MILAGRES COM FOGO

Pirovásia Supra-Normal (= milagrosa invulnerabilidade ao fogo)

 

Primeiro os falsos sinais, os falsos milagres

Entre tantos fenômenos parapsicológicos, escolhemos, ao acaso, a classificação pirovásia (= resistência ao fogo).

FALSO SINAL - É muito conhecido que em muitas culturas certos iniciados passam, rapidamente, com os pés descalços sobre brasas. Os mágicos também costumam reproduzir este e outros fenômenos de aparente pirovásia. Pura técnica, quando não truque em tudo ou em parte.

Padre Quevedo desmascarando os
"faquires" que pegam fogo com as
mãos. Truque e técnica.

  Os kahunas, da Polinésia, talvez sejam o povo que guarda os mais antigos segredos de truques e técnicas. Na sua ignorância, por outra parte, não sabem que muitos desses segredos são conhecidos por outros grupos de charlatões e falsos magos (não há magia verdadeira). E na sua ignorância não sabem, nem adivinham!, que todos esses segredos são perfeitamente conhecidos pelos bons mágicos e pelos parapsicólogos (todo bom parapsicólogo deve ser também profundo conhecedor, ao menos teórico, de mágicas. Do contrário seria facilmente enganado por charlatões).

*** A respeito dos kahunas escreve Max Freedom Long, um... esotérico (pois ao longo dos seus escritos mistura um pouco de ciência e sagacidade com consideráveis doses de desconhecimento e mesmo charlatanice; e por isso mesmo é muito paparicado pelos esotéricos e supersticiosos). Escreve: Os kahunas "disseram que a religião deles era a única verdadeira e que o passeio sobre o fogo provava isso (?!). Disseram também que nenhuma outra fé religiosa possibilita aos devotos andar por sobre o fogo (é claro que a religião não ensina truques e técnicas). O que eles queriam que eu acreditasse era que o deus deles protegia os pés dos puros e dos sagrados para que não se queimassem. Os que ainda não eram suficiente e completamente puros sairiam queimados".

-- Respondo: Bastem agora duas observações:

  1ª) Não se trata de fogo, são brasas vulcânicas um tanto endurecidas, mas ainda fumegantes. Desafio todos esses "puros": Se fossem chamas, que demorasse meio minuto para serem atravessadas, ninguém sobreviveria.

 2º) Que milagre é esse que quando alguém, por mais "puro e sagrado" que seja, diminui a velocidade ou tropeça, está "liquidado"? Um exemplo concreto referido pelo próprio Long:

    "Um velho, muito fraco e muito encurvado, havia entrado no fogo. Suas mãos estavam estendidas para o alto, como implorando auxílio. Depois dos primeiros passos (que têm de ser rápidos!), ele começou a vacilar. Continuou hesitante, saltou no ar (claro, estava abrasando-se, por falta de velocidade!), afocinhou de maneira selvagem e caiu de uma vez (e, claro, se não fosse socorrido imediatamente, morreria: desafio de novo a todos esses "puros"). No mesmo instante, assistentes munidos de longos ganchos à guisa de dragas (ora, eles não são "puros" nem quando pretendem salvar a vida de outro "puro"?) postaram-se à beira do braseiro. Trabalhavam freneticamente rolando o corpo fumegante para fora. Dragaram-no perfeito, mas com brasas aderindo à carne queimada. Uma jarra de água foi derramada sobre o corpo ainda em forma. Levantaram-no depois, carregando-o prontamente".

              (Tudo inútil:) "'Estava morto antes que o tirassem' -disse uma voz grave à altura do meu cotovelo--. E eu comentei sorrateiramente (a respeito dos outros "puros" que, evidentemente, não podiam diminuir a velocidade para socorrer o companheiro caído:) `E não pararam..., continuam sempre´"

 

                       SUPRANORMAIS. AGORA SIM MILAGRES

             NA BÍBLIA - Comecemos por analisar outra modalidade de pirovásia que aparece na Bíblia: arder sem consumir.

