Milagres Diferentes das Leis da Natureza II

Beato Padre Anchieta, missionário
do Brasil e fundador da cidade de
São Paulo. Não só a água o
respeitava, as feras também.

      No caso bíblico de Gedeão (Jz 6, 36-40), evidentemente que é diferente da natureza, ao revês das leis da natureza ("praeter naturam") o que pela intervenção de "Outra Força", divina, aconteceu: O orvalho não molhou nada em todo o campo, mas empapou o tosão de lã; e numa segunda vez molhou tudo ao redor; mas não molhou o tosão.

     Reflitamos agora sobre alguns outros dos muitos fatos da mesma classificação: "diferente das leis da natureza". Como, por exemplo, a chuva não molhar, ou o fogo não queimar...

      Extremando na especificidade da classificação não consideraremos aqui tantos milagres do fogo ir recuando ou extinguir-se à medida que o taumaturgo vai avançando, ou à sua ordem, ou quando os algozes aproximam-lhe as chamas, como muitos milagres referidos na série anterior (Em Parapsicologia, pirovasia SN). Com referência aos materiais comburentes, nesta classificação de agora encaixam-se melhor e citaremos casos especificamente de não serem atingidos por grandes chamas ao redor.

                                          "A CHUVA NÃO MOLHAR"

      MENTIRA? ALUCINAÇÃO? - Sob  o atual pontificado de João Paulo II no processo de beatificação do apóstolo do Brasil, beato padre Anchieta, os advogados tiveram de superar quase violentas investidas de três "advogados do Diabo", como se chamavam antigamente os que hoje conhecemos como promotores da justiça (ou da fé, concretamente nas causas canônicas). Porque não era fácil aceitar, num mundo infeccionado de racionalismo e modernismo, um dos milagres apresentados:

      * Durante a vida do beato pe. Anchieta, um barqueiro garantia a quantos quisessem ouvir. A barca em que viajava o padre afundara. O padre ficou retido no fundo pela barca virada. E o  barqueiro até uma hora depois veia o pe. Anchieta tranqüilamente lendo seu breviário lá, embaixo da água. Quando o retiraram, nem o padre nem o livro haviam se molhado!.

      *** Os promotores de justiça pintaram o caso como extravagante. O barqueiro mentia ou sofreara uma alucinação. Em matéria de milagre teria sido simples evitar o naufrágio...

      ---- Responderam os advogados frisando que não se trata de estabelecer e comparar todas as possibilidades. Nem de determinar qual teria sido o milagre mais simples. Trata-se de reconhecer se foi um fato ou não.

      Há casos análogos. Muitos.

      É até característico que o milagre realize precisamente o mais simples. Por exemplo, não evita a condenação nem apaga a fornalha, "simplesmente" protege os santos dos efeitos do fogo. Paralelamente, não evita o naufrágio nem levita do fundo do rio o náufrago, "simplesmente" o protege da água... 

        "CASOS ANÁLOGOS" - O profeta Isaías prometeu em nome de Deus: "Iahweh criará (...) uma choupana (...) para ser um refúgio e esconderijo da tempestade e da chuva (...) Quanto às nuvens, ordenar-lhes-ei que não derramem a sua chuva sobre ela" (Is 4,6; 5,6b), mesmo chovendo ao redor.

      Não é puro simbolismo. Seleciono alguns fatos análogos a todo o longo da história. É o chamado efeito bumerangue (os casos antigos vão se repetindo e confirmando, até hoje, e assim os modernos confirmam os antigos).

      * Século V. Santa Genoveva,  hoje padroeira de Paris, foi grande taumaturga durante a segunda metade de sua longa vida. Um dia, pretas nuvens e abundante chuva ameaçavam inundar o campo onde os ceifeiros estavam trabalhando, e toda a colheita se perderia. Santa Genoveva deu a ordem. As nuvens se abriram em círculo. Durante longo tempo um imenso aguaceiro caiu ao redor todo, mas nem uma gota caiu no campo onde a ceifa continuou em meio a lágrimas e cantos dos trabalhadores em agradecimento e louvor a Deus.

      * Século VI. São Aubin fora enviado pelo abade de Cincillac para tentar convencer os habitantes de Angers sobre importante acordo. Durante a numerosa assembléia, subitamente desaba furiosa tormenta. Todos ficaram ensopados, mas nem sequer uma gota "se atreveu a tocar no santo", assim convencendo a todos que deviam obedecer o pedido que tão santo mensageiro transmitia. O fato é endossado  pelos Bolandistas (esse grupo de grandes historiadores, jesuítas, que subvencionados pelo governo belga há já três séculos vêm pesquisando a agiografia de modo irrefutável).

