Desenvolver Fenômenos? |
||
Desenvolvimento de Fenômenos Parapsicológicos: Dom ou Desequilíbrio?
Embora não seja possível apresentar aqui as provas e experiências que demonstram ser falsa a existência da mediunidade, devemos dizer que ela não existe. Não é o "santo" que baixa, nem o espírito que incorpora; não são os espíritos-guias que "encostam" ... Não se trata do espírito do morto, e sim do espírito do vivo. É a própria pessoa seu inconsciente, suas próprias faculdades. O chamado transe é um obscurecimento das faculdades conscientes; uma exaltação e manifestação de faculdades inconscientes, e pode apresentar toda uma gama de graus: desde a total inconsciência, na qual, depois, não se lembra absolutamente nada, até a total consciência, quando se lembra de tudo. O consciente ficou como testemunha, embora sem poder intervir. Muitas pessoas dizem que é preciso desenvolver a mediunidade e se não a desenvolver trará algum prejuízo. Faz-se necessário dizer que é falso afirmar que não desenvolver a mediunidade poderia causar-lhe algum prejuízo. Este seria, aliás, muito maior desenvolvendo, e atingiria não só a você, mas também outras pessoas, principalmente as que vivem ao seu lado. O verdadeiro desenvolvimento, o amadurecimento, o progresso e a atividade normal de uma pessoa devem efetuar-se na personalidade consciente. Não se trata pois se desenvolver o inconsciente: ele é desordenado e irresponsável. A atividade humana precisa ser mais consciente e controlada possível. Se facilitarmos a manifestação do inconsciente, talvez o consigam... Porém ele irá tomando cada vez mais a direção da "máquina humana". Na melhor das hipóteses, a frequente manifestação do inconsciente terminaria por tornar a vida impossível. Lembramos aqui uma dramática carta que escrevia uma ex-médium espírita que, mesmo tendo abandonado o espiritismo, não conseguia retomar as "rédeas" da sua personalidade: "Sinceramente, eu me sentia cansada de tudo. Os fenômenos aumentavam dia-a-dia. Ainda me sinto cansada. À medida que vou tendo conversas com uma pessoa ou travo um conhecimento maior, começo a ter intuições, sonhos ou visões. Para lhe ser sincera, ainda não consigo ter noites bem dormidas e tranqüilas; é como se eu não dormisse. Tenho as noites tão intensas quanto os dias, com pesadelos horríveis... Enfim, espero que no futuro isso venha a terminar ou quase terminar" . Só após quatro anos é que essa pessoa começou a sentir-se bem. E como este, conhecemos muitos outros casos igualmente dramáticos, curáveis somente com uma longa psicoterapia. Além disso, o inconsciente pode chegar a tomar por completo as "rédeas" da atividade humana. E o homem se tornará então um inconsciente... Perderá a autodeterminação consciente, passará a ser mero autômato, desequilibrado. Daí o manicômio... As profundezas do inconsciente são incontroláveis. Por isso, junto com o desmaio e as conversas inconscientes com quem está ao lado, paralela a qualquer outra manifestação inconsciente – psicológica ou parapsicológica – pode surgir também uma série de efeitos e tendências doentias. A interpretação espírita leva – como pela mão – a dupla personalidade ou, até mesmo, a loucura permanente. "O exercício das chamadas faculdades mediúnicas – escreve Dr. Leme Lopes – é o principal responsável pela transformação psicológica que prepara, facilita e faz explodir alguns quadros mentais de doenças graves. Em se tratando de pessoas com desajuste da afetividade – fronteiriços entre normalidade e doença psicológica – de pessoas com tendências a neurose e a diversas psicopatias, as sessões espíritas constituem "a oportunidade de desencadeamento de reações, que levam ao pleno terreno patológico". Não há por que frisar que as manifestações do inconsciente, em especial as parapsicológicas (telepatia, precognição, xenoglossia ou falar línguas, telecinésia