A sarça ardente (Ex. 3,2)
Quadro de Francisco Collantes,
no museu do Louvre (Paris).

  "Apascentava Moisés o rebanho (...) e chegou à montanha de Deus, a Horeb. O Anjo de Iahweh (o próprio Deus) lhe apareceu numa chama de fogo, no meio de uma sarça. Moisés olhou, e eis que a sarça ardia no fogo, e a sarça não se consumia. Então disse Moisés: 'darei uma volta, e verei esse fenômeno estranho, porque a sarça não se queima'(...) E Deus o chamou do meio da sarça. Disse: 'Moisés, Moisés (...) Não te aproximes daqui; tira as sandálias dos pés porque o lugar em que estás é uma terra santa'. Disse: 'Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó'. Então Moisés cobriu o rosto, porque temia olhar para Deus" (Ex 3,1-6).

***Como qualquer iniciante nos estudos de parapsicologia sabe (e veremos expressamente estes fenômenos em outras oportunidades) a telergia ou o ectoplasma pode cobrir, inclusive sem contato, uma flor ou a planta toda, e arder (pirogênese) sem que arda a planta. Uma luz intensa ao redor da flor ou da planta, (fotogênese), também poderia dar a impressão de arder sem consumir. Ora, "O que se pode explicar por menos, não se deve explicar por mais". Por tanto não é milagre.

Estes fenômenos parapsicológicos naturais, logicamente não os podia entender Moisés. Perfeitamente poderiam ser sinal (Especial Divina Providência) de Iahweh...

           -- Mas neste caso, talvez não se pode admitir tal explicação. Qualquer iniciante nos estudos de parapsicologia sabe que todos os fenômenos parafísicos exigem a presença ( a menos de 50m) da pessoa que exterioriza a telergia ou ectoplasma. Ora, a Bíblia parece dar a entender que a sarça ardia à distância de Moisés, e depois se aproximou para examinar melhor. Mas  isto é discutível...

          Em todo caso, a emissão de telergia supõe um estado alterado de consciência. E certamente esse estado não se coaduna com a reflexão e equilíbrio de Moisés, como é apresentado.

*** Para a explicação da sarça ardente sem se consumir pode-se recorrer à identificação com alguma planta da região. São duas hipóteses. O dr. Smith supõe que "a chama de fogo poderia ser muito bem a rama vermelho-carmesin do visco em flor, Loranthus Accaciae, que cresce por toda parte na Terra Santa e no Sinai ( = Horeb, em outra nomenclatura) e em diferentes moitas e pequenas árvores espinhosas (que teriam sido confundidas com sarças) da família das acácias. Quando esse visco está em plena floração, a moita parece envolta em fogo devido às suas cores vermelhas como ardentes".

Nem precisa dizer que se algum racionalista ou teólogo "modernizado" soubesse da existência destas plantas, imediatamente adeririam a esta "explicação".

-- "O que se pode explicar por menos..." Mas não se pode explicar assim. É completamente absurdo imaginar que Moisés não conhecesse essa planta, "que cresce por toda parte na Terra Santa e no Sinai". E que também não a conhecessem os escritores e leitores hebreus da Bíblia.

          E Moisés viu e voltou para observar melhor. Um fenômeno tão perfeitamente observável e conhecido não seria surpreendente. Nem sinal de coisa alguma.

          *** A segunda hipótese: Um perito em botânica da Bíblia, dr. Harold N. Moldenke, administrador e curador do Jardim Botânico de Nova York, escreve a respeito: "Entre os comentadores que julgam ter encontrado uma explicação natural, pensam  alguns que o fenômeno da sarça que ardia e não se consumia pode ser explicado por um tipo de planta de gás, ou fraxinela, a Dietamnus Albus L. É uma erva grande de um metro de altura, com panículas de flores cor de púrpura. A planta toda é coberta de minúsculas glândulas oleaginosas. Esse óleo é tão volátil que se evapora continuamente, e a aproximação duma chama descoberta causa uma inflamação súbita". O fenômeno da sarça ardente existe, pois, na natureza, literalmente, em plantas com um grande conteúdo de óleos voláteis. O naturalista alemão dr. M. Schawabe comprovou em repetidas observações a inflamação espontânea. "A mistura de gás e ar inflama-se algumas vezes por si só no calor intenso e no ar parado, ficando o arbusto intacto".