      * Século VII. São Eumaco de Perigord, bispo de Viviers. Já era difícil que os ouvintes agüentassem a pé firme ao ar livre naquele gelado dia de inverno na França. E piorou: quando o santo estava no mais crucial da sua pregação, desabou uma grande tormenta de neve. Mas precisamente daí surgiu o mais poderoso argumento: por ordem do santo, nem um floco de neve caiu sobre nenhum dos ouvintes nem no jardim onde estavam (Bolandistas).

      * São Maidoc, que depois seria abade de Fiddownn, na Irlanda, era ainda muito jovem. Sentado no campo, estava lendo um livro dos mais prezados da biblioteca do convento. Seu mestre, São David, chamou o discípulo. Afoito em obedecer, o jovem São Maidoc esqueceu o livro. Pouco depois caía uma forte chuva. Quando mais tarde, angustiado e rezando sem saber claramente para quê, São Maidoc vai em procura do prezado livro, qual não seria sua alegria e terno agradecimento à delicadeza divina por encontrar em meio ao lodaçal o livro completamente seco!

      * Entre os recolhidos nos fichários do CLAP, posso encontrar, num só século quatro casos muito parecidos ao de São Maidoc. Pulemos, pois, ao século XII.

      1) São Bernardo de Claraval (ou Clairvaux, França). O fato é endossado nada menos que por Bento XIV (o grande sábio, claro milagre de ciência infusa: no século XVIII sabe tudo do que depois se chamará Parapsicologia, e nunca erra).

      O santo abade de Claraval estava ditando um importante documento. Repentinamente desabou uma violenta chuva. O amanuense pretendeu fugir para logo recopiar o já escrito, antes que fosse impossível decifrá-lo estragado pela água. Mas o santo o reteve: "É documento de Deus. Continua escrevendo. Não temas". E com grande surpresa o amanuense observou que a tinta estava intacta, as folhas secas..., e que pôde continuar escrevendo na chuva sem que nem eles nem os papéis se molhassem!

      2) São Ubaldo, bispo de Gubbio (Itália), esqueceu o livro das regras monacais sob uma árvore, onde estivera dormindo com seu acompanhante. Já caminhando havia algum tempo, sobreveio uma grande chuva. Depois da prolongada chuva voltaram. O companheiro, preocupado. Seguro de que o livro das regras estaria completamente estragado, e seria praticamente impossível conseguir outro exemplar. São Ubaldo, tranqüilo, confiando e rezando a Deus. Com efeito, nem uma gota de água caíra sobre o livro, apesar de o enorme aguaceiro ter encharcado plenamente tudo, absolutamente tudo ao redor do livro.

      3) Santa Margarida, rainha da Escócia, lia freqüentemente e tinha um carinho e estima todo especiais por um determinado exemplar dos Evangelhos. Mandara ilustrá-lo com gravuras dos quatro evangelistas, banhar a ouro cada letra inicial, colocá-lhe pastas de couro decorado e dourado... Numa palavra "presenteava" o livro e transferia para ele todo o amor que sentia pelo seu Rei Eterno, cuja vida descrevia o livro.

A sarça que ardia e não se consumia
(EX 3,2) pode ser análoga aos milagres
da classificação que estamos
apresentando. Desenho de Francisco
Callantes, no Museu do Louvre.

      Um dia, quando Santa Margarida passeava acariciando uma página, o livro caiu das suas mãos. No rio!

      Ninguém conseguiu no momento recuperar o livro da rainha. Mas pelo carinho e estima que sentiam pela exemplar e caridosa rainha muitos espontaneamente vasculharam com toda minúcia o rio até a desembocadura. E encontraram o livro. Dias depois!

      Quando a notícia chegou ao palácio, todos, menos a rainha!, tinham certeza de que o livro estaria destroçado. Mas a rainha sabia e todos comprovaram que o livro estava absolutamente perfeito: não descoloriram as páginas, não foram danificadas em nada as iluminações, as pastas de couro não foram prejudicadas, nada que se pudesse perceber... Terminaram por comprovar que na realidade o livro "simplesmente" não fora atingido pela água! Nem pela água das mãos molhadas do "pescador"!

      Por tratar-se de um milagre... "inútil" ao parecer dos racionalistas de hoje, a rainha sabia que precisamente por isso era uma mostra muito maior da delicadeza e amor do Rei Eterno a Quem ela dera todo seu coração e toda sua vida.

      Assim o entenderam também os súditos da rainha. Pelo visto, entre eles, lá e então não havia nem racionalistas nem modernistas...

