Dogma de Fé? Intervenção Demoníaca Nem teológica e nem cientificamente se poderá jamais demonstrar validamente uma possessão, uma intervenção ou um "milagre" do demônio. Tudo o que na ordem natural tem-se atribuído ao demônio (possessões, íncubos ou súcubus, aparições do demônio, casas ou lugares "mal-assombrados", feitiços, doenças, etc) tem explicação completamente natural e não se encaixam de maneira nenhuma numa ação demoníaca. Dogma de Fé Isto só indiretamente pertence à Parapsicologia. Mas a parapsicologia, para não ser manca, deve ter em conta outros ramos do saber, e concretamente, a Teologia. A existência (não a atuação) do demônio é tema exclusivamente teológico. A ciência não pode afirmar nem negar. E a Sagrada Escritura, à luz e acompanhada pela Tradição judaico-cristã, assim como pelo Magistério Eclesiástico, constitui uma base suficientemente firme para que o judeu, o cristão e o católico possam acreditar na existência (não a atuação) dos demônios. Mas não é lícito qualificar de herege a quem negue a existência dos demônios. Nem herege do judaísmo, nem herege do cristianismo e nem herege do catolicismo. Objetam que Cristo, nos Evangelhos e a Bíblia em geral falam muitas vezes dos demônios. É de fato, esse, o principal argumento em que se fundamenta a Teologia; e sem esta base, perderia muitíssimo do seu valor, a Tradição da existência do demônio. Mas será esta mesma a intenção de Cristo, afirmar a existência do demônio tal como a Tradição e o Magistério Eclesiástico o entendem? Os judeus e protestantes deixam muita liberdade na interpretação. Para os católicos, a interpretação autêntica (isto é, autorizada) da Bíblia pertence à Tradição. Ora, a Tradição para ser infalível (dogma) segundo os católicos, tem que ser clara, universal, entre todos os católicos (Igreja), constante e ininterrupta desde as origens do Cristianismo. Por sua vez, como porta-vozes e intérpretes autênticos dessa Tradição, estão os Concílios e o Magistério da Hierarquia Eclesiástica. Mas nem tudo quanto afirmam os Concílios ou os pronunciamentos da Hierarquia da Igreja é infalível. Para que um Concílio seja infalível deve ser ecumênico (da Igreja Universal com o Papa); deve pretender definir com toda sua autoridade recebida de Cristo e diretamente aquela proposição. O mesmo se dá com a suprema autoridade eclesiástica da Igreja, o papa ("ex-cátedra"). "De Fide" não significa que seja também "De Fide Definita" ou Dogma da Igreja, ou Dogma de Fé, ou simplesmente Dogma.
Isto suposto, o que eu sempre afirmei e afirmo é que não existe definição papal ex-cátedra ou de algum Concílio Ecumênico claramente pretendida e direta, a respeito da existência dos demônios (com respeito a possessões, intervenções, etc, certamente não há nenhum dogma). No Concílio Ecumênico Lateranense IV, do ano 1215, citam-se os demônios dentro do texto de uma definição dogmática.Não há certeza nenhuma de que se pretenda dar alguma definição sobre a existência dos demônios. No texto Conciliar ("Os diabos foram criados por Deus bons por natureza; eles, porém, fizeram-se maus pelo pecado") é realmente muito mais provável que se pretendesse condenar a teoria de que Deus fosse responsável pela criação de seres maus por natureza, como alguns pretendiam acerca dos demônios: tudo o que Deus criou é bom; se alguém se torna mau é tão somente pelo uso indevido de sua liberdade.
Afirmar que com esse texto clara e diretamente se pretenda definir a existência do demônio, é no mínimo, discutível. Portanto não é certo qualificar de herege a quem negar a existência dos demônios. Grandes teólogos negaram a possibilidade da possessão demoníaca. E o exorcismo não é uma lei disciplinar universal da Igreja. A bula que o proclamou tem apenas um sentido de exortação e não o obriga dogmaticamente em termos de fé, nem sequer como ordem disciplinar universal. Ela foi publicada no tempo das bruxarias e das superstições, quando a ciência não tinha condições de interpretar fatos de fundo parapsicológico e os atribuia ao diabo. A possessão de uma pessoa pelo demônio é filosoficamente e psicológicamente impossível. É impossível que o corpo seja animado por outro espírito que não seja a alma. Mesmo o diabo existindo é heresia acreditar que ele possa fazer milagres. Todos os teólogos afirmam que o milagre é exclusivo de Deus: Não se pode deturpar Sua "assinatura". A Bíblia também afirma que ninguém pode ser tentado acima de suas forças. Nunca vi uma pessoa emocionalmente equilibrada ficar possuída pelo "demônio". Só os histéricos, epilépticos e outros doentes acreditam estar possuídos. As mulheres parecem acreditar mais que os homens e a puberdade é a idade mais vulnerável a essas ilusões. Trata-se sempre de distúrbios psicofisiológicos. É a ciência e não a Igreja que cabe dizer se um fato pertence ou não aos fenômenos naturais deste mundo. Oscar G. Quevedo S.J. |