           -- "O que se pode explicar por menos..." Também não se pode. Esta segunda hipótese na realidade seria menos desrespeitadora, sem deixar de sê-lo, com a sagacidade e capacidade de observação de Moisés. Com a inteligência extraordinária que Moisés demonstrou ter, que volta expressamente para observar o fenômeno, de modo nenhum ia ser ele mesmo a causar o fenômeno com sua tocha acesa sem percebê-lo. Se ardeu espontaneamente, pelo excesso de calor, de nenhum modo se surpreenderia de que o gás ardesse a alguma distância da própria folha sem que esta se queimasse. De nenhum modo tomaria o fato como mais que curioso e não lhe daria nada menos que a categoria de sinal de Iahweh.

            *** Como tantas outras vezes só resta aos racionalistas e seguidores a fuga. Dizem: A sarça que arde e não se consome é uma lenda. Nem existem nem podem existir fatos que não se pudessem explicar naturalmente...

           -- Respondo: A realidade é que existem muitos (entramos, mais uma vez, no chamado "efeito bumerangue"). E não só sobre uma planta, insensível. O próprio sensível corpo humano arde sem se consumir nem ser minimamente afetado. É a modalidade agora selecionada:

            NO AVENTAL... - Comecemos pelas coisas. Analogamente à sarça ardente. Coisas materiais, muito comburentes que, porém, em contato com o fogo não se queimam.

            Longis era um jovem sacerdote belga que, sob o patrocínio do bispo de Mans, vivia como monge na aldeia francesa de Boisselière. Inesfreda, uma jovem bonita, recusava o "casamento por conveniências", que energicamente queria lhe impor a família. Não tendo outro asilo, Inesfreda acudiu ao sacerdote amigo. E o pe. Longis, decidido a enfrentar as más línguas e a não abandonar a amiga, hospedou-a na casa canônica.

            De boca em boca, o fato logo virou grande escândalo, alentado pelo pretendente de Inesfreda. Mais, denunciou o pe. Longis como sedutor da sua "prometida".

          O rei Clotário chamou ambos jovens ao seu tribunal. Quando o pe. Longis e Inesfreda apresentaram-se no palácio..., o rei saíra para uma caçada! Durante a longa espera, o pe. Longis estava ficando pouco menos que congelado. Inesfreda foi  então procurar fogo, enquanto o padre procurava lenha.

          O padeiro real com muito gosto ofereceu-se a retirar do fogo carvões acesos... E Inesfreda, simplesmente após levantar os olhos ao céu, convenceu o padeiro que, meio fascinado e como um autômato, obedeceu deitando os carvões acesos sobre o avental da jovem. O rei Clotário e toda sua corte chegaram a tempo de ouvir as exclamações de admiração do padeiro e presenciar o milagre. Os carvões acesos não queimaram nem um fio do avental, nem o sujaram sequer.

            Com aquele sinal divino, Clotário sentenciou a favor dos jovens. E o milagre também correu de boca em boca. Então ninguém mais falou mal, muito ao contrário, de São Longis e Santa Inesfreda. Ambos tiveram vida longa e muito edificante.

            ...OU NA BLUSA - Mais um dentre tantos milagres de São Francisco de Paula. Tinha então somente treze anos.

       O sacristão da igreja de São Marcos pediu ao menino Francisco que trouxesse carvões para preparar os aquecedores dos censores. São Francisco de Paula pegou com as mãos uma grande quantidade de carvões acesos e os colocou na sua blusa e assim levou-os ao sacristão, sem que nem o santo nem a blusa sofressem o mínimo dano.

          CAMINHAR SOBRE CARVÕES ARDENTES... -- Fabiano, o governador romano, mandou fazer no campo um comprido corredor de carvões acesos.  Disse a São Tibúrcio: "Agora escolhe o que preferes fazer, ou pões incenso sobre estes carvões em honra dos deuses imortais, ou caminhas descalço sobre eles para que vejamos se teu deus crucificado pode te salvar".

