CONTRADIÇÕES NOS EVANGELHOS?


   Os não especialistas, mas com intenção anti-religiosa!, têm feito muitíssima confusão alegando que há muitas contradições nos Evangelhos:


* Quando se referem a Herodes ignoram que houve três personagens, naquela época, com aquele nome: Herodes Magno, rei da Judéia, ao que alude Lc 1,5; seu
filho Herodes Antipas e Tetrarca da Galiléia e da Peréia, ao que alude Lc 3,1; Lc 3,31; Lc 9, 7-9 e Lc 23,8; e por fim Herodes Agripa ao que se alude nos "Atos dos Apóstolos", escrito também por São Lucas, At 12,1-23.


* E sobre o recenseamento universal de Augusto, Imperador romano de 30 a.C. a 14 d.C.: houve vários recenseamentos em vistas aos impostos em todo o Império. O historiador judeu Flavio Josefo fala de recenseamento universal no ano 6 d.C. Outro recenseamento universal ocorreu nos anos 8-6 a.C., que foi organizado na Palestina por Quirino, governador da Síria certamente entre 4 a 1 a.C. Portanto a expressão de Lucas pode designar Quirino pelo cargo que pouco depois ocuparia, pois Jesus Cristo certamente nasceu antes do governo de Quirino, ou então só pretendeu dar uma data aproximada.


  É claro, e nada importa, que os Evangelhos podem transmitir mínimos erros em questões científicas. A Bíblia não é um tratado de Ciência, senão de Religião. Não lhe corresponde transmitir nem corrigir temas da Ciência.

    Usa a cultura ou incultura da época como instrumento de linguagem para transmitir Religião. Parecem subsistir ainda dificuldades em alguns pequenos detalhes para conciliar a narração evangélica e a história profana, que nada tenha a ver com a historia religiosa:
* Pequena confusão em Marcos 2,26 de escrever Aviatar em vez de Aquimelek.
* E outro erro em Mateus 23,35: escreve Baraquias em lugar de Joiada.
* E o próprio Jesus não julgou conveniente fazer intervir a sabedoria divina e repete (Mc 12,36;Mt 22,43;Lc 20,42) a opinião errada da época a respeito de que Daví seria o autor do Salmo 110.

    E essas diferenças, se é que se confirmarem, têm alguma importância para a missão de Cristo e dos Evangelistas?


   E digo "se é que se confirmarem", porque em muitos ataques contra a veracidade de diversos episódios da Bíblia em geral e dos Evangelhos em particular, se confirmou depois pela pesquisa científica que eram verdadeiros, como veremos em seguida e em próximos diálogos.

   E não só por isso, também porque cabem explicações lógicas, quando se usa um mínimo de reflexão isenta, um pouco de bom senso, em vez de essa doentia animadversão contra a Bíblia que freqüentemente demonstram os que a atacam:


* Mateus 1,16 diz que "Jacó gerou José, o esposo de Maria". Mas segundo Lucas 3,23 São José era filho de Eli.
- O impasse vem arejado desde o século III... E já havia sido resolvido então!, destacadamente por Júlio Africano: Jacó e Eli eram irmãos. Elí morreu sem filhos. De acordo com a lei judaica dos levitas (Dt 25,5s) Jacó desposou a viuva para dar descendência ao seu irmão morto. Assim, São José, de fato é filho de Eli segundo a natureza, mas filho de Jacó segundo a genealogia jurídica.


* A respeito de São Pedro, quando negou a Jesus, João 18,16 diz que estava no interior da casa. Mateus 26,69 diz que estava fora.
- Muito bem: não estava nas habitações, no interior. Estava no pátio, fora, inclusive onde havia empregados se aquecendo e onde Jesus, ao sair das habitações, voltando-se o viu...


* Quando as santas mulheres foram ao sepulcro de Cristo, João 20,1 diz que era ainda noite. Marcos 16,2 afirma que já havia saído o sol .
- Muito bem: Noite quando saíram de casa; amanhecido quando chegaram ao sepulcro.


* "Saindo do Templo, Jesus (...) disse-lhes: 'Estais vendo tudo isto? Em verdade vos digo: não ficará aqui pedra sobre pedra que não seja demolida´. Estando Ele sentado no monte das Oliveiras, os discípulos se aproximaram Dele, a sós, dizendo: 'Diz-nos quando vai ser isso, e qual o sinal da Tua vinda e da consumação dos tempos" (...). "Quando virdes a abominação da desolação, de que fala o profeta Daniel, instalada no lugar santo, então os que estiverem na Judéia fujam para os montes (...) e aquele que estiver no campo não volte atrás para apanhar sua veste! Ai daquelas que estiverem grávidas (...) naqueles dias! Pedi para que a vossa fuga não aconteça no inverno ou num Sábado (...) Em verdade vos digo que esta geração não passará sem que tudo isso aconteça" (Mt 24, 1-3,15-20,34).
- Este texto muito comprido, todo o capítulo 24, com 51 versículos, do qual só tenho copiado umas breves frases, prestou-se a muitas calunias: "Não passará esta geração antes da vinda de Cristo! Errou". "Não passará esta geração, antes do fim do mundo! Errou".
- Mas basta um breve exame isento de preconceitos, basta um mínimo de bom senso para entender tudo perfeitamente. Na realidade os discípulos perguntaram conjuntamente sobre três coisas: 1) quando seria a destruição do templo ("quando vai ser isso"), 2) "qual vai ser o sinal da Tua vinda", 3) e "da consumação dos tempos". A resposta transmitida por São Mateus é muito ampla. Sem dúvidas que na exposição Jesus diferenciou o referente a cada uma
das três coisas. E é impossível aplicar a descrição que dá de cada uma a qualquer das outras duas. Seria absurdo aplicar ao fim do mundo a fuga aos montes, etc. E com toda evidencia a frase "não passará esta geração" refere-se à destruição do templo e de Jerusalém. E, com efeito, precisamente 40 anos depois deste anuncio por Jesus, no ano 70 os exércitos de Tito, futuro Imperado de Roma, arrasaram o templo e Jerusalém. Modernamente se considera uma geração o período de 60 anos, mas deve-se considerar que então para os judeus, e antes na época da Bíblia, uma geração era considerada precisamente 40 anos.


Pe. Oscar G. Quevedo S.J.

Voltar