A Psicanálise das Assombrações |
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Todo e qualquer fenômeno parapsicológico depende da psicologia e mesmo da fisiologia do vivo. Agora aludo brevemente a alguns aspectos, muito significativos dessa dependência, concretamente nos fenômenos de efeitos físicos (Parafísicos). 1º) Inibição e, pelo contrário, a confiançaÉ típico. As exceções são raríssimas e têm motivos especiais.
Sir
William Barret,
por exemplo, fazia constar que a primeira vez em que entrou na casa
"mal assombrada" (poltergeist) pararam instantaneamente as tiptologias
nas paredes, nos móveis, em todas as direções; pararam as
telecinesias; e os aportes, como o de uma grossa pedra que,
atravessando o teto!, caíra sobre a cama. Tudo ficou na mais perfeita
paz. Mal ele saiu, e os fenômenos voltaram com fúria concentrada. O
mesmo aconteceu na segunda visita. Pouco a pouco, a presença ou ausência
de Barret foram fazendo-se cada vez menos
significativas.
** Que a presença do celebérrimo
fundador da SPR inibisse aquela jovem de 20 anos, física e
psiquicamente retardada, de psicologia insegura, tímida..., é
perfeitamente compreensível. Será que os espíritos dos mortos também
se assustariam? Variaria o tipo de perispírito da jovem que eles
dirigiriam? As alegadas dificuldades para os espíritos, além de
"Pressupor o que deveriam demonstrar", soam a
manifesto
subterfúgio. Seria até contradição. Quem
dirige, portanto, a telergia, é o psiquismo do vivo.
Igualmente: com referência ao ambiente desestimulante
ou animador que rodeia o psíquico, escrevia com grande experiência e
conhecimento Robert Tocquet:
"É
certo que nos círculos (...) espíritas ou semelhantes, as faculdades
parapsicológicas individuais, latentes ou embrionárias, serão
catalisadas (desencadeadas), reforçadas pela vontade, desejos e crenças
dos assistentes: assim, não é raro vê-las manifestar-se no começo
timidamente para ampliar-se logo. Em contrapartida, os metapsíquicos
e os parapsicólogos com (...) sua atitude neutra, ou inclusive
hostil, com relação às crenças espiritóides
incontestávelmente, incitadoras
dos fenômenos, não são aptos a criar o ambiente à eclosão e ao
desenvolvimento das faculdades parapsicológicas (...) Assim, quando
os médiuns saem das mãos dos espíritas para cair nas dos anti-espíritas,
vêem suas faculdades debilitarem-se, às vezes inclusive desaparecem
definitivamente (...) Significa que o elemento emotivo desempenha um
papel essencial nos fenômenos físicos da mediunidade
e que suprimi-lo pode implicar suprimir os fenômenos (...) Isto é
difícil de admitir se aplicada ao caso
a 'explicação' espírita, mas é lógico e natural
admitindo-se a explicação parapsicológica" (dos vivos). 2º) Igualmente o sentimento religiosoTambém típico. Exorcismos ou bençãos católicas ou protestantes, defumações do umbandista, doutrinamento Kardecista... Todos fracassam, ou todos têm êxito. "A gosto do consumidor": depende da mentalidade do doente causador dos fenômenos. No caso antes citado estudado por Barret, tudo terminou com exorcismos pelo pastor anglicano, porque a jovem a sua família tinham profunda convicção anglicana.
Definitivamente, o êxito ou o fracasso,
ambos, são contra a interpretação espírita. Se fracasso, porque
mais numerosos são os fracassos dos espíritas; se êxito, porque
seria prova do erro dos espíritas que pretendem reduzir a espíritos
de mortos todas essas outras interpretações de outros ambientes e épocas.
Na realidade, basta afastar o doente
responsável, para "desassombrar" a casa. E só uma adequada
terapia tem verdadeiro e continuado êxito no doente. Não são, pois,
os espíritos, ou os demônios etc, mas o psiquismo inconsciente do
vivo que dirige a telergia.
3º) E em geral toda a "emoção"
Compreende-se
perfeitamente que a "emoção" psicológica, mil fatores
ambientais, Influem a favor ou contra, no clímax necessário para a
exteriorização de um fenômeno psíquico, como são, destacadamente
dentro dos fenômenos parapsicológicos, os de efeitos físicos.