  São Tibúrcio fez o sinal-da-cruz. E lentamente foi atravessando, tranqüilo, até o outro lado. Ao sair, comentou: "Para mim foi como passear sobre um tapete de pétalas de rosas e de outras flores".

...OU PARADO SOBRE CARVÕES ACESOS - *Quando o abade São Palimão se preparava para rezar as "Vésperas", entrou um outro eremita e desafiou o santo abade a rezar em pé sobre o braseiro. É claro que São Palimão não aceitou, invocando aquele texto da escritura: "Não tentarás o Senhor teu Deus" (Dt 6,16; Mt 4,7). Perante as angustiosas insistências, suspeitando que o visitante precisava de um sinal, São Palimão descalçou os pés, subiu nos carvões acesos e assim tranqüilamente rezou com o outro eremita as compridas orações, durante uma hora, sem sofrer a mínima queimadura.

* O rei Fernando o Católico, da Espanha, chamara o famoso São Pedro González, de Galícia onde trabalhava a Valladolid para consultá-lo. Um libertino da corte contratou uma jovem e muito bonita profissional da prostituição. Bem instruída, enviou-a ao famoso santo, da ordem de São Domingos. Havia bastante gente. A mulher disse que precisava fazer uma consulta muito importante e confidencial. São Pedro levou-a a uma salinha de visitas reservada. Logo a jovem abraçou-lhe os joelhos, depois começou a tirar a roupa, queria arrancar os hábitos do padre, mil outros artifícios. Para surpresa e alegria da prostituta, que "não esperava que fosse tão fácil", São Pedro pediu que o seguisse ao seu quarto... E quando entraram no quarto São Pedro González, como se tivesse muita pressa, começou arrancando os sapatos... e pôs-se em pé sobre os carvões do braseiro que estava ao máximo naquele gelado dia de inverno. A jovem, apavorada, lhe gritava que saísse de lá, que iria morrer. Passava o tempo. A jovem terminou, em lágrimas, pedindo perdão. O santo então saiu do braseiro. A moça, querendo socorrê-lo, não encontrou absolutamente nenhum efeito do fogo nos pés do santo. Converteu-se e dali em diante foi uma exemplar cristã e grande colaboradora no apostolado de São Pedro González, ou hoje popularmente "Santo Elmo", padroeiro dos marinheiros espanhóis.

            NAS MÃOS! - Já vimos em outro artigo que São Pedro de Alcântara agarrou sem prejuízo algumas traves em brasa. Outros santos realizaram o mesmo. Por exemplo:

          * Dois casos de São Francisco de Paula: Eram muitos os doentes que de todas partes o procuravam. Alguns médicos acusaram-no de curandeirismo e mesmo de charlatanice.

            Veio o Pe. Antônio Scozetta, grande orador, mas também temperamental e um tanto fanático. Tomou sobre si a missão de combater o que ele julgava exploração da crendice popular, ainda mais indigno num frade com fama de santo.

            O Pe. Scozetta invadiu inclusive o quarto de São Francisco. Face a face acusou-o de impostor. São Francisco escutava, como acolhera, o reverendo padre com toda cortesia e amabilidade. Isso irritava ainda mais o temperamental e abusivo acusador; pensava que era a típica "pele de ovelha" dos mais prejudiciais e mais ladinos charlatões.

            No momento mais quente das diatribes contra ele, São Francisco acudiu à  "prova de fogo". Levantou-se calmamente, pegou com ambas mãos todos os carvões que nelas cabiam, e aproximando-se do aterrado acusador lhe disse com um sorriso carinhosamente irônico: "Pe., Antônio, aqueça seu coração, tem grande necessidade disso".

            O pe. Antônio por uns momentos ficou observando... Pouco depois prostrava-se de joelhos pedindo perdão.

