MILAGRE OU DIVINA PROVIDENCIA ? |
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O VERDADEIRO SENTIDO DE "PROVIDÊNCIA" - 1) Muito acertadamente já o grande pensador Aristóteles (384-322 a.C.) mostrava que entre acontecimentos que podem parecer fortuitos, alguns são mais maravilhosos precisamente porque, embora naturais, parecem dirigidos por uma intenção não natural. Apresenta o exemplo da estátua de Mitio:Um tal Mitio morrera assassinado. Quando o assassino contemplava a reprodução da sua vítima, a estatua caiu violentamente sobre ele, matando-o.-- Dificilmente poderia aceitar-se que fosse pura casualidade... Para qualquer desconhecedor de parapsicologia e naquela época, as circunstâncias pareceriam (claro que meramente pareceriam) advogar para uma interpretação providencial: "justiça dos deuses", diziam os contemporâneos de Mitio.-- Certamente, como a parapsicologia prova e veremos em outras séries de artigos, não se deveu tal prodígio, nem nenhum outro, à ação do morto. Para qualquer conhecedor de parapsicologia, tal fenômeno certamente é natural: hoje se explica por uma notável telecinesia provocada pelo estado fortemente emocional do próprio antigo assassino e agora vítima. Possivelmente com reforço telérgico de algumas testemunhas...2) Muito bem -como não poderia deixar de ser de tal escritor!-, Bento XIV descreve o que se entende por especialmente providencial: "Algum fato que não excede as forças da natureza nem no referente ao fato como tal, nem no referente a em quem se faz, nem com referência ao modo ou ordem com que se faz; mas pelas circunstâncias claramente se deduz que o fato (...) deve ser atribuído a Deus como especial autor, que por Si mesmo dispôs o acontecimento e deliberadamente o quis".UM CASO BÍBLICO - E o sábio papa, o melhor parapsicólogo de todos os tempos, um milagre de ciência infusa, escolhe um exemplo:"Moisés disse ao faraó: 'Digna-te dizer-me quando deverei rogar por ti (...) para que as rãs sejam arrancadas de ti e das tuas casas, e fiquem somente no rio'. Ele respondeu: 'Amanhã'. E Moisés disse: 'Seja conforme a tua palavra, para que saibas que não há ninguém como Iahweh, o nosso Deus' (...) E Iahweh fez conforme a palavra de Moisés: e morreram as rãs das casas, dos pátios e dos campos. E juntaram-nas em montes imensos" (Ex 8,4-10).Comenta Bento XIV: A praga das rãs, como a peste que acabou com elas "não supera de nenhuma maneira as forças da natureza. (Mas Moisés) confiava que se (o faraó) visse (as rãs) desaparecidas na hora prescrita, compreenderia que tinham sido lançadas por Deus como praga e castigo, e depois expulsas pela misericórdia de Deus" com a peste também na hora pre-determinada. OUTRO CASO BÍBLICO -- E Santo Tomás alude a outra passagem, entre tantas também como exemplo de fatos especialmente providenciais, "precisamente porque acontecem na hora exata da invocação do nome de Deus, como é o caso da mão de Jerobão": Quando o rei Jerobão estava para oferecer incenso ao ídolo e estendia a mão mandando prender o homem de Deus que o incriminava, clamou o profeta a Iahweh, e nessa hora determinada a mão de Jerobão ficou seca (1Rs 13,1-6). -- As circunstâncias mostram que pode ser perfeitamente natural o fato de que uma mão fique paralisada por exemplo por uma somatização de origem psicológica. Basta esta interpretação. "O que se pode explicar por menos, não se deve explicar por mais". - *** Casos como estes, explicáveis naturalmente, são os únicos que os teólogos "modernizados" admitem. E geralmente marginalizando o aspecto de especialmente providenciais. - -- E no exclusivismo está o gravíssimo erro. Na realidade, com razão os fatos especialmente providências são assimilados aos milagres, porque embora possam realizar-se por força da natureza, podem acontecer conjuntamente por poder divino. Corresponde ao cientista apresentar as diferenças, as causas porque tais casos às vezes podem ser simplesmente naturais (dentro da divina providência ordinária), e outras vezes claramente