O Dr. Schrenck-Notzing tirava de sua
grande experiência esta conclusão:
"Resumindo
tudo, deduzo que a conexão entre o clima psicológico do círculo e o
desempenho do médium não encerra dúvida, e afirmo, pelo contrário,
que torna-se suspeito o médium que no poder energético não dependa
do ambiente nem da mentalidade das pessoas presentes. Tratando-se
realmente de fenômenos psíquicos, para realizar um fenômeno
verdadeiro e positivo é necessário que exista uma relação psicológica
harmoniosa e benévola entre o médium e os participantes. Os fenômenos
metapsíquicos não dependem só da
vontade do médium e os participantes. Os
fenômenos metapsíquicos não
dependem só da vontade do médium, é necessária a emoção.
No
caso do médium Willy Schneider, o fenômeno dependia do som ritmado
musical, do suave contato de uma mulher.
A luz exercia muita influência em seu
irmão Rudi Schneider. Nas 90 sessões
dirigidas pelo Dr. Eugéne Osty,
no Instituto Metapsíquico Internacional de Paris, comprovou-se que as
manifestações eram mais notáveis na escuridão absoluta. Mesmo com
luz vermelha, ultravioleta ou infravermelha o fenômeno era
inversamente proporcional à intensidade da luz. O motivo era um só: Rudi
estava imbuído de preconceitos ocultistas e espíritas ("espíritos
das trevas" e não "anjos de luz" no sincretismo
espírita-católico) sem fundamento.
Muitos
livros de ocultismo e espiritismo exigem plena castidade antes e
durante a produção dos fenômenos. Pelo contrário, Eusápia
Palladino conseguia melhores resultados quando previamente ficara bem
satisfeita sexualmente. E com Willy Schneider os melhores fenômenos
eram concomitantes à ejaculação seminal. Os esposos Ambrose
e Olga Worral
mostram - talvez sem pretendê-lo - que com o casamento ele entrou em
declínio, mas ela continuou e até cresceu na agressividade dos fenômenos.
Os satanistas de hoje e as bruxas de
antanho exigiam orgias.
Nesse contexto, certamente todos os que
conhecem sua biografia estarão lembrando a maior de todas as médiuns
de efeitos físicos...:
Eusápia
Palladino durante quase toda a sua vida - excetuando-se os últimos
anos - deu freqüentes mostras de histeria com fatores componentes
precisamente eróticos, e seus primeiros fenômenos parafísicos
surgiram ao redor da chegada da menstruação: Eusápia tinha quase 15
anos.
** Claramente fatores incentivantes
o inibitórios para o psiquismo do vivo, completemente
irrelevante para o espírito dos mortos.
Portanto é do vivo a direção (psicobulia). 4º) Condicionamento e especialização(Não existem espíritos de mortos) "Entre os milhares de espíritos de mortos que nos estariam rodeando" - segundo afirmam os mestres do espiritismo -, seria facílimo encontrar especialistas para tudo. Entre os vivos, porém, dificilmente coincidem nem sequer dois especialistas ao mesmo tempo em fase de estourar na emissão da telergia. Por ser o vivo, e não o espírito do morto, quem dirige a telergia é compreensível a especialização e condicionamento psicofísico a determinado tipo ou tipos de fenômenos.
Inclusive na microparapsicologia
de laboratório (a escola norte-americana). Rhine
observa:
"Quando
uma pessoa participou de experiências (de influxo sobre dados
rolando) onde se pretendia alcançar números altos, se passar à
experiência de números baixos, parece haver uma clara tendência a
conseguir soma sete, que é de números intermediários. Isto apareceu
em muitas experiências, e parece um efeito certo: o deslocamento para
combinações mentalmente,
não fisicamente".
