O que é a Parapsicologia? |
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Fenômenos extraordinários, incomuns, e por isso mesmo misteriosos, mas relacionados com o ser humano, e que por isso mesmo talvez se devam a forças naturais, ocultas, do mesmo homem. Isso é o que etimológica e realmente significa parapsicológicos = à margem do psiquismo. Os fenômenos parapsicológicos são tão antigos, e tão modernos, como a própria humanidade. Remota
antigüidade.
Os povos mais antigos, como os babilônios, os persas, os etruscos,
praticavam a adivinhação, evocavam os espíritos dos mortos. Etc.
Mas além de meras afirmações posteriores, são poucos os vestígios
históricos que possuímos daqueles povos tão antigos.
Testemunho bíblico. Na
Bíblia temos numerosíssimas alusões a estes prodígios. Tais são,
por exemplo, as fantásticas maravilhas realizadas pelos magos de Faraó,
em luta com Moisés e Aarão (Ex 7,11.22; 8,7), até que os magos do
Faraó se renderam e deram a explicação dos prodígios alcançados
pelos chefes do povo hebreu: "O dedo de Deus está aqui" (Ex
8,19). José tem sonhos precognitivos e interpreta os sonhos também
precognitivos do Faraó (Gn 37,5-11; 40, 5-23; 41, 1-36). O caso do
rei Nabucodonosor de quem se diz que se haveria convertido em fera (Dn
4, 28-31), prenúncio da abundante literatura posterior sobre os
lobisomens. A Pitonisa de Endor evoca ante o rei Saul o profeta Samuel
(1Rs 38, 7-25). Etc., etc.
Os textos da Bíblia em que se condena a adivinhação, a feitiçaria, a magia etc. são numerosíssimos, e indicam-nos que estas práticas deviam ser então muito freqüentes. Lê-se, por exemplo: "Não se ache entre vós quem pretenda purificar seu filho ou filha fazendo-o passar pelo fogo, quem consulte aos pitões ou adivinhos nem quem indague dos mortos a verdade. Porque todas estas coisas abomina o Senhor e por semelhantes maldades exterminará Ele estes povos à tua entrada" (Dt 28, 10-12).
E ainda devemos aludir a numerosos outros
fenômenos mais assombrosos. Contam-se muitos na Bíblia. E podemos
dizer que a Bíblia está viva: até hoje pululam por todas partes
milagres, revelações, endemoninhados, aparições, etc.
A
Grécia clássica e misteriosa. Muitos
escritores da antiga Grécia nos falam de toda classe de fenômenos
parapsicológicos. Por exemplo, com referência ao espiritismo, Homero
na "Odisséia" descreve Ulisses consultando os mortos por
conselho e com as instruções da maga Circe. Heródoto, entre outros
muitos prodígios, conta-nos que até um dos sete sábios da Grécia,
Periandro, mandou consultar a sombra de sua mulher, degolada outrora
por ordem do mesmo Periandro. Segundo Plutarco, Pausânias evocou a
sombra duma jovem que mandara matar, e Calandas evocou a sombra de
Aquilau também por ele assassinado.
Mais tarde os magistrados mandaram evocar a sombra do próprio Pausânias.
É
famoso o daímon (= divindade de 2ª categoria; nome
traduzido com o termo demônio)
que Sócrates pensava ver e ao qual atribuía conselhos sobre coisas
desconhecidas. Conta-nos Platão, entre outros exemplos, que o demônio
avisara a Sócrates que não permitisse a Charmide ir a Menea.
Charmide não obedeceu e sucumbe em Menea. O mesmo nos testemunham
Xenofonte e Plutarco. Aquele põe na boca de Sócrates a afirmação
de que o daímon, o demônio, nunca o enganara. É também curiosa
entre os fenômenos que nos conta Plutarco a aparição de um anjo
mau, de "maravilhosa e monstruosa figura": "Eu sou teu
mau anjo". Bruto vê
o demônio sem se perturbar. Certa
classe de quiromancia e astrologia encontrou nada menos do que em
Aristóteles um entusiasta defensor. "As linhas -diz- não estão
escritas sem nenhuma razão nas mãos dos homens, mas provêm da influência
do céu no seu destino". E até se conta que deu de presente a
seu discípulo Alexandre Magno um tratado dessa espécie de
quiromancia escrito em letras de ouro, achado num altar dedicado a
Hermes, na mitologia grega o deus mediador entre os deuses e os
homens, entre outros atributos. Também Platão aceitou os princípios
da quiromancia da época. Muitos outros fenômenos misteriosos nos referem Filóstrato, Demócrito, Pitágoras, etc. Os
latinos não ficaram atrás dos gregos. Como os gregos, também os
latinos praticaram certa espécie de quiromancia e astrologia. A época
mais brilhante, ou escura!, se devemos acreditar no satírico Juvenal,
seria nos começos da nossa era, chegando o próprio Imperador Augusto
a exercer aquela quiromancia.