         * Muito parecido e com maior transcendência ainda, em outra ocasião. O papa Paulo II enviou um dos seus auxiliares a verificar se eram verdade os milagres que se contavam de São Francisco de Paula, "o Taumaturgo". O bispo de Cosenza encomendou ao cônego Charles Pirro que acompanhasse o enviado do papa. Quando se encontraram com São Francisco e lhe perguntaram pelos seus milagres, só o cônego falava deles, porque o santo muito humildemente se refugiava em  evasivas...

         E o delegado papal advertiu, um tanto exclusivisticamente que em matéria de milagres há muito perigo de ilusões... Então São Francisco de Paula se levantou, enfiou as mãos no fogo, pegou tantos carvões acesos quantos lhe cabiam nelas, aproximou-os ao enviado papal , que não podia resistir a tal calor, e disse: "Toda a natureza obedece a quem com coração sincero serve a Deus". 

         Após esse sinal, o delegado papal pôde sem preconceito indagar entre as testemunhas sobre muitos milagres do famoso "Taumaturgo". Quando voltou a Roma, manifestou ao papa que a santidade de São Francisco era muito maior do que se afirmava e que não havia exagero nos milagres que dele se referiam. 

        * São José Oriol (+ 1702) foi vergonhosamente caluniado. O descrédito que estava prestes a cair sobre ele faria ruir todo seu trabalho com pobres, com os doentes, com a multidão que abarrotava continuamente sua igreja, em Barcelona. Para demonstrar sua inocência, ele próprio propôs fazer diante de todos a "prova de fogo".

Puseram o forno à máxima temperatura. O santo orou elevando os olhos ao Céu. "No auge, os carvões estalavam e faiscavam, e no fogaréu terrível enfiou ambas as mãos, sem que mal algum lhe acontecesse". O poder de Deus, assim, convenceu a todos da santidade do Seu servo.

Etc., etc., etc.

"EXPERIMENTE" - Estava eu em aula, da pós-graduação, explicando o ordálio, concretamente ao que se submeteu São José Oriol. Quando afirmei que o fez com as mãos, uma aluna muito simpática e espontânea exclamou: "Só as mãos?"

-- Respondi: "Ainda existem, especialmente no interior, aquelas velhas cozinhas de lenha. A chapa superior de ferro chega a ficar vermelha, de tão quente. Seria interessante que alguém levantasse com o gancho a tampa do forno. E a senhorita, só as mãos, experimente enfiá-las!" Entre as gargalhadas dos colegas pelo seu gesto de arrepio, ela compreendeu perfeitamente o mérito imenso daquele tipo de ordálio.

NA BÍBLIA - Está escrito no livro de Daniel (3,13ss):

      "Ardendo em cólera, Nabucodonosor ordenou que lhe trouxessem à presença Sidrac, Misac e Abdénago" (...)

      "Disseram (...), ao rei Nabucodonosor: (...) 'O nosso Deus (...) tem o poder de nos livrar da fornalha acesa (...), não adoraremos a estátua de ouro que levantaste'. Então Nabucodonosor (...) deu ordem para que se acendesse a fornalha sete vezes mais que de costume (...). Entretanto, porque a ordem do rei era peremptória e a fornalha estava excessivamente acesa, os homens que nela arremessaram Sidrac, Misac e Abdénago foram mortalmente atingidos pelas chamas. Quanto aos três homens, Sidrac, Misac e Abdénago, eles caíram amarrados no meio da fornalha acesa, mas eles começaram a andar no meio das chamas, louvando a Deus e bendizendo o Senhor" (...)

      "Então o rei Nabucodonosor (...), clamou: (...) 'Sai para fora e vinde!' (...). Os sátrapas, os magistrados, os governadores e os conselheiros do rei acorreram logo para ver esses homens: o fogo não tinha exercido poder algum sobre seus corpos, os cabelos de sua cabeça não tinham sido alterados, e nenhum odor de fogo se apegara a eles".

        Claramente aparece o conceito bíblico: O fogo conserva suas propriedades, intervém o poder de Deus.