ou movimento de objetos sem contato, etc.), forçam demais os nervos. É comum que as pessoas que manifestam esses fenômenos cheguem a violentas crises nervosas. Nossos nervos pobres e fracos mal agüentam a vida moderna cheia de barulhos, dificuldades econômicas, horários escravizantes, perigos... Diversas experiências tem demonstrado que os nervos se "queimam" com os fenômenos parapsicológicos. É como fazer passar, por uma lâmpada para duzentos volts, uma corrente de dois mil. Assim, é preciso tomar cuidado para não se deixar enganar por muitos que se apresentam como parapsicólogos até, mas não tem para isso suficiente estudo. Estes, muitas vezes, apresentam argumentos infundados que não podem convencer: "se Deus nos deu essas faculdades é para que as utilizemos" , ou então, "podemos" fazer bem aos outros" , etc. No estado atual da ciência, este tipo de argumento não pode ser válido. Deus permite também o câncer, a hanseníase e todas as outras doenças, no entanto, não nos cabem fomenta-las, e sim curá-las. O mesmo se diga dos fenômenos Parapsicológicos e outras manifestações do inconsciente, que são simplesmente, sintomas de desequilíbrio. Os fenômenos Parapsicológicos não são na verdade um dom, mas um defeito a ser corrigido. Muitos Parapsicólogos – os norte-americanos, principalmente – vinham realizando, em grande número, testes parapsicológicos. As experiências pareciam inofensivas: eram feitas sem transe, alegremente, com um jogo de baralho. A um determinado momento, foi Alen Cohen, de Berkeley University e os Drs. Alyce e Elmer Green, da Menninger Foundation, comprovaram, com uma infinidade de provas, que as experiências Parapsicológicas – mesmo os "brinquedos" com o Baralho Zener! – debilitam a saúde mental de quem a elas se submetem, pois exigem de seus cérebros esforços muito superiores a sua capacidade normal. Tentar desenvolver a manifestação do inconsciente (muitos usam o nome de mediunidade) pode prejudicar gravemente quem convive com o "médium". A pessoa com manifestações do inconsciente descontroladas criará, em sua casa, um ambiente insuportável. Não é nada fácil conviver com quem entra em transe, fala línguas estrangeiras que não aprendeu, troca de voz e de personalidade, mexe e golpeia objetos à distância, dá repentinos shows de crises nervosas... Além disso, outras pessoas propensas podem ser contagiadas. Nas casas popularmente chamadas "mal-assombradas", é comum constatar que, após algum tempo, outras pessoas unem-se à pessoa original na manifestação de fenômenos. Há perigo de reação em cadeia – verdadeiras epidemias psíquicas - , como tem acontecido muitas vezes ao longo da história. Temos, no Brasil tristes experiências a respeito. Milhões de pessoas acham-se guiadas e dominadas de "além túmulo". Evidentemente, isto não fomenta a responsabilidade pessoal e leva à alienação: "Despachos", "feitiços", "encostos", "Karma" e outras superstições, escravizam multidões incalculáveis. E o resultado é constatação de o Brasil ser o país de pior índice de saúde mental do mundo! Por todos esses motivos, o II Congresso Internacional de Ciências Psíquicas, celebrado em Varsóvia, em 1923, assinava o pedido de proibição de quanto facilitasse a propagação desses fenômenos. "O Congresso emite um voto para que todas as tentativas de produções mediúnicas (em público), assim como as demonstrações públicas dos fenômenos ditos ocultitas, sejam proibidas igualmente em todos os países, em virtude da influência nociva que podem exercer sobre o estado psíquico e nervoso das pessoas mais ou menos sensíveis que as presenciam". Lamentavelmente, este voto foi esquecido, se não boicotado, por interesses escusos; e até na televisão e nos cinemas se propaga o transe, a manifestação do inconsciente , inclusive defendendo as mais supersticiosas interpretações.
Pe. Oscar G. Quevedo, S.J. |