoriais), só inconscientemente capta a desgraça. Laura capta a
notícia no inconsciente do Sr. Evangelides.
Laura captou a
notícia no inconsciente do Sr. Evangelides. É lógico, pois, que no
inconsciente do Sr. Evangelides captasse as expressões gregas.
Claro está que
Laura, não captou o grego, toda a língua grega, de modo que pudesse
falá-la independente das circunstancias atuais. Captava só as frases que
vinham ao caso, estando elas associadas no inconsciente do Sr. Evangelides
às perguntas ou idéias que tinha no consciente. E assim, Laura podia
conversar em grego, automaticamente, na presença do Sr. Evangelides. Pouco
interessa se entendia o que dizia. ou o que o Sr Evangelides lhe
perguntava. O mesmo juiz Edmonds afirmará depois: "Minha filha (ao falar
xenoglossicamente) freqüentemente não compreende o que diz, mas o
consulente lhe compreende sempre as palavras".
Ora, Bozzano e
Pe. Balducci, tais palestras "automáticas" não são xenoglossia
"inteligente"?
Mais. Laura nunca ouviu falar o grego? O pai o afirma, mas em New York... Quanto tempo precisa o inconsciente de ouvir falar o grego, talvez só com sensações inconscientes, para aprende-lo de modo a formar ao menos algumas frases com sentido dentro da conversa? É por isso que semelhantes casos às vezes se tornam muito difíceis de serem classificados. As sensações inconscientes podem desempenhar um papel inesperado. No caso de Laura e semelhantes a explicação por HIE (Hiperestesia sobre o Inconsciente Excitado) é muito provável. Mais ainda: é impossível que não se dê alguma vez xenoglossia por este meio. Mas, na prática, quase sempre ficará uma porta aberta em ordem a serem classificados esses casos como pantomnésia de sensações inconscientes.
A Sra. de
Wriedt, médium profissional, consultada uma vez pelo Sr. Mitovitch,
diplomata sérvio, disse-lhe de repente, e pronunciado em sérvio, o nome da
sua mãe. Naquela ocasião palestrou "inteligentemente" em croata (embora
num croata muito imperfeito) com um dos amigos do diploma, o advogado Sr.
Hinkovitch, que era croata.
Toda desconfiança é
pouca perante os "adivinhos" e médiuns "profissionais". O truque, talvez
inconsciente, é sempre possível. Vários autores fizeram constar sua
desconfiança a respeito da Sra. Wriedt, médium "profissional". A Dra.
Barret, porém, da "Society for Psychical Research" de Londres, defendeu
vigorosamente a médium nestes casos de xenoglossia que acabo de referir.
E assim por diante. Há
muitos casos de xenoglossia por HIP (ou HIE).
PLURIXENOGLOSSIA - Dizemos que há monoxenoglossia quando se
fala (ou emprega) uma só língua que o consciente desconhece.
Plurixenoglossia, é quando se empregam várias línguas desconhecidas. A
prurixenoglossia tem uma enorme espetaculosidade (Lembra o prezado
internauta o que significa glossolalia? Ao dizer que a
plurixenoglossia tem uma enorme espetaculosidade, é claro que não me
refiro à glossolalia, que é histeria ridícula).
Mas apesar da
sua espetaculosidade, a pantomnésia e a hiperestesia, direta ou indireta,
bastam para explicar esses casos.
Um caso de
plurixenoglossia foi muito bem observado pelo Dr. Cadello, de Palermo:
Tratava-se de uma
jovem de 17 anos, Ninfa Filituto, siciliana. Padecia uma forte crise de
histerismo com sonambulismo espontâneo. No primeiro dia da crise
assegurava que era grega, e escrevia com letras gregas, mas frases
italianas. É de notar que desconhecia em absoluto o grego... No dia
seguinte, falava corretamente o francês, conhecendo desta língua, em
estado normal, só os rudimentos. No terceiro dia falava algo de inglês. No
quarto dia da crise, a doente falava corretamente o italiano, que
normalmente falava mal e com muito sotaque. Durante esses quatro dias
esqueceu, no consciente, completamente o siciliano, seu dialeto natal. No
quinto dia, porém, passada a crise, recobra o dialeto siciliano,
esquecendo por completo os assombrosos progressos feitos em grego,
francês, inglês e italiano. "Desconhecia absolutamente o grego". Mas consta que, pouco antes da crise, esteve folheando uma gramática grega. Pouco tempo é necessário para aprender o vocabulário grego, inclusive conscientemente, como tenho comprovado com meninos. Para o inconsciente, pantomnésico, basta muito menos tempo.