Tudo prova que os fenômenos parafísicos
procedem inteiramente do vivo, não só a telergia, como também a
vontade diretora (psicobulia). 5º) O Papel da imaginaçãoO papel... dos jornaisTruques inconscientes ou reais fenômenos parapsicológicos, o certo é que as figuras que Eva Carriére produzia nas experiências dirigidas pelo Dr. Schrenck-Notzing e Sra. Bisson, correspondiam às imagens que Eva tinha no seu inconsciente. Os rostos ectoplasmáticos nada tinham de espíritas. Eram claramente reproduções das ilustrações dos jornais. Eva era uma grande leitora de jornais ilustrados.
Por
exemplo, numa sessão em novembro reproduz a fotografia que o jornal
"Le Miroir" publicara dez dias antes. Em sessão de 21 de
abril reproduz a fotografia que aparecera em 6 de março. Esse mesmo
rosto já aparece um tanto desfigurado na sessão de 2 de maio.
** Ia-se apagando da memória de Eva,
que, mesmo assim, conserva as características mais destacáveis e que
por isso mais se lhe gravaram na memória: gravata, verrugas...
Também
desfigurada a figura da Gioconda... ** Mas evidentemente tenta reproduzir as fotografias publicadas então em todos os jornais, quando o genial quadro de Leonardo da Vinci acabava de ser roubado do Museu do Louvre. O próprio tipo de ectoplasma que Eva emitia era uma imitação da argila pastosa utilizada por sua pesquisadora, Sra. Bisson, estatuária, nos seus trabalhos artísticos. Chamei Linda Gazzera "passarela das 'missei' do além. Eram muito bonitas as figuras que ela plasmava nas suas sessões. Mas também nada tinham a ver com o "além". A beleza das criações de Gazerra correspondia ao seu gosto pelas obras de arte e à sua esmerada educação estética. Gazerra era uma excelente pintora.
Em
uma sessão controlada pelo Dr. Richet, Linda plasmou uma preciosa
cabeça de anjo. **
Não era nenhum espírito de morto nem nenhum anjo real, era a imitação
de um anjo de um quadro de Rubens que poucos dias antes Linda Gazzera
vira com manifestas mostras de admiração.
Sobre
a cabeça de Daniel Dunglas Home apareceu uma cabeça de um "espírito
materializado", com moldura e tudo, num lenço de renda.
** Não sei se essa cabeça se parecia
com a de Adah Menken
- quando vivo; certamente diferente quando morto -, que Home dizia
estar incorporando, mas era certamente a reprodução exata de uma
vinheta que estava no frontispício de um livro do poeta.
Não se pode excluir o influxo das
faculdades de adivinhação. Mas é sumamente significativo o fato,
comprovado, de que os teleplastas nunca
reproduziram com exatidão a aparência de alguma pessoa ou algum
outro objeto qualquer que lhes fossem plenamente desconhecidos.
Quando
Lombroso reconheceu sua falecida mãe num
dos raros fantasmas completos reproduzidos por Eusápia, foi por dois
ou três traços característicos mais do que pela perfeição da
imitação.
Quando, porém, alguém reproduz o
fantasma da própria mãe ou de outra pessoa conhecida, ou mesmo de um
animal ou coisa antes freqüentemente observados, o fantasma pode ser
de uma semelhança completa.
Evidente prova de origem na imaginação
e memória do vivo ("ideoplasmia" é o nome técnico).
Evidentes provas de que tudo é provocado pelos vivos, nada tendo a
ver com a imaginação subsistente dos mortos.
De que estaria cheia a imaginação do
grupo Goligher, sempre em convívio com o
Dr. Crawford, entusiasta professor de mecânica? E como é evidente,
as ectoplasmias do grupo em nada se
pareciam às ectoplasmias modeláveis de Eva
ou de Linda; com Goligher tudo eram
hastes, alavancas... Não é a "mecânica do além", é a
imaginação do aquém...
6º) A Psicopatologia"Vá embora, homem"!
1974.
Numa casa em Rio Negro (Buenos Aires). Quando a família voltou à
casa, que ficara vazia naquela tarde, viram que umas penas de pavão,
adorno num vaso sobre um aparador, estavam queimadas, e sobre a parede
havia marcas de fogo.
Não deram muita importância ao fato,
por isso não se pode precisar a data. Esquecê-lo-iam, se não se
repetisse de modo bem mais grave em 17 de setembro. Voltavam também
da rua, estiveram ausentes da casa durante três horas. Ao abrir a
porta, vêem tudo cheio de fumaça. A fumaça provinha do dormitório.