      *** Escreve Saintyves, um dos primeiros líderes e dos mais prestigiados pelos racionalistas antigos, e pelos "modernizados" de hoje: "Falta estabelecer que este livro é verdadeiramente de Daniel, estamos portanto no direito de contestar a história dos três jovens na fornalha (...), não seria menos ridículo que defender a autenticidade dos escritos atribuídos a Orfeu ou às musas. Igualmente como garantir a historicidade das maravilhas do Gênesis e os milagres do Êxodo?".

       --- Muito cômodo. E realmente ridículo. Por algum detalhe discutível, periférico e completamente acidental, facilimente esquecível, confundível pelos autores bíblicos precisamente porque são detalhes acidentais, os modernistas e seus seguidores passam a negar o fato substancial, impressionante, inesquecível!

        Na realidade eles estão negando o fato não por causa dos detalhes; negam por preconceito contra todos e contra qualquer milagre. Sem estudar os fatos. Pelo mesmo "motivo", seriam também lendas todos os casos análogos posteriores!

        Como sempre, há amplo material onde escolher no "efeito bumerangue". (= Com a repetição cada tipo de milagre vai se confirmando ao longo da história). E há várias modalidades de pirovásia supra-normal (= milagrosa invulnerabilidade ao fogo). Extrato agora a modalidade com referência especificamente a incêndios ou algum forno acesso, como nos três jovens do Livro de Daniel.

        O MAIS PARECIDO - Durante a perseguição do imperador Adriano, o jovem papa Alexandre, de apenas 30 anos, foi lançado à fornalha. Junto com o papa foi lançado à fornalha ardente São Evêncio, de 80 anos. Perto do forno estava em pé, preso também por ser cristão, o jovem São Teódulo. O papa São Alexandre gritou-lhe em alta voz: "Vem, meu irmão, vem conosco". Como resposta, São Teódulo se arrancou dos seus guardas e pulou rápido na fornalha. Os três santos então passeavam cantando hinos de louvor a Deus.

       FATOS MUITO PARECIDOS - São Faustino e Santa Jovita, exatamente  como os três jovens hebreus, passeavam no meio da fornalha cantando hinos sagrados, quando o Imperador Cláudio II mandou que a fornalha ficasse mais acessa que nunca para que reduzissem a cinzas imediatamente os mártires. Continuaram a cantar. Alcançaram o martírio decapitados.        

       São Mamés recusou oferecer sacrifício a Apolo. Na perseguição decretada pelo Imperador Aurélio, foi lançado á fornalha para que o consumisse imediatamente. Ficou lá passeando e rezando durante três dias e no quarto saiu mais vivo e forte que antes.

       UM MODELO DE CONSTÂNCIA - Século II. São Victor de Damasco. Quebraram os dedos. Esfolaram largos pedaços do epitélio. Arrancaram nervos e tendões do seu corpo. Arrancaram seus olhos.

       Por fim jogaram-no a um forno ferozmente acesso. Três dias após, não havia sofrido literalmente nada. Pelo contrário, sarara de todas as lesões sofridas anteriormente!

       É por tudo isso que é chamado São Victor, isto é, santo vencedor.

       POR CARIDADE - Século V. Um padeiro pendurou as roupas dentro do forno, apagado, para secarem após aquele tremendo aguaceiro. Pôs-se, nu -era noite e estava sozinho-, a fazer os pães. Colocou-os depois nas prateleiras das paredes do imenso forno. No mais alto da noite, esquecido das roupas, ateou fogo. Quando já de madrugada foi se vestir...: as roupas ficaram dentro do imenso fogão! O abade São Sabas de Capadócia passava então por lá e pretendeu consolar o padeiro que estava muito triste em situação constrangedora! São Sabas -essa intimidade dos santos com Deus!- como se fosse a coisa mais normal do mundo, abriu o forno, entrou! Perante a estupefação do padeiro, atravessou as chamas, chegou á parede oposta, pegou as roupas, atravessou de novo as chamas e saiu com as roupas sem que ele nem elas sofressem a mínima conseqüência.

