IMPRESSÕES MILAGROSAS |
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O milagre, para fins de pesquisa, pode ser descrito como "um fato perceptível, no nosso mundo, por força não de nosso mundo". A pesquisa posterior demonstrou que milagres, corretamente diagnosticados, só há em ambiente judaico antigo, depois só cristão e depois exclusivamente em ambiente católico. Conclusão fecunda, até estarrecedora, tema fascinante que deverá ocupar-nos em muitos artigos... *** Segundo uma tradição milenar, Cristo deixou impressas as marcas dos seus pés gloriosos, de luz, sobre a rocha donde se elevou na Ascensão. Lado de Jerusalém. No monte das Oliveiras. Ainda hoje são mostradas essas marcas ao público. && Nada menos que os bolandistas -as maiores autoridades na pesquisa histórica dos verdadeiros ou falsos milagres- aceitam o fato como certo historicamente. "Os discípulos imitam seu Mestre" -- O historiador D. Piolin, na sua monumental e bem-documentada história, prova que não parece discutível um fato semelhante: *** São Julião, evangelizador na França, no inicio do século II, deixou as marcas dos seus pés sobre a rocha, em Maus, na Campanha, como milagrosa profecia de que toda França seria católica. *** Quatro séculos depois, a meados do século VI, outro discípulo imitou o milagre do seu Mestre, embora em circunstâncias muito diversas: *** Os agricultores de Picardy recorreram a S. Medardo para dirimir suas disputas sobre os limites das suas terras. S. Medardo julgou a causa, e fez colocar uma enorme pedra marcando a divisa das terras das duas cidades em disputa. Para dar maior autoridade. S. Medardo deixou milagrosamente impressas as marcas do seus pés sobre a pedra divisória, na qual subira para proclamar sua decisão. && Os bolandistas garantem a veracidade histórica dos dois milagres citados. *** No cárcere Mamertino, em Roma, no ponto onde atualmente se desce para o Tulliano, vêem-se sobre a parede de pedra as marcas de um rosto. Diz a tradição ser o rosto de S. Pedro, que miraculosamente tê-lo-ia deixado impresso quando foi atirado contra aquele ponto por um algoz. && Não há base sólida para avalizar tal tradição popular. *** A tradição popular também afirma que Sto. Antônio de Pádua (ou de Lisboa) teria impresso uma cruz sobre o mármore de um dos degraus do coro da catedral de Lisboa. && De que Sto. Antônio milagrosamente gravou uma cruz no mármore da catedral, há documentos de valor, como os recolhidos pelos hagiógrafos Azevedo e Gugaral. E só. Tudo o mais dessa tradição é duvidoso ou rejeitável. *** Outro hagiógrafo, cognominado simplesmente de "Cônego Regular", recolheu documentos que falam não de uma, mas de cinco cruzes no mármore ou na pedra, Sto. Antônio as teria impresso quando criança, apenas com passar o dedo. && Inflação de moldagens. Claramente indício de lenda popular. E claramente falso o fundamento para a impressão das cruzes: Sto. Antônio as teria feito para afugentar o diabo, que lhe aparecia em forma de cachorro! && Absolutamente inadmissível que Deus fizesse milagres em confirmação de uma interpretação falsa. Estão certos os bolandistas quando negam também tais aparições demoníacas. Os bolandistas, porém, consideram plenamente inegável a impressão deixada por São Bont -ou Bonet -bispo de Clermont: *** Na vigília da Festa da Assunção de Nossa Senhora, São Bonet decidiu passar toda a noite em oração na Igreja de São Miguel. O santo, sentindo que perdia as forças pela emoção da celebração da Santa Missa apoiou-se numa das colunas da Igreja. Como a pedra se convertesse imediatamente como em plástico mole, lá ficou para sempre incrustada na pedra, quando de novo dura, a silhueta completa de São Bont. Do dia seguinte em diante, durante muitíssimos anos, multidões visitaram as marcas milagrosas. Há outros muitos casos. && Alguns, ou muitos, podem ser milagres; outros certamente são lendas construídas precisamente com base nos milagres autênticos. De alguns casos a discussão continua: *** *Como no caso da fenda na rocha que haveria feito S. João de Berveley a golpe de espada sobre a rocha de basalto perante o rei Eduardo I, em Scotch, para provar que a Escócia sempre estaria sob a coroa da Inglaterra. && Seria muito interessante a verificação histórica e a análise científica do conhecidíssimo caso, no Brasil, *** das marcas sobre a pedra da entrada da Basílica de N. Sra. Aparecida. O cavalo do fazendeiro estancou sobre a pedra, grudou nela como se a pedra fosse de cola líquida. Quando o fazendeiro desistiu de perseguir o escravo que acudira ao refúgio da Padroeira do Brasil, a pedra soltou o cavalo e as marcas dos seus cascos ficaram até hoje como lembrança do milagre. && Em todo caso, todos estes fatos citados, milagres, possíveis milagres e lendas são impressões de ou em relação a vivos, e por poder divino. No fundo, constituem assinatura divina na doutrina católica e "Palavra de Iahweh" no tema das impressões, contra a absurda interpretação espirita de assombração e identificação de "espíritos" e também contra a doutrina atribuída aos espíritos. Pe. Oscar G. Quevedo S.J. |