CUMBERLANDISMO |
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FENÔMENO EXTRA-NORMAL DE CONHECIMENTO
PESSOAS QUE "TOCAM" O PENSAMENTO
Cumberlandismo é um sistema de "adivinhação" curiosíssimo. O nome provém de Stuart Cumberland, talvez o primeiro que o descobriu, estudou e praticou em exibições públicas de Ilusionismo. É sabido que nem tudo o que se exibe em Ilusionismo é truque. O cumberlandismo é uma das exibições espetaculares que não precisa ser trucada.
Eis um caso típico: trata-se, de encontrar um relógio que foi escondido no bolso do casaco do terceiro espectador da fileira oito. O ilusionista estava ausente, de costas ou com os olhos vendados cuidadosamente, quando se escondia o relógio. O ilusionista pega a mão de uma testemunha qualquer, preferentemente uma moça (e melhor ainda, uma criança). "Concentre seu pensamento na direção que devo tomar para encontrar o relógio"... O artista anda sobre as pontas dos pés, e sempre tocando uma mão da testemunha balança suavemente o corpo. De repente, e precisamente ao chegar à fileira oito, pára. Pede uma vez mais à testemunha que concentre bem seu pensamento na direção a tomar. Sem hesitação entra pela fileira oito. Ao passar por diante do espectador número três, pára de novo, como atingido por uma rápida inspiração. Com a mão da testemunha sempre segura passeia a sua outra mão sobre as vestes do espectador. Reclama continuamente a concentração do pensamento no lugar onde se acha o relógio. Por fim, ante a estupefação do público, o artista pega o relógio e o mostra. Pessoalmente, tenho realizado muitas vezes experiências públicas semelhantes, como demonstração prática, quando falo deste fenômeno. A prova baseia-se nos movimentos involuntários e inconscientes, mínimos, correspondentes ao pensamento da testemunha cuja mão o ilusionista mantém segura. Claro está que em muitos casos não pode ser excluída a participação de outros sinais, como fonéticos, epiteliais, etc., inconscientemente emitidos, e inconscientemente percebidos, mas influindo na conduta do ilusionismo: Eu, alguma vez, tenho errado em algum pequeno detalhe por interpretar mal os pensamentos da "colaboradora", e outras vezes tenho acertado por ser guiado inconscientemente pelo público quando a "colaboradora" estava errada. O mais curioso é a admiração da própria colaboradora inconsciente, que até jurará não ter ela indicado nada.
EXPERIÊNCIAS DE CUMBERLANDISMO - Entre 1910 e 1920, o professor Gilbert Murray, da Universidade de Oxford, e Presidente da S. P. R. (Sociedade de Pesquisas Parapsicológicas) de 1915 até 1917, fez em sua casa experiências de cumberlandismo, no começo pensando erradamente tratar-se de telepatia (extra-sensorial). Qualquer dos membros da família, geralmente sua filha, Sra. Toynbee, escrevia num papel alguma coisa escolhida livremente. Fazia-se entrar então o Dr. Murray que tinha permanecido ausente. O doutor toma pela mão a pessoa que devia pensar no que se habia escrito, e outra testemunha anotava palavra por palavra as declarações do doutor. Por exemplo: A Sra. Toynbee escreveu e pensava: "Início de um trecho de Dostoiwsky, no qual o cachorro de um pobre homem morre num restaurante". Chamado o Dr. Murray, pegou a mão da Sra. Toynbee, e disse: "Parece-me que é uma coisa tirada de um livro. Diria que se trata de um livro russo. Um homem muito pobre. Parece-me que se trata algo relacionado com um cachorro. Um cachorro muito infeliz. De repente me ocorre que é dentro de um restaurante e que as pessoas brigam, depois regressam a suas casas e se esforçam por serem bons, Não estou seguro... Tenho a impressão de que é alguma coisa assim como Gorki (por Dostoiewsky). Tenho a impressão de que é alguma coisa da Rússia". No total das experiências, 505, houve 60% de acertos. Não precisamos aqui da telepatia, que poderia ter dado resultado a quilômetros de distância. Além dos sinais completamente cumberlandísticos, podem-se admitir alguns outros sinais, auditivos ou de outra espécie, inconscientemente emitidos. Esta possibilidade da explicação por cumberlandismo, ou mais em geral por hiperestesia de diversos sinais, posteriormente já foi vislumbrada pelo próprio Dr. Murray, assim como pelo Dr. Verrall que assistiu também às experiências. Anos mais tarde, em 1931, o mesmo Dr. Murray fez experiências semelhantes com o Sr. e a Sra. Salter. Os resultados também desta vez confirmam a capacidade de adivinhação por meio do cumberlandismo com maior ou menor reforço de outros tipos de hiperestesia, como de novo o mesmo Dr. Murray teve que admitir a título de dúvida, embora ele com escassos conhecimentos das possibilidades da hiperestesia, preferisse, erradamente, inclinar-se pela telepatia (extra-sensorial).
NA RÚSSIA - O Dr. Naum Kotik fez experiências com a menina Sophia Starker. Sophia ficava com os olhos rigorosamente fechados, as orelhas obturadas com algodão. O pai ficava de costas. Nestas condições qualquer um dos assistentes escrevia alguma coisa no papel que apresentava ao pai. O pai pegava então, sem volver-se, a mão da menina e esta freqüentemente adivinhava, mais ou menos completamente, o que se escrevera. Não queiramos pensar, como pensou o Dr. Kotik, em telepatia, entre razões pelo fato de que as experiências levadas a efeito pelo próprio Dr. Kotik, com o mesmo objetivo, estando pai e filha em quartos separados, não tiveram êxito nem com os olhos e ouvidos da menina livres. Se fosse telepatia e não simples cumberlandismo, o fenômeno ter-se-ia realizado igualmente à distância. Trata-se pois unicamente de transmissões de sinais inconscientes captados hiperestésicamente.