O dono da casa correu para lá, encontrou fogo. Jogou um balde de água...
Mas a fumaça era tanta que depois não encontrou a porta de saída do
dormitório. Teve de quebrar os vidros da janela, quase asfixiado.
Entraram todos. O roupeiro continuava
ardendo. Apagaram o fogo... E perceberam com grande surpresa que ele
atingira e consumira e só a parte do armário correspondente ao dono
da casa; em nada atingindo as roupas e a parte do mesmo armário que
correspondiam à esposa e ao bebê.
"Nossa mãe vivia com eles três. O
susto e o desgosto foi tanto que certamente foi este o motivo da morte
dela, que sofria do coração".
A família recorreu ao CLAP à procura de
explicação e não de solução. Para explicação, o CLAP remeteu às
suas publicações sobre pirogênese. E
nada havia que solucionar; os fatos aconteceram e terminaram um ano
antes. ** Também por isso não era necessário - nem convenientes! - determinar a pessoa que emitira a telergia. Para o leitor fica alguma dúvida? Ao menos não pode duvidar de quem foram as vítimas... As penas de pavão foi a sogra que trouxera; e morreu de desgosto pelos fatos... O marido perdeu toda sua roupa, inclusive vários documentos... Nada perdeu a esposa... nem seu querido bebê...
O leitor também compreende que apesar de
não ter ficado ninguém na casa, o fenômeno surge quando estão
saindo - e verão resultados como nas penas de pavão - ou quando estão
chegando, como o fogo no guarda-roupa. Sempre a menos de 50m de distância...
da esposa! O psiquismo assim manifestava seu desejo: "Vá embora,
homem" Ciúmes demais, espíritos de menos!
San
Salvador (El Salvador), abril de 1978. O irmão Cecílio,
marista, intrigado e alarmado recorre ao
parapsicólogo Oscar López Guerra,
colaborador e seguidor da "escola clapiana".
Era um caso de pirogênese.
O dono da casa, Dr. Ernesto Lima, homem
culto, advogado, está desesperado. Além de algumas telecinesias, o
pior é que sucessiva, persistentemente, todos os nove colchões da
casa foram sendo irreparavelmente danificados por fogos espontâneos.
"É um fogo esquisito. Ardem os colchões, e os lençóis não se
queimam!"
Fracassam os espíritas. Fracassam os
exorcismos de dois pastores protestantes e de um padre católico.
Agora surgem labaredas das paredes de tijolos e cal, das lajes do chão...,
deixando feias manchas negras. O fogo atingiu também vários móveis,
e destroçou quase toda a roupa da família.
Outros móveis foram estragados pelos próprios
moradores com água benta, incenso, cruzes com cinzas (até no
aparelho de som de alta fidelidade!)..., além da "inundação"
para apagar as ameaças de incêndio.
Jornalistas e curiosos, com as freqüentes
visitas, aumentam o desespero da família, menos de Eva
Emérita Galindo, recém-chegada de nova
Iorque, ex-esposa do dono da casa...
O Dr. Oscar L. Guerra, já na primeira
visita, localiza os "espíritos e demônios": são os ciúmes
de Emérita. ** Parecia que superara o ressentimento de que a melhor amiga lhe "tivesse roubado o marido". Parecia que superara o desquite. Parecia que superara o novo casamento do ex-esposo com uma jovem que ela empregara... Até que vindo de Nova Iorque para visitar seus filhos, perante a ex-empregada que divide "minha cama" com "meu ex-esposo", explode no ressentimento, acumulado durante quase 30 anos... E o primeiro a arder foi o colchão da cama do casal...
Explicada a causa, e com uma breve
terapia pelo Dr. Guerra, os "espíritos e demônios" se
tranqüilizaram. "Há meses que tudo está em paz". Tensão nervosaTão absurdo quanto atribuir as doenças nervosas a encostos de espíritos maus, é atribuir aos espíritos preferência pelos neuróticos.
Teresa
Costa, da Calábria, era uma jovem senhora, igual a tantas outras.