"Do francês,
só conhecia em estado normal os rudimentos", "falava corretamente o
italiano, que normalmente falava mal e com muito sotaque". O estudo do
francês e a prática diária de falar italiano e conviver com italianos,
foram suficientes para que o inconsciente, pantomnésico, aprendesse a
falar corretamente essas línguas.
A respeito do
falar "algo de inglês": O Dr. Cadello supõe que ela nunca ouviu falar
inglês. Duvidamos dessa afirmação, pois na Itália, país de turismo, haverá
alguém que nunca ouviu falar inglês? O Dr. Hann fez uma crítica muito
acertada a esta afirmação temerária do Dr. Cadello.
MISTURA
XENOGLÓSSICA - A plurixenoglossia geralmente é a plurixenoglossia
comum que acabamos de ver. Falam-se várias línguas, mas um dia uma língua,
e outro dia outra. Às vezes, porém, a plurixenoglossia apresenta um
aspecto diferente: empregam-se várias línguas misturando-as numa mesma
conversa ou até numa mesma frase.
Tal é o caso, por
exemplo, de Alfredo, menino de 7 anos, o maior dos chamados
"endemoninhados (!?) irmãos Pausini". Uma tarde, ao voltar de uma sessão
espírita, desequilibrado e psiquicamente contagiado, entrou
espontaneamente em transe e começou a falar numa mistura de grego, latim e
francês (ele era italiano), além de recitar de cor compridas passagens da
"Divina Comédia". O fenômeno vinha acompanhado, coisa aliás freqüente
nestes casos, de ligeira ventriloquia.
O caso explica-se por
simples pantomnésia.
A xenoglossia
misturando as línguas não impede às vezes a "inteligência" da frase: as
palavras empregadas pertencem a várias línguas, conservando o conjunto um
sentido "inteligente", segundo as circunst6ancias do momento ou da
conversa. Alguns destes casos podem atribuir-se à pantomnésia e talento do
inconsciente; outras vezes, porém, são o resultado de HIP.
Esta difícil
xenoglossia raríssimas vezes se manifesta verbalmente. É menos rara sem
deixar de sê-lo, quando é facilitada pelo "planchet" (ou a mal chamada
"brincadeira" do copo), mesa girante, escrita automática, etc. Estes são
modos de manifestar automaticamente a atividade interna inconsciente.
Servindo-se
destas "pragmáticas" e com um pouco de sorte, às vezes é até possível
provocar experimentalmente o fenômeno. Suponhamos um francês, um alemão e
um sírio, os três com bom treino por exemplo na mesa girante. Segredemos
a cada um deles, na sua própria língua, uma pergunta, que seja a mesma
para todos. Esperemos a resposta, segundo um alfabeto convencional, por
meio dos movimentos da mesa sobre a qual eles apoiam as mãos. É possível
obter, desta maneira, uma plurixenoglossia, ou mistura das três línguas,
nos movimentos da mesa.
Não é preciso
que algum dos participantes na experiência chegue a captar, ainda que
inconscientemente, as palavras estrangeiras em que pensam os colegas.
Basta que cada um dos participantes por sensação inconsciente capte a
ordem de cessar, dada através do movimento da mesa, automática e
inconscientemente, por algum outro dos participantes. As diversas ordens
seriam dadas, sucessivamente, pelos diversos participantes na experiência,
para formar alguma palavra na própria língua. Quando tivermos a sorte de
que a iniciativa do automatismo reflexo vá passando sucessivamente de um a
outro dos participantes, teremos como resultado uma frase
plurixenoglóssica "inteligente". Eu tive êxito por exemplo dirigindo a
experiência com quatro meninas no Rio Grande do Sul, em plena TV. Além de
muitas experiências em laboratório.