      4) Na diocese de Moulins (França). Santa Torete foi pastora de ovelhas, ficando a vida toda na solidão. Com referência a um fato aparentemente corriqueiro para a santa, mas que impressionou profundamente as testemunhas que foram visitá-la naquele dia, sendo surpreendidos por uma violenta tormenta de verão, canta poeticamente o biógrafo: "Não temas, santa pastora! Apesar da chuva cair torrencialmente ao teu redor e de inundar tudo perto de ti, não escurecerá sobre ti. Ao redor de ti do teu rebanho o tempo será agradável e aconchegante. Como nova madeixa do tosão de Gedeão, tu ficarás seca enquanto tudo ao redor está molhado. Não temas tu, graciosa menina; porque qual tempestade pode injuriar-te a ti cuja confiança em Deus é assim de grande?".

      * Século XIII. Pulemos ao século de São Domingos de Guzmán (Espanha). Certa vez sua valise caiu no rio. Profundo. Dias depois, o santo voltou ao lugar com outros frades, que pretendiam salvar alguma coisa e que não conseguiam explicar-se a serenidade de São Domingos, porque sabiam que entre as coisas perdidas havia livros e documentos de grande importância. Por fim conseguiram "pescar" a valise. Ela e todo o seu conteúdo estavam completamente secos!

      Numerosas testemunhas garantem que também outras várias vezes caminhou, nas suas viagens, no meio da chuva sem que ele e sua valise sofressem um só pingo (Bolandistas).

      * Santo Antônio de Pádua estava pregando em Bruges - Bélgica. Era um dia de verão. Campo aberto. Repentinamente arma-se a tempestade. Para sublinhar sua pregação o santo pede à multidão que não se disperse, promete em nome de Deus que não se molharão. Na realidade parecia que as nuvens caíam compactas. Mas o santo continuou pregando, e "nem uma gota de água alcançou a multidão, nenhum dos que escutavam as palavras do pregador molhou-se no aguaceiro".

      * Mais outro fato com Santo Antonio de Pádua, um dos maiores taumaturgos de todos os tempos. Chega imprevistamente com uns companheiros ao convento de Brives - França. Não havia provisões na despensa. O santo pede a uma senhora amiga que lhes dê alguns vegetais.

      Justo após a senhora mandar sua empregada a recolher vegetais com certa abundância na horta, descarrega uma forte tormenta. A horta estava a considerável distância da casa. A jovem, porém, já saíra. "Grande foi o espanto da senhora (e antes da jovem), quando comprovou que nem uma gota a alcançara, apesar de que não cessou de chover nem um minuto, e a empregada havia estado exposta à chuva mais de meia hora" (Bolandistas).

      * Século XV. Mais dos fatos, posteriormente expressamente endossados como históricos e como milagrosos por Bento XIV:

      1) Na vigília da festa dos apóstolos São Pedro e São Paulo, santa Francisca Romana junto com outras freiras entrou no recinto junto à igreja de São Paulo. Puseram-se a meditar e orar. Pouco depois Santa Francisca caía em "êxtase" (?), de joelhos, precisamente dentro da alverca de água. Ali ficou completamente banhada pela água, da cintura para baixo. Quando muito tempo depois "acordou" e saiu da água, as freiras pasmadas verificaram que estava completamente seca, a água não atingira nem um fio da roupa.

      2) No mesmo ano, no mesmo recinto, as freiras caminhavam recitando o Ofício de Nossa Senhora, quando sobreveio uma forte chuva. As outras irmãs fugiram para o átrio da igreja, e de lá viram como Santa Francisca Romana, concentrada na oração, parecia nem ter percebido: continuou caminhando e rezando até terminar a oração. Então veio ao encontro das irmãs: não fora atingida nem por uma gota da chuva.

      * Século XVI. Milagre aprovado no Processo de Canonização (estes  procesos são rigorosíssimos) de Santo André Avelino. Numa noite tempestuosa o santo precisou ir do convento de São Paulo, em Roma, à casa do regente Camilo de Curtis para atender a Catarina Carafa, gravemente doente. Acompanhado de dois companheiros santo André enfrenta a tempestade. Rajadas de vento e chuva. Um resplendor procedente "de perto do corpo de Santo André" ilumina toda a estrada diante deles. Todos na casa do regente ficam admirados de que a chuva não lhes haja molhado nem um cabelo. Exatamente o mesmo no caminho de volta ao convento, como todos puderam verificar e depois testemunharam. O santo simplesmente explicou: "Iahweh protege os simples"  (Sl 116,6).