Casada, mãe de dois filhos... Já seu sofrimento não era tão comum:
sozinha, muitas dificuldades, o marido havia tempo emigrara para Saint
Jean de Maurianne,
na Alta Sabóia. Em fevereiro de 1955, ela
decidiu seguir com os filhos atrás do marido... Sem essas circunstâncias
talvez seus nervos nunca tivessem explodido, mas com a incerteza, angústia
e o desengano, Teresa, logo que chegou a Saint
Jean, começou a sentir-se mal, caía em
delírios cada vez mais freqüentes, e mais adiante perdia a consciência
completamente, por fim, à perda de consciência se acrescentaram múltiplas
telecinesias: os pequenos objetos da casa espalhavam-se aqui e lá,
toalhas e guardanapos, flutuavam no ar como bandeirolas...
Tudo acompanhado com violentíssimas tiptologias
nas paredes.
Primeiro foi a curiosidade dos vizinhos.
Depois, por toda a cidadezinha, "Bruxa!, Bruxa!", gritavam
ao vê-la as crianças e certas "comadres". Teresa, com os
filhos, teve de refugiar-se na vizinha Saint
Julien. Mas as descargas parapsicológicas
acompanharam a doente. E os insultos e certa perseguição...
O Padre foi o primeiro a se interessar
pelo caso, inutilmente. Depois o médico, também em vão. Em seguida,
multidão de jornalistas de toda parte. O padre declarou que vira,
junto com outras pessoas, "um bule voador" fazendo
complicadas circunvoluções antes de derramar do alto seu conteúdo.
Quando o jornalista inglês Freddy Russel
pretendeu aproximar-se, todos os presentes viram uma caçarola
"com ar de pesada brincadeira" voar para golpeá-lo
suavemente na fronte: entre gargalhadas interpretaram o fato como
protesto contra o assédio dos jornalistas. ** Manifesta contradição: houve muitos jornalistas de todas as partes e nunca aconteceu nada semelhante.
A
conclusão de todos os vizinhos era de que a "bruxa" deveria
sair também de Saint Julien,
não tivesse sido a intervenção de médicos esclarecidos que a
internaram no hospital com o diagnóstico de doença nervosa
passageira acompanhada de fenômenos parapsicológicos...
** É plenamente aceitável e característico
que a tensão nervosa estoure descarregando-se nas telecinesias e tiptologias.
Também num adulto. Mas que os espíritos dos mortos estejam à
espreita do paroxismo nervoso para descarregar a própria raiva...!
Os
especialistas confirmam Já nos inícios da metapsíquica, o Dr. Myers alertava e comentava o conceito de psicorragia. Não só os fantasmas, mas todos os fenômenos parafísicos são, em analogia com a hemorragia, escapes doentios da força psíquica. Hemorragia e psicorragia podem ter seus efeitos benéficos - por exemplo, para combater a infecção na hemorragia; para descarregar a tensão interna, na psicorragia -, mas certamente são sintomas de desagregação doentia: ruptura de tecidos na hemorragia, ruptura da síntese psicológica na psicorragia. Ambas é claro, podem ser mais ou menos graves. Emile Tizané, partindo de três casos concretos de fenômenos de efeitos físicos, generaliza a todos os casos com seu indiscutível conhecimento:
"Três
diferentes acontecimentos separados no tempo e no espaço, três
constatações idênticas: aqui um rapaz nervoso, não normal, algum
tempo atrás; (...) (lá) uma jovenzinha
muito nervosa também (...); (acolá) um menino, também muito
nervoso". Por sua parte, outro grande estudioso e teórico. Pe. Alfano, em nome de todos os especialistas, (prescindindo e contra a micro-parapsicologia da escola norte-americana), frisa que é sabido que os realizadores de efeitos físicos genuínos encontram-se freqüentemente entre os adolescentes, não entre os adultos; é tipicamente feminino, não masculino; como também é característico dos neuropatas, não das pessoas normais. Dr. Hans Bender estuda os aspectos psicológicos da parapsicologia, e muito acertadamente qualifica os fenômenos parapsicológicos de efeitos físicos como "descargas de tensões internas". Também o Dr. Owen dedica um amplo e documentado capítulo, com o significativo título "Condições psiconeuróticas nos casos de poltergeist", a provar que "o responsável por um poltergeist é uma pessoa viva, que, como conseqüência de algum trauma emocional, ou por uma perturbação mental, ou por algum acidente físico de que foi vítima, projeta incontestavelmente certa energia", a telergia.