XENOGLOSSIA
INTELIGENTE E HABITUAL - Ao inconsciente hiperestésico, chegam
inúmeros dados lingüísticos. (Os fenômenos paranormais, extrasensoriais,
que estudaremos na 2ª série, evidentemente que podem colaborar
um pouco no descobrimento e apresentação de dados). A pantomnésia conserva
para o inconsciente esses dados, como também os dados captados por "vias
normais", em número imensamente maior do que pode conservar o consciente.
E o inconsciente, como veremos no próximo artigo, possui um assombroso
talento: pode elaborar complicados raciocínios, fazer descobertas
prodigiosas, comparar e combinar dados, etc., numa proporção que o
consciente dificilmente pode alcançar. O resultado de tudo isto em
determinadas circunst6ancias, é uma xenoglossia verdadeiramente
"inteligente", às vezes de freqüente uso e inclusive habitual. Vejamos
alguns casos que refutam totalmente os dislates de Bozzano, Balducci e
seus seguidores.
LÍNGUAS
RENASCIDAS
- Não nos referiremos, por agora, ao caso
em que só o inconsciente aprende a língua. Disso falaremos depois.
Referimo-nos, de momento, a um fenômeno menos espetacular, porém mais
freqüente; quando também o consciente aprendeu a língua, esquecendo-a
depois completamente. Lembrar-se, talvez, de poucas palavras não é
lembrar-se de uma língua. Essa língua esquecida, agora é língua
desconhecida. Se, pois, em determinado momento surge de novo, temporária
ou habitualmente, com pleno sentido, "inteligentemente", o fenômeno pode
chamar-se "falar línguas desconhecidas" ou xenoglossia.
Benedikt, por exemplo,
refere o fato de um oficial inglês que hipnotizado, se exprimiu
corretamente em dialeto "walis", da Polinésia. Aprendera-o quando muito
criança, esquecendo depois completamente.
É muito citado
o caso do velho que nascera e vivera alguns anos na fronteira polonesa,
falando somente o polonês. Ainda criança passara a viver na Alemanha.
Chegou a esquecer completamente o polonês. Seus filhos testemunham que,
pelo espaço de 30 anos, evidenciou-se que ele esquecera por completo o
polonês. O mesmo assegurava freqüentemente ele aos filhos que o
testemunham. Não obstante, quando teve de submeter-se a uma operação
cirúrgica, sob o efeito do clorofôrmio, durante duas horas rezou, cantou,
falou, contou e descreveu mil coisas, somente em polonês. Após haver
passado totalmente o efeito do clorofórmio, voltou a esquecer
completamente esse idioma.
Semelhantes casos não
são por demais raros. A língua que alguma vez se aprendeu, mesmo após
muitos anos de esquecimento, pode ressurgir, até com plenitude.
XENOGLOSSIA
SÓ DO INCONSCIENTE - Uma criança precisa de alguns anos para
aprender no consciente a falar a língua pátria. Um adulto pode precisar de
menos tempo, inclusive sem estudar. Precisa-se de tempo, porque é preciso
ouvir e assimilar muitas palavras e dados dessa língua; como acontece de
se esquecerem certas coisas freqüentemente, esses elementos devem ser
ouvidos outras tantas vezes. Ora, quem poderá precisar quanto tempo menos
que o consciente precisará o inconsciente hiperestésico, pantomnésico,
inteligentíssimo, para aprender línguas?
Vários dos
casos já citados poderiam ser incluídos aqui. Por exemplo, segundo os
dados do relatório era correto o industani que falava a velha senhora, já
citada; ela sabia industani nas suas crises. Só o inconsciente tinha
aprendido o industani nos quatro primeiros anos de vida, embora o
consciente não o aprendesse. Ela conscientemente não se lembrava de uma só
palavra.
UM CASO
EXTRAORDINÁRIO - Trata-se de um caso maravilhoso, e insuperável, bem
comprovado, de xenoglossia habitual como resultado duma aprendizagem
inconsciente.
A Srta. Iris, de 16
anos, filha do engenheiro químico Gero Farczady, de Budapeste, "morria" em
agosto de 1933. Poucos instantes após a "morte", porém, começava de novo a
respirar, recuperava os sentidos e terminava por sarar completamente. Mas,
agora, dizia ser Lucía Altares de Salvo, espanhola, que acabava de morrer
em Madri, rua Obscuro n.º 1, que tinha 40 anos e era mãe de 14
filhos...