      * Também no século XVI. Os magníficos historiadores, os Bolandistas, garantem. São Filipe De Néri dirigindo grande multidão, precisa continuar a peregrinação após um pequeno descanso em campo aberto. Ameaça enorme tempestade. O santo dá a ordem de partida. Muitos o seguem. Outros muitos, porém, se dispersam em várias direções em procura de abrigo na cidadezinha e casarios próximos. Mas não houve mais tempo. A tormenta desaba violentíssima tanto sobre os que ficaram com o santo como sobre os que dele se separaram. Embora ainda à relativamente curta distância, os que procuravam abrigo foram duramente "castigados" pela tempestade e perderam muitos dos seus pertences. Todos, porém, puderam verificar que, embora houvessem ficado sob o mesmo "teto" de nuvens terrivelmente carregadas, nem uma gota caíra sobre os que seguiram o santo nem sobre seus pertences.

      * Século XVIII. São João-José da Cruz não podia suspender nem interromper a viagem. Durante toda a longa caminhada, a chuva caía incessantemente. Mas São João-José e seu atônito companheiro não se molharam absolutamente nada.

      * Etc., etc.

As chamas se erguiam violentas, mas não
afetavam nem a roupa nem o cabelo de São
Policarpo. Só queimavam os algozes que
se aproximaram demais.

                                           "O FOGO NÃO QUEIMAR"

     GRANDES CHAMAS -- Ou melhor e especificamente: grandes chamas não atingirem as pessoas e coisas que estão no meio delas. Pareceria que alguma coisa - e essa é a grande realidade: o poder divino - as circunda e as protege.

      Causam um interesse especial os seguintes dois fatos porque acontecidos entre os primeiros cristãos. Evidentemente naquela época os milagres estavam firmando as bases da expansão do Catolicismo.

      * São Policarpo na sua juventude havia sido discípulo do apóstolo São João, e em Jerusalém os apóstolos haviam-no ordenado bispo de Esmirna - Turquia.

      Era o dia 23 de fevereiro de 166. São Policarpo tinha então 85 anos. Cruel perseguição aos cristãos banhara Esmirna de sangue de mártires, no sexto ano dos imperadores romanos Marco Aurélio e Lúcio Vero. O bispo São Policarpo havia-se escondido numa pequena propriedade fora da cidade. Um empregado o traiu e levou os soldados romanos para prendê-lo.

      Perante o procônsul da Ásia, Estácio Gradato, diante de imensa multidão reunida no anfiteatro, o santo uma e outra vez negou-se a invocar os deuses do Império romano, apesar das sucessivas ameaças de ser lançado às feras e de ser jogado na fogueira.

      Então o arauto anunciou à multidão: "Policarpo confessou que é cristão". Estrepitosa reação da multidão, pagãos e judeus gritando: "lança aos lesões o destruidor de nossos deuses".

      O encarregado dos espetáculos, Filipe, respondeu à multidão que estava terminada a época e já não havia lá mais feras. Pediram então que São Policarpo fosse lançado à fogueira.

      Quando a pilha ficou pronta, disse o santo aos algozes que pretendiam pregá-lo no poste no meio da pilha de lenha: "Quem me dá força para desafiar as ameaças de morte dar-me-á também força para não fugir da própria morte".   

      Quando perante a multidão sádica por fim se ateou o fogo, uma grande chama se levantou... e todos viram o prodígio: "Em torno do mártir, o fogo se estendeu como abóbada, como vela de navio inflada pelo vento (...) Os pagãos (e os judeus) observavam que o corpo não podia ser alcançado pelas chamas". Houve muitas conversões.

      *No ano 305, não tinha Santa Inês mais de 15 anos, talvez 12 ou 13, quando alcançou o martírio.

      O filho do prefeito de Roma apaixonou-se perdidamente pela adolescente Inês, que rejeitou todos os presentes e promessas "porque já tinha dado todo o seu coração a Alguém muito mais nobre".

      O jovem, desesperado, caiu doente. Conhecedor do motivo, o prefeito, Sinfrônio, redobrou os presentes e promessas, sendo tudo igualmente rejeitado pelo mesmo motivo. Intrigado, o prefeito mandou indagar quem era o amado de Inês.

      Por fim chamou ao seu tribunal a jovenzinha e seus pais. Tudo inútil. Não podendo ameaçar os pais por serem nobres, apresentou contra a jovem a acusação do proibido cristianismo.

      Santa Inês recusou os nove intentos do prefeito de obrigá-la a oferecer sacrifícios a Vesta, deusa das virgens perpétuas na religião greco-romana.

      "Ou com as virgens da deusa Vesta, ou com as prostitutas da cidade", sentenciou Sinfrônio.