especialmente providencias. NOMENCLATURA BÍBLICA - Os teólogos "modernizados" na sua característica desorientação no campo da ciência de observação, na deturpação do conceito e na negação do milagre, freqüentemente pretendem se basear nos termos usados pela Bíblia. Uma palavra que signifique com alguma exatidão o conceito de milagre não existe nem em hebraico nem em grego, as línguas em que foi escrita a Bíblia. Em vez de um termo exato correspondente à tradução milagre, a Bíblia usa numerosos outros termos. Comecemos pelo Antigo Testamento. Freqüentemente os milagres são chamados térata (teras no singular) = prodígios, para destacar a grandeza da intervenção divina. Teras é termo tirado do paganismo grego que assim denominava os prodígios atribuídos aos deuses. Equivalente é o termo megaléia = grandes realizações. O termo taumásia destaca a admiração que despertam. Com parecido significado às vezes é usado também o termo paradoxa, isto é, fatos inesperados, surpreendentes, que pareceriam inadmissíveis... precisamente por serem térata, megaléia e taumásia. Devemos destacar que inclusive a palavra seméion = sinal, é empregada no paganismo grego (e romano...) para designar (se fossem reais!) os mais estupendos milagres nas suas lendas. *** Por exemplo o padre jesuíta Léon Dufour (excelente no campo da teologia pura, mas péssimo no campo científico ou parapsicológico), representando a mentalidade de todos os teólogos "modernizados", pareceria que está à altura, ou como dizem eles, "permanece fiel, ao o homem arcaico". Assim na época de Moisés, insistem, "o milagre, enquanto fato, pode ser atribuído às causas naturais tão perfeitamente como a Deus mesmo". -- Mas os exegetas "modernizados" ridiculamente estão hoje muito por baixo daquela que chamam humanidade arcaica, porque naquela época sabiam muito bem distinguir entre plenamente natural (ou providencia ordinária, diríamos hoje) e especialmente providencial e verdadeiro milagre. Perante os fatos realizados por Moisés, os magos do faraó souberam exclamar: "O dedo de Deus está aqui". Não é verdade que no Antigo Testamento, "o homem arcaico" fosse unilateralista, parcial, tão atrasado (ou com tanta lavagem cerebral) como os mestres da teologia "modernizada". Passemos ao Novo Testamento. Freqüentemente os milagres são chamados dínameis (dínamis no singular), para destacar o trabalho poderoso, o poder inigualável da manifestação divina. Esse mesmo aspecto é muito expressivamente destacado pelo termo, também usado com alguma freqüência, adínata, isto é, obras impossíveis ao homem, e por isso propriamente divinas, porque Deus tudo pode fazer. São João emprega simplesmente erga (ergon no singular) ao referir-se às obras ou trabalhos do Pai e de Jesus. Mas os leitores da época conheciam o sentido sobrenatural (supra-normal) das obras de Deus, são obras de poder. Eles sabiam, por exemplo, que no Gênesis se enumera entre os grandes feitos ou realizações de Deus o grande feito, por excelência, da criação (Gn 2,2); e que no Éxodo e nos Salmos chamam-se erga os grandes feitos de Deus em favor de seu povo (Ex 34,10; Sl 66,5;77,12). Erga era mais um termo empregado no paganismo grego para designar os mitos que eles atribuíam à intervenção dos deuses. É muito eloqüente que dínamis e taumásia apareçam freqüentemente associados. Como também há que notar que o termo dínamis apareça outras vezes em paralelo com o termo hebraico pel'e, procedente da raiz pl' ou plh = ultrapassar, colocar à parte, estar além de tudo o que se possa fazer ou mesmo compreender: taumásia. CONCEITO BÍBLICO - Os teólogos "modernizados" chegam nas suas confusões preconceituosas a afirmar inclusive que não é bíblico o próprio conceito de milagre: *** A Bíblia, dizem, não distingue natural e sobrenatural. - Caíram num espantoso exclusivismo: É sabido que na Bíblia, sim, digamos com eles, "tudo o que acontece no campo do que nós chamamos natureza, é o trabalho de Deus mesmo. Mas nestas operações Sua mão é invisível (...) (Outras