Horácio nas suas poesias mais de uma vez
faz alusão a encantamentos. Columela descreve prodígios do
feiticeiro Dardano. Lucano fala da famosa feiticeira de Tessália, Ériton
Fera (à qual aludirá Dante Alighieri). Petrônio Árbitro fala de
crianças roubadas pelos feiticeiros para preparar os seus feitiços.
Dos feitiços falam também Apuleio, Sexto Pompeu e outros. Já nas
"Doze Tábuas" se castigava com pena capital a quem lançasse
feitiços contra as searas alheias. E para defender o povo e a si
mesmo de tais poderes, o Imperador Augusto, como descreve Suetônio,
mandou queimar mais de dois mil livros sobre encantamentos e feitiços.
Mais de dois mil livros!, o que poderá dar-nos uma idéia de como o
ambiente estava cheio de feitiçaria e magia, se levarmos em conta que
os livros então eram escassos e de difícil edição.
Cícero recolhe, e meritoriamente tenta
analisar, muitas adivinhações e aparições. Tácito, entre outros
casos, conta como a Rufus "apareceu um fantasma de mulher de
forma ultra-humana e se ouviu uma voz". Lucano descreve evocações
dos mortos para adivinhações.
Os dois
Plínio, o Jovem e o Velho, referem também toda a classe de fenômenos
parapsicológicos falando-nos este numa das suas cartas até de uma
casa mal-assombrada, como a chamariam hoje. Plauto dedica uma das suas
comédias, "A Hospedaria",
ao tema das casas mal-assombradas. Etc.
Templos
de adivinhação. Adivinhação, de a
divinis = procedente dos
deuses. Inumeráveis são
os testemunhos históricos sobre os célebres oráculos na época clássica,
como os de Tropócia na Grécia junto ao rio Aqueronte; a Sibila de
Cumas nas margens do lago Averno; Figália na Arcádia; no Cabo Tenaro
em Heracléia. Delfos foi o mais famoso. Inúmeras adivinhações saíram
destes templos. Com suas adivinhações influíram muito e até
modificaram drasticamente o rumo de nações inteiras.
O cristianismo enfrenta a magia. Os
líderes cristãos, desde o início,
adotaram posição clara contra muitas superstições que
acompanhavam, e indevidamente ainda acompanham, os
fenômenos parapsicológicos.
Éfeso era famosa pelos seus livros de magia e pelos seus encantamentos, muito freqüentes naquela cidade. O evangelista S. Lucas conta como muitos dos que tinham exercido a magia e feitiçaria foram levar os seus livros ao apóstolo São Paulo, que para erradicar as interpretações supersticiosas, heréticas, organizou uma fogueira na presença de todos (At 21, 19). Simão, o Mago, "que enganara o povo" (At 8, 9.11), foi expulso da Igreja por pretender comprar com dinheiro o poder de realizar os milagres que, invocando a Cristo, alcançavam São Pedro e São João. Simão, o mago, pensava que eram poderes de magia.
Os Santos Padres e Escritores Eclesiásticos
inúmeras vezes se referem a fenômenos extraordinários e
misteriosos, muito diferentes, porém, dos milagres que eles mesmos
proclamavam em contraposição. Tertuliano, por exemplo, no século
II, fala das evocações dos mortos, adivinhações, sonhos
provocados, movimentos
de mesas para dar respostas ao contato das mãos, assim como de outros
muitos fenômenos parapsicológicos misturados com superstições
"com os quais enganam o povo".
A filosofia alexandrina com a qual
Juliano, o Apóstata, pretendia subjugar o Cristianismo, tinha por
axioma fundamental a evocação dos mortos e apresentava os fenômenos
usuais do espiritismo.
A paixão por estes fenômenos existia em
todas as camadas sociais como afirmam S. Gregório de Niza, Lactâncio
etc.