EXPERIÊNCIAS ESPECIAIS - Outras experiências de laboratório, que pela engenhosidade ou novidade do método devem ser citadas, são as do Dr. Abramowski em Varsóvia.
Pensava ele que se tratava de telepatia, o que achamos errado, dadas as circunstâncias das experiências. Excluindo o cumberlandismo ou condições aptas para a hiperestesia, as experiências fracassaram. "Dizia-se ao sujeito um certo número de palavras, três ou cinco, segundo as experiências. Eu escolhia uma dessas palavras como objeto da atividade telepática (?). Eu escolhia dentre elas a que eu pensaria intensamente. O sujeito deveria dizer qual era a palavra escolhida por mim". "Noutras experiências apresentava ao sujeito vinte palavras que ele lia uma só vez em voz alta. Após a leitura escrevia ele as palavras que tinha lido e retido na memória, esforçando-se mesmo para lembrar. Dentre as palavras esquecidas eu escolhia uma como objeto da transmissão". Nas experiências, Abramowski segurava a mão do sujeito. Com a mesma técnica realizou transmissões cumberlandísticas de desenhos ou de movimentos dos dedos. Sobre 324 experiências obteve êxito em 156, quase 50%. Inexplicável pelo simples acaso. Nem é preciso sempre que o operador faça esforço ou se tenha exercitado em captar os sinais inconscientes. Podem-se também captar inconscientemente, o que nos interessa especialmente do ponto de vista do cumberlandismo. O operador pode inclusive executar ações inconsciente e automaticamente. Diversos tipos de experiências têm-se feito. Talvez uma das mais fáceis de repetir seja a de fazer que uma pessoa, boa sensitiva, completamente distraída, falando de outras coisas que a absorvem, faça alguma ação que por cumberlandismo se lhe sugira. O sujeito da experimentação, tendo operado como um autômato, não saberá dizer, ao ser perguntado, nada do que realizou. Hipnotizado (ou por outras técnicas), porém, às vezes lembrará tudo o que se lhe fez realizar inconscientemente. Em quase todos os fenômenos parapsicológicos de conhecimento encontramos o que poderíamos chamar "mecanismo indireto", ou "em L", ou "a três", ou "por procuração": o adivinho capta no consulente o que o próprio consulente sabe, de ordinário só inconscientemente, à respeito de outra pessoa, ou de um objeto diferente do que se quer transmitir, mas com ele relacionado. Osip Feldman, por exemplo, chegou a tal perfeição no cumberlandismo consciente, que podia, inclusive em experiências públicas de Ilusionismo (sem truque), captar o pensamento de um espectador através de várias pessoas ignorantes do que se deveria adivinhar. Todas essas pessoas estavam unidas pelas mãos. Experiências deste tipo de cumberlandismo "em L" não são excessivamente raras entre os profissionais do palco. Deveriam, porém, ser mais repetidas em laboratório. A explicação é a seguinte: as pessoas interpostas captam só inconscientemente as idéias do pensante (inconscientemente todos somos hiperestésicos) e transmitem os sinais inconscientemente captados. Osip Feldman, no fim da "corrente", os interpreta e os faz conscientes. Feldman tem muita fama no mundo dos ilusionistas. Outro tipo de cumberlandismo "em L" ou "a três", é experimentado pelo Dr. Émile Boirac, com destaque entre outros pesquisadores. Uma histérica "lia", segurando uma mão de Boirac, um livro sobre o qual Boirac passava as pontas dos dedos. Hiperestesia direta (visão para-ótica, DOP - "dermo-optical perception") em Boirac e a histérica interpretava o que captava em Boirac por cumberlandismo sobre o pensamento inconsciente. A adivinhação do pensamento inconsciente excitado por outros tipos de hiperestesia direta tem sido amplamente comprovada. DIGRESSÕES PRÁTICAS - O cumberlandismo, como se vê, pode dar preciosas indicações aos médiuns espíritas (e superstições análogas), na hiper-sensibilidade do transe. A corrente ou cadeia que os espectadores formam em algumas sessões, pode ser o veículo pelo qual o interessado está manifestando ao inconsciente do médium (ou outro tipo de adivinho) as idéias a comunicar. Muitas revelações, das feitas por um hipnotizado, por exemplo, podem explicar-se perfeitamente por cumberlandismo (extranormal, sensorial), sem necessidade de recorrer a conhecimento paranormal (extrasensorial). Um dos primeiros passos que se costuma dar, para desenvolver a "lucidez" nos hipnotizados, é precisamente puro cumberlandismo. O hipnotizado, para diagnosticar uma doença, por exemplo, põe as mãos sobre a fronte do consulente ou, pegando entre as suas uma mão do paciente percorre lentamente os membros com possibilidade de estarem doentes. Por cumberlandismo pode um adivinho fazer observações sobre o estado fisiológico, caráter, tendências, passado clínico imediato... e inclusive futuro iminente, isto é, aquele cujas causas já estão agindo no organismo. Pelas causas antes indicadas, os manuais de hipnose previnem o hipnólogo principiante a não se fiar muito daquilo que o hipnotizado revele sobre a outra pessoa com a qual está em contato. Freqüentemente não dirá mais do que aquilo que esta mesma pessoa pensa de si própria, talvez erradamente. Pe. Oscar G. Quevedo S.J. |