vezes) vê-se Sua mão mais diretamente nas ocorrências extraordinárias e terrificantes, como o relâmpago e o trovão. Estes são atos do poder de Deus, nos quais o homem tem uma mais imediata experiência de Sua mão". "Convém destacar desde logo (continuamos usando as palavras deles) que, sendo usual da linguagem bíblica atribuir diretamente ao próprio Deus o que é efeito de causas criadas, naturais, quer se trate de fenômenos físicos quer de livres ações humanas, seria simplista ver um milagre verdadeiro e completo em tudo o que a Escritura apresenta como operado por Deus". Concedemos também que nem sempre interessa à Bíblia, do Velho Testamento especialmente, dado o grande ênfase com que se destaca a ação de Deus, distinguir entre divina providência ordinária, divina providência especial, e interferência por milagre. Invertendo o ponto de vista podemos dizer paradoxalmente que "para o homem bíblico o milagre forma parte integrante da natureza das coisas". como afirmam. É verdade. O erro está no exclusivismo: 1) Porque também é verdade que a Bíblia, junto à "mão de Deus" agindo ordinariamente como também "terrivelmente" pela natureza ou "pelas causas criadas", apresenta também uma ação especial de Deus, ação que considera privilégio concedido aos profetas enviados por Deus: * "Iahweh disse a Moisés: 'Eis que te fiz como um deus, e Aarão, teu irmão será o teu profeta'" (Ex 7,1s). * "E eles saíam a pregar por toda parte, agindo com eles o Senhor, e confirmando a Palavra por meio dos sinais que a acompanhavam" (Mc 16,20). * "Paulo e Barnabé prolongaram sua permanência por muito tempo, cheios de confiança no Senhor, que atestava a pregação (...) operando sinais e prodígios pelas mãos deles" (At 14,3). Poderíamos acrescentar textos em grande quantidade. 2) Um passo a mais: certos fenômenos que hoje discutiríamos e mesmo quando os qualificássemos como extra-normais (EN) e para-normais (PN) em parapsicologia, a Bíblia apresenta-os como especialmente providenciais. Tal poderia ser todo o conjunto das pragas do Egito: * "Se Faraó vos dizer: 'apresentai um prodígio em vosso favor', então dirás a Aarão: "Toma a tua vara e lança-a diante de Faraó; e ela se transformará em cobra'" (Ex 7,1s; 8s). * "Disse Iahweh a Moisés: (...) 'Toma a tua vara e estende a tua mão sobre as águas dos egípcios, sobre os seus rios, sobre os canais, sobre as suas lagoas e sobre todos os seus reservatórios, para que se convertam em sangue. Haja sangue em toda a terra do Egito, até nas árvores e nas pedras'" (Ex 7,19). Também aqui, no conceito de "especialmente providencial", poderíamos acrescentar numerosos textos 3) E o conceito de Divina Providência (ordinária ou mesmo "terrificante", privilegiada e especial) não exclui o conceito, também bíblico, de verdadeiro milagre. É até ridículo que os teólogos "modernizados" esqueçam que o Antigo Testamento destaca que na natureza, correndo seu curso ordinário, de tempo em tempo intervém bem especificamente o Onipotente. Ë até ridículo que não vejam que a Bíblia destaca essas Intervenções extraordinárias, inusitadas, inesperadas: "Isto é o dedo de Deus" (Ex 8,15), tiveram de reconhecer os magos do faraó já no início da progressiva manifestação de Iahweh. Embora todos os acontecimentos, ordinários e extraordinários, sejam apresentados como obra de Deus (Sl 77,12; 86,8); não obstante, também quase habitualmente e especialmente no Êxodo, na literatura sapiencial e nos Salmos, destacam-se os verdadeiros milagres, as maiores e as mais assombrosas realizações de Deus a favor do seu povo. Sem os preconceitos ou lavagem cerebral hoje tão difundidos, Robinson com ótima exegese e partindo do estudo da realidade mostra que no Antigo Testamento natureza, especialmente providencial e milagre são considerados aspectos diferentes da atividade de Deus. E que os milagres são considerados manifestações de Deus bem mais destacadas, muito superiores, aos fenômenos da natureza. *** Insistem com seu errado exclusivismo os teólogos "modernizados" capitaneados talvez pelo teólogo holandês Adrianus de Groot: "Para entender o que seja o 'milagre' na Bíblia, temos de prescindir desta nossa concepção de milagre (...) A Bíblia nunca põe em luz o milagre em relação com a natureza, mas em relação com Deus. Para a Bíblia o milagre representa uma experiência da ação de Deus nos acontecimentos". -- Respondo: É verdade que a Bíblia, mais freqüentemente e como seria de esperar precisamente por tratar-se da Bíblia, apresenta o milagre do ângulo de Deus. E a ciência atual, também como é de esperar dela, considera o milagre mais freqüentemente do ângulo da natureza. É até ridículo que os teólogos "modernizados" não percebam que isso é absolutamente lógico. - Mas desse detalhe absolutamente normal não se pode objetar que Bíblia e ciência tenham conceitos diferentes de milagre! Quando se trata de verdadeiro milagre (e especialmente providencial), para a Bíblia como para a ciência trata-se absolutamente do mesmo acontecimento supra-normal, sobrenatural. Idêntico, simplesmente com ênfase em dois aspectos diferentes, mas de nenhum modo exclusivos: acontecimento sobrenatural por ação direta de Deus (na ênfase bíblica) e acontecimentos supra-normal por não dever-se as forças da natureza.(na ênfase das ciências de observação ou parapsicologia). São a mesma realidade. - Além do mais, apesar do enfoque habitual que interessa ao Antigo Testamento, por vezes expressamente se distingue Divina Providência e verdadeiro milagre. Nos conceitos, claro está que não com essas palavras de hoje. Por influência do helenizo, sim, mas se contrapõe o que a natureza pode e o que não pode, exigindo portanto neste caso a explicação por ação direta de Deus. E os rabinos, como os judeus em geral, conheciam muito bem as expressões bíblicas.
ENUMERAÇÃO BÍBLICA - "O mais surpreendente: na água, que tudo apaga, o fogo ardia mais ainda (...) Ora a chama se abrandava para não queimar (...), para que vendo-os compreendessem que o juízo de Deus os perseguia; ora, mesmo no seio da água, ardia mais forte que o fogo (...) Neve e gelo resistiam ao fogo sem derreter-se: soube-se assim que o fogo, ardendo no meio do granizo e lampejando nos aguaceiros (...), mas o mesmo, noutra ocasião, esqueceu-se da sua própria força (...) Viu-se (...) a terra emergir enxuta onde era água (...); do mar subiram codornizes" (Sb 16,18-24; 19,7-12). Muitos milagres incluem-se nesta breve classificação bíblica. E há outras muitas classes de milagres. Em outros artigos vimos várias dessas classes de fenômenos realmente supranormais: sinos que badalam sozinhos ou que, pelo contrário, resistem a soar; transformação de diversas substâncias em alimentos; cegos que vêem sem que fisiologicamente pudessem ver... E dentro da classificação pirovásia, várias modalidades: arder sem consumir; o fogo atinge o objeto sem danificá-lo; apagar instantaneamente o fogo, invulnerabilidade especificamente em incêndio ou fornalha, etc. O
que viso no parágrafo anterior é que o leitor vá tomando consciência
de que... há muitos fatos que exigem ser estudados porque oferecem a evidência
de serem realmente supranormais (SN). Em todas as classificações de fenômenos
e nas diversas modalidades dentro de cada classificação. Em cada fenômeno
extra-normal (EN) e para-normal (PN), há também a dimensão supra-normal
(SN). Muitos e muitos milagres. Um tesouro incalculável, que há que
estudar e "contabilizar". A ciência, a parapsicologia, deve
analisá-lo. Há que abrir esse tesouro para que brilhe em toda sua real
intensidade, precisamente porque é a mais sensacional e brilhante
realidade do nosso mundo. Um tesouro que os racionalistas e seus
seguidores, inclusive os teólogos "modernizados" arrastados sem
reflexão, "esqueceram" simplesmente porque fecham sempre os
olhos quando viram o rosto nessa direção. Isso não é ciência. Isso é
preconceito indigno de quem aspire a ser considerado cientista, ou
inclusive ser humano, racional.
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