Iris (ou Lucía)
falou perfeitamente o espanhol de então em diante, e continuou falando-o
sempre e em toda parte.
Embora para os
próprios espanhóis o espanhol falado por Iris não fosse tão perfeito como
julgaram os húngaros, não deixaram de considerá-lo bom. O embaixador da
Espanha na Hungria, assim como a esposa e filhas (espanholas) do cônsul
geral húngaro em Barcelona, reconheceram que o espanhol de Lucía era
bastante bom, mas não o de uma verdadeira espanhola.
Outros
espanhóis, ausentes da Espanha por algum tempo, como o empregado de circo
Sr. Tadeo Busquel, com o qual Iris-Lucía falou "com pasmosa velocidade"
durante mais de uma hora e meia, nem repararam que ela, que se apresentava
como espanhola, não o era na realidade. O mesmo aconteceu com o Dr. Pafé,
espanhol, professor de línguas em Budapeste... E não obstante, antes da "morte", Iris não sabia absolutamente nada de espanhol, como testemunharam todos os seus parentes, professores e colegas do Colégio.
Este caso marcante de
xenoglossia foi considerado e defendido pelos espíritas como manifesta
"transmigração da alma dum corpo a outro" (?!).
Investigações
posteriores do Dr. Rothy, presidente do Comitê (e do Congresso
Internacional) de investigações Parapsicológicas de Budapeste, fornecem os
dados necessários para provar que o caso é plenamente natural.
Comprovou-se, em primeiro lugar, que Iris tinha uma extraordinária
facilidade para línguas. Já nos primeiros anos no Colégio Sta. Margarida
(Filhas do Redentor Divino),
assombrou às professoras pela disposição para o francês.
Posteriormente,
aos 14 anos, demonstrou de novo sua facilidade para línguas, ou melhor, a
sua capacidade invulgar de acomodar todo o mecanismo cerebral da fala a
uma nova língua. Fora à Holanda. Depois de quatro meses, comprovou-se que
Iris esquecera completamente o húngaro, sua língua materna (só o
entendia), mas falava agora perfeitamente o holandês, como se fosse
holandesa de nascimento.
Quando o caso
Iris-Lucía, já tinha revolucionado o mundo, o comissário de polícia de
Budapeste teve que ocupar-se da jovem. O embaixador espanhol desejava
saber se Iris-Lucía não seria uma das três meninas que tinham desaparecido
em Madri.
Segundo os
dados encontrados pela polícia Iris nunca tinha estado na Espanha, mas
ouvira muito falar espanhol, quando residia, ainda criança, na Holanda, e
até dissera algumas palavras e pequenas frases em espanhol. Ao voltar,
criança ainda, para a Hungria, esqueceu completamente o pouco espanhol que
aprendera. Assim se explica que nem professoras, nem colegas, a ouviram
jamais proferir palavras em espanhol.
O
parapsicólogo professor Rudolf Houti explicou na Delegacia de Polícia ser
possível que o espanhol, que Iris gravara na memória infantil e conservara
por pantomnésia inconsciente, surgisse aos 16 anos de idade à consciência
por ocasião da "grave" doença sofrida.
Tenha-se em conta,
aliás, que Iris evidentemente teve que ouvir muito espanhol: na Hungria há
muitos espanhóis, especialmente judeus-sefarditas, que em épocas passadas
foram expulsos da península...
Outros dados
apareceram, fortalecendo a explicação. O Dr. Zoltán Végh, professor de
espanhol no Colégio Madrách, costumava ensinar conjuntamente as palavras "calle"
(rua) e "obscuro", contando uma anedota, extraída de um jornal de Madri.
Ora, a personalidade espanhola de Iris-Lucía, assegurava ter morrido em
Madri na "Calle Obscuro".
Isto demonstra que
Iris-Lucía conheceu, por meios normais ou hiperestésicos, alguma coisa do
espanhol ensinado pelo professor. É claro que "um espírito transmigrado"
(?!) da Espanha não iria utilizar justamente esta anedota do Dr. Végh. Mas
isso explica que o inconsciente fingisse um espírito madrileno,
"desencarnado" (?!) na Calle Obscuro...