       MUITO PARECIDO - Século XII. A mesma intimidade com Deus, para resolver um problema prático de um pobre padeiro. Esquecera no forno a pá de carregar os pães. São Silvestre, abade, tranqüilamente entrou no forno, atravessou as chamas,, ida e volta, e saiu com a pá especial de que tanto precisava o padeiro para poder cumprir com os compromissos dos seus fregueses que de manhã viriam reclamar enorme quantidade de pães...

       COMO ORDÁLIO - Fim do século XI. O "pilantra" arcebispo de Florença, Pedro de Pavia, lucrava vergonhosamente com a venda de poderes sagrados (simonia).

        Os monges da abadia de Valombrosa acusaram o arcebispo: a palavra dos monges contra a do arcebispo e dos que com ele compactuaram.

        O tribunal eclesiástico de Florença exigiu "o juízo de Deus". Entre os monges, Pedro Aldobrandini ofereceu-se para protagonizar "a prova de fogo". E São Pedro, que por isso o Papa Gregório VII haverá de chama-lo "o ígneo", serenamente avançou em direção ao violento fogaréu. Um túnel de luz deslumbrante sob uma abóbora rubra. Expectativa densa. Por fim vêem São Pedro, "o ígneo", sair da fornalha sem um chamusco sequer nos cabelos ou nas roupas.

       Em conseqüência o  Papa Alexandre II depôs o escandaloso arcebispo Pedro de Pavia e honrou São Pedro "o ígneo" com o título de cardeal-bispo de Albano. 

       POR ACIDENTE - Século XII. São Drogon. Num pequeno segundo andar na igreja de Seburg (França). Um violento incêndio. São Drogon prostrou-se de joelhos em oração. E assim foi encontrado, tranqüilo, absolutamente incólume, sem o mínimo chamusco, quando o fogo se extinguiu naturalmente após consumir até os escombros todo o edifício.

        Século XIV, Santa Catarina de Siena, pretendendo ajudar a apagar um violento incêndio, acabou caindo no meio das chamas. Todos a viram caminhando entre as chamas até sair, e nem um só cabelo foi chamuscado.

        ISSO É QUE É BOMBEIRO - Século XV. Um forno de cal, que estava aceso havia já 24 horas, estourou. As chamas saíam pelas fendas e ameaçavam destruir todo o forno. Chega São Francisco de Paula. Pela sua fama de taumaturgo todos olharam para ele. Importante era o forno para o mosteiro que estava construindo em Consenza. E para repará-lo só de dentro! São Francisco de Paula tranqüilamente entrou no forno! Passou o tempo. As chamas não mais saíam pelas fendas. Passou mais tempo. Os trabalhadores foram fazer a refeição. Quando bem mais tarde voltaram, encontraram o santo tranqüilamente lavando as mãos, ele tinha argamassado as fendas. Nem o mínimo chamusco na roupa, nos cabelos...

       QUANTAS VEZES? - Provavelmente o próprio São Francisco de Paula (1416-1507), fundador da Ordem "dos mínimos", seja quem mais haja repetido na sua longa vida (91 anos), com absoluta confiança em Deus, "a prova de fogo".

       Os insuperáveis historiadores chamados "Bolandistas" recolhem como inegáveis outros casos de pirovásia SN em fornalhas:

       * São Basílio.

       * Santos Trófimo e Teófilo conjuntamente.

       * o Cristóvão, que saiu incólume da fornalha, sarou imediatamente das flechas com que o atravessaram. Por fim alcançou o martírio sendo decapitado à espada.

       * Santo Efésio

       * Santa Cristina

      * São Genaro, padroeiro de Nápoles, muito famoso pelo seu sangue incorrupto até hoje. Também "foi lançado a uma fornalha ardente da qual saiu sem nenhuma lesão, inclusive sem que seus hábitos fossem chamuscados e sem que perdesse um só dos seus cabelos"

        Etc., etc. - Como na pirovásia, também poderíamos citar muitos milagres "contrários às leis da natureza" em outras classificações de fenômenos...

 

Pe. Oscar G. Quevedo S.J.

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