E
assim sempre Enfim em todos os casos em que foi feita análise deste ponto de vista, os protagonistas de fenômenos de "poltergeist" são de personalidade dissociada ou portadores de longas repressões morais, de remorsos, de complexos de culpa e autopunição, de frustrações, ou inconscientemente estão imbuídos de anseio de vingança. Os fenômenos são efeitos de rude agressividade contra determinadas pessoas ou contra todos e contra tudo. O parapsicólogo e psicanalista Emílio Servadio fala de "compressões psicológicas".
Na
velha casa de Ash Manor,
Sussex (Inglaterra), ocorreu o famosos
caso da família Keel. Tiptologias
como passos, golpes e murmúrios vagos, telecinesias de portas que se
fechavam e abriam, ventos frios, fantasmogênese
sob forma de um velho com rosto esverdeado e com um largo corte no
pescoço. Nandor Fodor curou uma jovenzinha que morava naquela casa. E assim curaram-se todos os fenômenos parapsicológicos. O problema era psicológico, psicológicos eram os símbolos empregados, e a jovem foi curada pelas modernas técnicas psicoterápicas. Sem nenhuma técnica, mas não menos eficientemente, curou-se o famoso "endemoninhado" do convento dos Padres Oratorianos:
O
noviço Carlo Mário, de 19 anos, acordou
com grande barulho ocasionado por "sombras" horrendas, e
saiu apavorado da cela pedindo socorro. Durante quase dois anos
choviam pedras, quebravam-se móveis, batiam-se portas. Em nada
ajudaram os exorcismos, mas quando se decidiu despedir Carlo
Mário do noviciado o "endemoninhado" ficou em paz.
Confessou então que não queria ser religioso e tinha escrúpulos de
manifestá-lo. ** O inconsciente encontrou o modo de conseguir seus objetivos sem remorsos de consciência.
Com
a mesma simplicidade, num caso típico resolveram-se as telecinesias e
tiptologias que tanto os apavoraram,
quando os pais decidiram não mais deixar a filha sozinha em casa!. ** Era medo que os desencarnados tinham quando ficavam sozinhos com a menina? Não
é atribuível ao além Um dos mais conhecidos "realizadores de prodígio" no mundo hoje é o jovem Matthew Manning.
Ao
chegar à adolescência, ele já "tinha experimentado mais fenômenos
parapsicológicos do que a maioria das pessoas chega a conhecer, mesmo
só por ouvir contar, ao longo de sua vida", afirmou o parapsicólogo
Peter Bender
no prólogo da autobiografia de M. Manning.
Especialmente as telecinesias destruidoras, vingativas, e pneumografias
(ou "escrita direta" na nomenclatura dos espíritas)
carregadas de insultos e ameaças. ** O Dr. George Owen, grande autoridade em fenômenos parapsicológicos de efeitos físicos e que controlou vários fenômenos realizados por Manning, felicitou o diretor pela decisão de manter Manning no Colégio apesar dos grandes transtornos. Era necessário para equilibrar a psicologia do adolescente. Acrescenta o parapsicólogo: "Recomendo, com relação aos alunos, que trate de combater a idéia de que os acontecimentos têm alguma coisa de sobrenatural, como intervenção de demônios ou espíritos de mortos, etc." O próprio Manning, refletindo sobre seus próprios fenômenos, problemas e psicologia, acabou por compreender:
"Os
rapazes em idade escolar costumam apegar-se a alguma moda (...) Uma
das manias ou afeições que se apoderou dos meus colegas de aula, em
fins de 1969, consistia em organizar supostas sessões espíritas, com
minha presença, embora hoje eu reconheça que foi uma solene
tolice". Porque os fenômenos não são do além. Personificação
do próprio "EU" Os espíritos dos mortos não são os agentes ou diretores da telergia ou ectoplasma dos vivos nos fenômenos de efeitos físicos. É o inconsciente dos próprios vivos. Mas precisamente por proceder do inconsciente, a personalidade oficial ou consciente não reconhece ter perdido a direção, daí a necessidade psicológica, primária, infantil, de atribuir a direção aos espíritos dos mortos (ou a outras entidades, em outros ambientes). Prosopopéia = máscara. O inconsciente geralmente se apresenta mascarado. Geralmente é fácil e nem se precisa ser especialista, basta não estar fanatizado..., para perceber o inconsciente por baixo da máscara. Boddington, autor espírita muito prestigiado entre os espíritas ingleses, dedica quase um capítulo inteiro do seu livro, a descrever os aportes realizados por uma menina de três anos. E esforça-se absurdamente em atribuí-los ao espírito chamado Julia.