Comprovou-se
também que a personalidade Lucía era completamente imaginária. A policia
espanhola não encontrou em Madri nenhuma Lucía Altares de Salvo. Em Madri
não existiu nunca uma rua chamada Calle Obscuro. Lucía dizia que em Madri
tinha uma irmã casada com o cabeleireiro Emílio Andro, que morava na Rua
da Virgem n.º 23. Tudo absolutamente falso, pura imaginação.
Lucía também citou o nome da escola onde estariam estudando três dos seus
14 filhos. Nem a escola nem os filhos foram encontrados em Madri... Como confirmação basta indicar que não "desencarnou" nem "transmigrou" a alma de Iris, para expressar-me nos absurdos termos dos reencarnacionistas. A personalidade de Iris não desapareceu totalmente, mas unicamente da superfície. E assim se explica também que entendia o húngaro, apesar de não o falar. O Dr. Dido Kassal teve a acertada idéia de hipnotizar a Iris-Lucía. Então aflorou à superfície a personalidade "desaparecida" de Iris e até nos deu a explicação psicológica de por que o inconsciente programou toda a "novela" da Lucía espanhola:
"Ninguém me
compreendia. Na escola me chamavam gênio. E que são os gênios? São a mais
difícil natureza. Um gênio morre jovem (e ela fingiu a morte aos 16
anos). Para o gênio ser compreendido, deveria rebaixar-se a lutar
sozinho contra a multidão. O gênio avança vários séculos, enquanto os
outros ficam no presente. Essa é a razão do desacordo que existe (eis
o que lhe doía...)
e que só a posteridade compreenderá".
Considerava o mundo indigno dela e por isso a personalidade Iris finge retirar-se do mundo refugiando-se na personalidade Lucía: caso característico em Psicopatologia.
O caminho para a
maravilhosa aparição da personalidade Lucía, arquivada no inconsciente da
personalidade oficial Iris, foi se preparando e aplainando por muito
tempo:
Cada vez mais a
personalidade Iris fugia para longe; com mais freqüência e por mais tempo
era substituída por outras personificações do inconsciente: anjos e
demônios, seres de outros planetas, famosas personagens modernas e ainda
vivas, ou antigas, como Xerxes, Leônidas, Leila uma das esposas de
Artaxerxes, etc. Raramente um "João-ninguém": megalomania característica
desses casos.
Tais mudanças
de personalidade foram, no começo, de poucos minutos, mais adiante de
algumas horas e, ultimamente, uma personalidade espanhola conhecida pelo
nome de Letícia permaneceu durante toda uma semana.
Quando Iris "acordou",
depois de toda esta semana de fuga da realidade, insuportável para ela, já
estava suficientemente preparada e pouco depois apareceu definitivamente a
personificação altamente compensadora de Lucía Altares de Salvo. O
inconsciente solucionou definitivamente o drama da menina Iris Farczady,
que agora se movia docemente num mundo irreal.
POSSIBILIDADE DE
OUTRAS CAUSAS
- Fenômenos parapsicológicos idênticos ou
muito parecidos, requerem freqüentemente explicações diversas.
Penso que esta
versatilidade nas explicações foi um dos principais motivos pelos quais a
ciência demorou tantos séculos em abrir caminho pela emaranhada selva dos
fenômenos parapsicológicos. Os cientistas, acostumados à imutabilidade e
regularidade das causas no mundo físico, não compreenderam a
versatilidade, espontaneidade, incontrolabilidade, variedade e, às vezes,
complexidade das causas nos fenômenos psíquicos. O comportamento do homem
pode ser diametralmente diferente do comportamento da matéria.
Nas páginas
anteriores já vimos xenoglossias nas quais, além da fraude
inconsciente, intervinha a pantomnésia, o talento do inconsciente, a
hiperestesia direta e indireta, etc., além de outros efeitos colaterais
como ventriloquia, psicografia, movimentos de mesa, etc.
Há outras
causas da xenoglossia. Vejamos só algumas. Pareceria necessário adiantar
os outros artigos, os da 2ª série, isto é, demonstrar que
existem os fenômenos paranormais de conhecimento que vamos indicar como
causas possíveis da xenoglossia... Mas não é necessário adiantarmos essas
provas. Bastará uma pequena idéia, porque focalizamos esta parte do ponto
de vista "teórico", expomos as causas como "possíveis", visando fazer ver
aos enganados por absurdas "explicações" supersticiosas (demônios,
espíritos, reencarnação, etc.) que antes deveriam excluir positivamente,
além das causas já estudadas, também outras causas naturais "possíveis" e
portanto mais "lógicas" de serem a verdadeira explicação.