      "Meu Senhor Jesus Cristo é poderoso para livrar-me da sujeira com que me ameaças", respondeu firme a santa.

      Com efeito, condenada a ficar num centro de prostituição, durante todos os dias que lá ficou, a santa esteve circundada por uma luz esplendorosa que a protegia, e ninguém se atreveu a aproximar-se.

      Entrementes, o filho do prefeito morreu. A santa rezou a Deus e revitalizou o jovem. O prefeito Sinfrônio, com toda sua família, converteu-se ao cristianismo. E em conseqüência abandonou o cargo, deixando-o ao vice-prefeito.

      O novo prefeito, Aspásio, logo mandou lançar à fogueira a "feiticeira" cristã, no anfiteatro chamado Forum Baorium... Mas "alguma coisa" afastava as chamas de um lado e de outro, de tal modo que era impossível atingirem a santa apesar dos esforços dos algozes. Mas os algozes sim eram atingidos quando se aproximavam demais.

      A multidão clamou furiosamente contra a "feiticeira" cristã. Por ordem de Aspásio, que não sabia como de outro modo acalmar a turba, Santa Inês morreu decapitada ao fio da espada (Bolandistas).

      Século VI. O papa São Gregório Magno mandou pesquisar e garante o fato.  O jovem monge São Bento de Nursia ou de Campanie, perto de Roma, morava solitário numa rústica cabana. Os godos, para agradar o rei Tótila, atearam fogo com a intenção de queimar o jovem monge. Tudo ardeu ao redor até o justo limite da cabana. Mas nem uma faísca nem chamusco alcançou a própria cabana, que era de madeira e palha. Dentro, São Bento continuou tranqüilamente em oração.

      Exasperados, os godos agarraram o jovem santo e lançaram-no num forno de pão, aquecido ao máximo, que havia perto. No dia seguinte verificaram que o pão havia virado carvão, tão grande havia sido o fogo, mas "alguma coisa" havia rodeado e protegido o santo, porque não só ele mas também as roupas estavam indenes e fresquinhas.

      MADEIRAS, CORTINAS, LENÇÓIS... - Século XI. A imperatriz santa Cunegunda, esposa do imperador de Alemanha Henrique II, estava aquela noite especialmente cansada, e adormeceu no seu leito durante a leitura que lhe fazia uma dama de companhia, sentada então na cama. Mas a leitora também adormeceu, e o candil caiu...

     Quando a imperatriz e leitora acordaram, tudo ardia ao redor. As chamas devoravam tudo. Inclusive as roupas da dama e da imperatriz, os cobertores e lençóis que não estavam na cama. Atingiam as cortinas, abertas, do baldaquim do leito, mas não conseguiam atingir nada dentro do baldaquim. Aí dentro, nada ardia nem se queimava nem se manchava. A fumaça, que densa ocupava toda a habitação, quando penetrava no baldaquim sobre o leito, imediatamente fugia para fora, como se um cerco invisível protegesse a santa e sua companheira.

      Foram longos minutos de pânico e surpresa da dama de companhia. E minutos de tranqüila observação pela imperatriz.

  Depois, Santa Cunegunda fez o sinal-da-cruz e todo o fogo instantaneamente se extinguiu. Ficaram as marcas todas ao redor, como sinais do terrível que teria sido não fosse a íntima união de Santa Cunegunda com Deus... (Processo de Canonização).

      * Século XIX. O fogo acabou com praticamente toda a vila de Sainte-Etienne.

Alcançou também e reduziu a escombros e cinzas o chalé que o bispo Dom Depéry havia restaurado. O fogo consumiu completamente tudo ao redor do quarto de irmã Santa  Benedita. Inclusive o convento ficou sem o telhado geral, mas "alguma coisa" rodeou e protegeu o teto, as paredes de madeira, a cama, os móveis e tudo o mais da alcova da santa, nos seus exatos limites. Dentro daquele "cerco protetor" tudo ficou completamente intacto! Nem a fumaça penetrou. A santa  tranqüilamente continuou em oração.

      Com muito cuidado, pedacinho a pedacinho, como relíquias, foi recolhido tudo da alcova da irmã Benedicta, e utilizado num novo chalé (Processo de canonização).

      * Etc. etc. Como de outras classificações também são milhares os fatos  supranormais da classificação "ao contrário das leis da natureza" e concretamente com relação à "chuva não molhar" e o "fogo não queimar".

      Como é possível afirmar que não há milagres? Tal afirmação meramente teórica supõe a mais crassa ignorância dos fatos.

Pe. Oscar G. Quevedo S.J.

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