Desapareciam
continuamente pequenos objetos. Os pais, intrigados, perguntaram à
menina e esta sem se intimidar, respondeu que sua amiguinha
Julia os tinha levado. ** Nada há de extraordinário que uma criança de poucos anos converse e inclusive veja seus amigos imaginários (imagens eidéticas).
Os
pais pediram: "É melhor que você diga a Julia
que queremos tudo aquilo de volta". Para grande surpresa deles,
os objetos começaram a reaparecer.
Foi completamente inútil a estrita vigilância
dos pais sobre a filhinha. Da mesma
maneira que os objetos desapareceram, apareceram da maneira mais
misteriosa, todos, um a um. Mas a estranheza chegou ao máximo com o pêndulo
(pequeno) do relógio: sumiu. Julia
(?!) dizia que não podia devolvê-lo "agora". E essa
resposta foi sendo repetida por seis meses. De repente apareceu. Como
uma criança de três anos poderia tirar e repor o pêndulo do relógio
no alto da parede? Nem mesmo os pais poderiam fazê-lo sem alguma
habilidade para alcançar o encaixe e subindo numa escada.
O pai, farmacêutico, tinha observado e
dirigido a vigilância, e anotara meticulosamente o desaparecimento e
reaparecimento de cada objeto.
Parecia-lhes
impossível que fosse a menina. Como suspeitar de si mesmos? Ninguém
mais freqüentava a casa, e certamente não naquelas ocasiões.
Consultaram médicos, policiais... E por fim o espírita Boddington
se esforçou por convencer os pais, de que a menina era médium e vítima
do espírito desencarnado de Julia. ** Com bom senso, os pais não aceitaram a interpretação espírita. Concluíram que fosse a menina "misteriosamente", sem culpa e por isso sem castigo. Julia seria "ainda mais mistério". Compreendiam que Julia era manifestamente (prosopopéia = máscara) das lógicas ambições da criança, raivosinha, vingativa e renitente à obediência. A menina predizia com exatidão os desaparecimentos e reaparecimentos. Se conhecessem o aporte parapsicológico, tudo ficaria claro.
Na
época do mediunismo Das hoje abandonadas, mas na sua época pioneiras, pesquisas com médiuns espíritas, ficou claro que as produções ectoplasmáticas respondem à psicologia do médium. Assim como as ectoplasmias de Eva Carriére correspondiam ás revistas ilustradas, pelas quais sentia verdadeiro fascínio; as de Linda Gazzera correspondiam ao seu depurado gosto artístico: Em contrapartida Eusápia Palladino se acreditava atormentada e via perfis de animais monstruosos. ** Prosopopéia que não podia faltar em sua fantasia traumatizada por ter visto seu pai morrer numa briga desapiedada. Os mesmos monstros no traumatizado Klouski. Em outras oportunidades, ao tratar o tema "fenômenos parapsicológicos, Dom ou doença?", apresentaremos abundantes exemplos das prosopopéias que correspondem ao angustiado e desequilibrado psiquismo dos causantes dos fenômenos parafísicos.
O próprio Jung se auto-analisaCarl Gustav Jung, o grande psicanalista, auto-analisou-se quando experimentou, numa época angustiada de sua vida, profunda desagregação da síntese psicológica, quando parte do seu inconsciente se fazia independente e provocava notáveis fenômenos parafísicos.