O Dr.
Frederick Bligh Bond, juntamente com o seu amigo o Dr. John Allayne,
preparava-se para dirigir as escavações nos terrenos da antiga abadia de
Glastombury. O Dr. Allayne era um bom sensitivo exercitado em psicografia.
Bond formulava uma pergunta a respeito de problemas de escavações. O
inconsciente de Allayne traçava então frases e desenhos psicografados.
Quando a psicografia tinha passagens ilegíveis ou fornecia informações
pouco precisas, tentavam nova psicografia complementar. Realizaram estas
provas antes de se começarem as escavações. Obtiveram assim numerosos
dados: a localização exata e as dimensões de uma capela, croqui e planos,
desenhos de cornijas esculpidas e outros adornos de pedra, etc., embora os
desenhos psicográficos não fossem um modelo de arte. No ano seguinte,
realizadas as escavações, comprovou-se a veracidade de muitos dados
obtidos pela psicografia.
(E o que agora nos
interessa:) A psicografia era xenoglóssica: em
latim e em inglês medieval. Os dois arqueólogos reconheceram que ignoravam
várias das palavras e expressões empregadas na psicografia, palavras ou
expressões já fora de uso, ou raras.
Interpretação? Os próprios protagonistas compreenderam que a "presença
(...) de indivíduos falecidos, de nenhum modo tinha cabimento nessas
escritas".
A explicação é
complexa, mas clara. Em primeiro lugar, como quase sempre na xenoglossia,
devemos conceder bastante participação no fenômeno à pantomnésia: Bond e
Allayne eram sábios possuidores de um sólido conhecimento de tudo quanto
se tinha escrito sobre a abadia de Glastombury. Evidentemente, muitas das
palavras raras em latim ou expressões em inglês medieval (assim como
muitos outros dados lingüisticos ou arqueológicos), surgiram do seu
próprio inconsciente pantomnésico. Eles tinham lido muitos manuscritos em
latim e inglês que haviam sido redigidos pelos antigos monges moradores
da abadia. A identificação dos diversos monges, de cujos manuscritos os
investigadores obtiveram os dados conservados por pantomnésia, seria
possível analisando os diversos tipos de letra. A psicografia, com efeito,
como acontece com freqüência, imitava às vezes o tipo de letra do autor
original, onde o psicógrafo se tinha inspirado.
Mas, de acordo
com os Drs. Allayne e Bond, muito provavelmente no caso havia complemento
de outras causas, inclusive paranormais, de diversos tipos. Em primeiro
lugar, Allayne poderia captar certos dados do inconsciente de Bond. Algum
outro dado poderia ser captado por Bond e Allayne por hiperestesia direta
(HD) sobre a realidade oculta sob os seus pés. Mas também por
clarividência extrasensorial sobre a realidade lá presente e também em
longínquos livros ou manuscritos (Clarividência se diz quando
extrasensorialmente, paranormalmente, é captada a realidade física).
Por retrocognição (chama-se retrocognição o conhecimento paranormal com o
qual conhecemos o passado), poderiam captar dados lingüísticos e
arqueológicos da época mesma na qual a abadia era habitada. Inclusive por
precognição (a precognição é o conhecimento paranormal do futuro), o
inconsciente estaria captando algo do que um ano mais tarde seria
descoberto.
Todos esses
fenômenos paranormais existem. Pelo menos os partidários de "explicações"
(?!) supersticiosas deveriam admitir que são "possíveis". Se, pois, para
um caso concreto não basta como explicação a pantomnésia, HIP, etc., ainda
deverão excluir positivamente a explicação por todos esses fenômenos
enumerados como causas talvez possíveis.
No caso que acabamos de analisar como exemplo, deve-se ter em conta que Allayne era um bom sensitivo (para fenômenos extranormais) e metagnomo (para fenômenos paranormais). Os mesmos protagonistas, analisando seu próprio caso, estavam convencidos da participação da fenomenologia parapsicológica. Pe. Oscar G. Quevedo S.J. |