Faquirismo

      Falar em faquirismo é lembrar fenômenos mirabolantes, normalmente impossíveis e milagrosos. Tal a associação popular ao mencionar este tema.

      Charles Godard assim se exprime: "Os faquires, segundo se diz, possuem apesar de sua condição humilde, o poder de secar os rios e os mares, de abater as montanhas, dominar o fogo, as chuvas e as tempestades; de conhecerem o passado, o presente e o futuro e de encerrarem num círculo mágico todos os espíritos maus do universo.

      É claro que tudo isto e muito mais que se refere dos faquires, se nos afigura, com toda razão, como fantástico. Não obstante, é forçoso reconhecer que em alguns casos pode haver fenomenos parapsicológicos. O erro está em generalizar...

     A força motriz dos faquires é uma vontade fanática de inspiração religiosa. A isto unem os truques e um enorme poder de sugestão e hipnotismo sobre os espectadores. Essa magia constitui eficiente propaganda para o seu culto. No fundo também descobrimos um doentio exibicionismo e autopromoção diante do público, como inconsciente compensação pelas torturas que masoquisticamente se inflingem.

      Um especialista (Louis Jacolliot) em problemas relativos aos faquires escreve: "Alguns desses fanáticos passam a vida presos dentro de uma jaula de ferro; outros vivem cobertos de pesadas correntes; alguns fecham as mãos para nunca mais abrí-las, de maneira que as unhas crescem, surgindo no dorso, depois de atravessarem as carnes. Uns levantam os braços para cima, seguram-se no galho de uma árvore, e assim permanecem até que os braços fiquem duros, secos, como dois pedaços de pau; outros fixam uma longa e pesada corrente nas partes pudentas e com ela caminham pelas ruas. Há os que se conservam de pé sobre uma só perna durante o dia inteiro, encostando-se à noite contra uma corda esticada, assim como aqueles que viram a cabeça para um lado e se conservam assim até que o pescoço fique duro, imobilizado nessa posição.

      São verdadeiras penitências a que eles se submetem por um falso ascetismo.

      Pequena amostra dos supostos fenômenos: Eis alguns dos principais fenomenos observados por Jacolliot com um determinado faquir de nome Convindasamy, e que podem ser agrupados em sete categorias: 1) levitações; 2)Transportes 3) Aderências ao solo; 4) Mediunidade musical 5) Escrita mediúnica; 6) Vegetação(cresciemnto) acelarada e 7) Materializações.

      Com referência a levitações, é o próprio Jacolliot que narra: "Pegando um bastão que eu trouxera do Ceilão, o faquir apoiou a mão direita sobre um ponto do corpo e pronunciados alguns conjuros "mágicos" se elevou a dois pés do solo, com as pernas cruzadas à moda oriental, em posição muito similar às das estátuas de Buda. O fenômeno durou vinte minutos".

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Truque da levitação- A impressão é que o faquir está no ar, mas há suportes camuflados entre os véus  

      E assim narra diversos casos por ele presenciados, tais como a aderência ao solo, de uma harmonica que toca espontaneamente, o fenômeno da escrita direta, um caso interessante de aceleramento do crescimento da semente de um mamoeiro, de um sepultamento e pseudo revitalização.

      César Lombroso refere o seguinte caso de sepultamento, que aqui incluo por ser um "fenômeno" muito comentado. "O faquir declarou estar pronto para sofrer a prova. O marajá, o chefe "sike" e o General Ventura reuniram-se junto de um túmulo de tijolos, expressamente construído. Sob suas vistas, o faquir tapou com cera todos os orifícios do corpo que pudessem dar entrada ao ar, exceto a boca. Foi envolto num saco de pano, e segundo seu desejo, se lhe revirou a língua para trás, de modo a tapar-lhe a garaganta. Rapidamente caiu em estado de letargia. O saco continha o corpo bem fechado, e o marajá pôs seu selo. Colocou-se depois o saco numa caixa de madeira, fechada a chave e selada, que foi introduzida na tumba, pondo-se-lhe em cima terra socada, na qual semeou cevada, e por fim, mandou sentinelas com ordem de vigiar dia e noite...

      Decorridos dez meses, fez-se a exumação O General Ventura, o Capitão Wade e outros vieram abrir os cadeados, romper os selos e retirar a caixa do sepulcro e destapar o corpo do faquir. Nenhum batimento no coração, nem no pulso, indicava presença de vida. Uma pessoa introduziu o dedo na boca do desenterrado e restabeleceu a posição normal da língua. Unicamente na parte superior da cabeça permanecia um calor sensível. Derramando-se com lentidão água quente na cabeça dele, obteve-se, pouco a pouco, algum sinal de vida. Ao termo de duas horas de cuidados, o faquir se ergueu e começou a andar.

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Truque do faquir sendo enterrado, porém com um túnel de saída

Truques do faquirismo-

      O Pe. Carlos Heredia atribui toda fenomenologia faquírica a truques e fraudes. Num capítulo em seu livro "As fraudes espíritas e os fenômenos metapsíquicos", onde fala do "poder" ouscópico dos faquires, ele revela todo segredo do sepultamento vivo e outros truques que tanta admiração causam.

      O professor Baldwin era um prestidigitador (mágico) americano que foi à Índia com o intuito de estudar os famosos fenômenos produzidos pelos faquires, e ver, se na realidade eram extraordinários ou apenas ardis. Aos poucos foi ganhando a confiança de vários grupos de faquires aos quais impressionava com suas mágicas "incompreensíveis para eles". A troco de ensinar-lhes algumas destas, mas principalmente dando uma boa quantidade de rúpias, conseguiu Mr. Baldwin ir descobrindo um a um os ardis de que os faquires se valiam para efetuar seus "extraordinários fenômenos"; e de volta aos Estados Unidos, publicou em 1885 um livro chamado "The Secrets of Mahatma Land Explained" (Os segredos da terra dos Mahatmas explicados). Nele conta e explica o cresciemnto das plantas em poucas horas, e tantos outros fenômenos que na Europa e na América, tanto deram que pensar.

      Paul Brunton, no seu livro "A search in Secret India", conta-nos que os faquires são numerosos, formando uma multidão obscura de acrobatas espirituais, contorcionistas, ilusionistas, prestidigitadores, profetas desequilibrados, que se servem de toda sorte de truques, circulando no meio de um povo de credulidade exagerada e cuja falta de espírito crítico ultrapassa todos os limites do imaginável. Mas fora disso, afirma que lá também se observam fenômenos parapsicológicos.

      Isso é evidente, pois entre tantos, haverá sempre algum dotado de faculdades parapsicológicas.

      A descrição dos faquires é triste, quase repugnante, pela pobreza e imundície em que vivem, sendo mantidos à custa de esmolas, que pela sua tradição religiosa, possuem a virtude de abrir as portas do céu.

      Só mesmo quem acredite ingenuamente nas "maravilhas" dos faquires, lamas e derviches da Índia, pode afirmar que eles possuem segredos que a ciência está longe de suspeitar

Edvino A. Friderichs S.J

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