Á sua auto-análise dedica o livro Memórias,
sonhos e reflexões:
A
inteligência do inconsciente, muito superior à do consciente
aparece-lhe sob a figura e símbolo do velho profeta bíblico Elias.
As tendências eróticas são
representadas pela figura de Salomé (o
nome da dançarina que encantou a Herodes no episódio evangélico).
Uma serpente negra é a tendência ao
erotismo etc. Mas quero agora destacar certas cristalizações ou divisões do seu inconsciente parapsicológico, simbolizadas sob os nomes de anima (alma, em latim) e de Filemon (nome de um dos discípulos, predileto de São Paulo. A
independência que estas partes inconscientes, Filemon
e anima, chegaram a adquirir com respeito ao consciente, Jung
a destaca com estas palavras:
"Filemon
e outras figuras de minhas fantasias fizeram-me ver (ao consciente)
algo fundamental: existem coisas no psiquismo (inconsciente) que eu (o
consciente) não produzo. Produzem-se a si mesmas e têm vida própria.
Filemon representava uma força (do
inconsciente ou 'outro eu', 'secundus') que não era eu" (ou
consciente, "primus").
Nas minhas fantasias eu mantinha diálogos
com ele, e ele disse coisas que eu não tinha pensado conscientemente.
Claramente percebi que era ele que falava, e não eu. Ele afirmou que
eu tratava os pensamentos como se fossem produzidos por mim, mas ele
opinava que os pensamentos são como animais na floresta"
(independentes, livres, selvagens). Anima é a figura feminina no homem e figura masculina na mulher. Simboliza a parte complementar da psicologia humana característica de cada sexo. Jung sintetiza assim os diálogos do seu "eu consciente" com seu "outro eu", anima, inconsciente e plenamente independente:
"Durante
décadas, sempre me voltei para a anima quando me sentia emocionalmente
perturbado e quando percebia que algo tinha se cristalizado no
inconsciente. Então eu perguntava à anima: 'O que você está
aprontando agora?', ou 'o que você está vendo?' Após alguns minutos
ela produzia uma imagem. Quando a imagem estava formada, desaparecia
minha sensação de agitação ou de opressão. Toda a energia dessas
emoções (surgidas do inconsciente) transformava-se em interesse e
curiosidade (consciente) com respeito à imagem".
Foram várias as manifestações parafísicas
dirigidas por anima e Filemon, e tiveram
um lógico desenvolvimento, do sonho interno à objetivação externa:
Primeiramente Filemon
aparecia em sonhos. Estava num céu azul mas coberto de levas de
terra, ou torrões. Sua figura era de velho, mas com chifres de touro
e com asas como as do martim-pescador, embora enormes com relação às
do pequeno pássaro.
Mais adiante..., Jung
estava desenhando a figura de Filemon,
quando surgiu uma manifestação de HP (Subjugação Telepsíquica)
ou duas: talvez uma fosse atrair, diríamos chamar, um martim-pescador,
que são raros naquela área de Zurique. Outra, fulminar o passarinho
que caiu morto no jardim.
Uma vez Jung
estava cheio de tensões interiores... O lençol da cama de cada uma
das suas filhas foi arrancado por mão invisível. A menina, um tanto
surpreendida por não entender o que acontecera, recobriu-se com o lençol,
que pela Segunda vez foi puxado... Então é que a menina gritou. Sua
irmã maior viu anima, como um fantasma branco, atravessando o quarto
onde Jung estava. É sabido que Jung se interessou, muito por religião. Em uma tarde de domingo!, precisamente de domingo!, dia religioso, a campainha da porta começou a chamar insistentemente. A porta estava completamente aberta para o jardim vazio. Não havia ninguém fora... A casa encheu-se de fantasmas ou de "produtos de minhas fantasias", como analisava Jung, que lhe gritavam: "estamos voltando de Jerusalém, não encontramos lá nada do que procuramos", isto é, não é na Jerusalém atual onde Jung encontrará as respostas às suas perguntas religiosas... Jung começou então a escrver, e como de hábito nestas oportunidades, seu inconsciente se acalmou e o consciente tomou de novo as rédeas da sua personalidade. Pe. Oscar G. Quevedo S.J. |