Idade Média e
Renascimento. Na
Idade Média há uma verdadeira epidemia de endemoninhados, e por
outro lado de feiticeiros e bruxas com seus malefícios, sortilégios
etc., do qual teve bastante culpa a seita dos gnósticos.
Muitos autores, como Hieron de Alexandria, o pseudo-Hipólito, Júlio Óbsequens etc., falam-nos de médiuns espíritas, inclusive produtores de efeitos físicos, e até descrevem alguns segredos de tais fenômenos para-físicos realizados fraudulentamente pelos médiuns. O
famosíssimo ilusionista Cagliostro às vezes se apresentava como médium
de fenômenos para-físicos e, não é preciso dizê-lo, como um médium
mais do que suspeito.
Esta febre pelo ocultismo não diminuiu
no Renascimento, atingindo até pessoas de grandes nomeada social como
testemunham Tasso, Ariosto e Celini.
Os papas, como por exemplo Alexandre IV e
VI, João XXII, Inocêncio VIII, assim como toda classe de escritores
cristãos, não cessaram de advertir dos perigos sociais, psíquicos e
morais de semelhantes práticas, aliás, sempre acompanhadas de
superstições e abertas heresias. Então como hoje. Sinal de que então,
como hoje, era freqüente a pretensão de dominar os fenômenos
parapsicológicos.
Fogueiras humanas. Como
se sabe, muitas feiticeiras, bruxas, ciganas... e muitas pessoas
inocentes terminaram na fogueira. Eram acusadas de pacto com Satanás
adquirindo assim poderes mirabolantes: causariam toda classe de doenças
com os seus feitiços, ficavam insensíveis às picadas das facas, os
demônios lhes comunicariam os mais recônditos segredos, etc. Assim,
com tais poderes, seriam capazes, não só de causar muitos danos ao
povo e de cometer muitas injustiças, senão inclusive de superar o
poder dos reis e governantes. Estes, portanto, tinham que livrar-se
das bruxas...
Os faquires da Índia.
Foram e são famosíssimos os prodígios fantásticos dos faquires. A
própria vida que se atribui a alguns desses faquires, por exemplo aos
chamados "sinniassis", já é algo esquisito: uns vivem
enterrados até à cintura ou sentados sem interrupção em estrados
de pregos, outros conservam sempre erguido um braço; há também os
que fecham perpetuamente a mão de modo que as unhas vão penetrando
na carne até saírem pelo outro lado. Etc.
As narrativas de viajantes sobre os prodígios dos faquires estão cheias de admirações e ponderações pelos fenômenos que presenciaram. Max Müller, Louis Jacolliot, Charles Goddart, Huc Zeffar, Vergnard Seabrook, Pellenc Betelson entre muitos outros destacam-se pela abundância de descrições, nem sempre críticas. Ducret talvez seja o mais maravilhado diante de tais prodígios, entre os escritores mais modernos. William Laid é o mais conhecido e lido entre os de outrora.
Os
Aissáuas da África. Na
Africa e países do Islão,
os mais famosos operadores de prodígios são os Aissáuas. Começam
geralmente com uma cerimônia religiosa de grande espetáculo que abre
a exibição. Comem vidros, pedras, carvões em chamas, etc. Outros
deixam-se atravessar por espadas, sangram amplamente e curam-se num
instante. Com uma só mão um Aissáua esquelético levanta no ar o
mais forte, nutrido e alto dos seus irmãos de práticas. Etc. Entre
os místicos do Islão são os mais famosos Alhallaj, a quem se
atribuem alguns casos maravilhosos, como a materialização de um pão
em pleno deserto (claro, só um!); e Ab-al Kadir que materializou e
alongou diversos objetos, levitou o seu próprio corpo, etc. Os sábios de Europa e América negavam os fatos..., que nunca tinham estudado! O grande ilusionista Robert Houdin descreve com todos os detalhes as maravilhas que observou e que logrou explicar segundo as diversas técnicas, inclusive "médicas", do ilusionismo. Nunca se insistirá suficientemente em que para ser bom parapsicólogo há que ser também expert, ao menos teórico, em ilusionismo, mágicas.
Na China lendária. Sempre
houve e há grandes operadores de prodígios na China. Quase todos os
fenômenos maravilhosos de que os pesquisadores
modernos têm notícias de haverem acontecido em outras partes
do mundo, podem encontrar-se também na China de todos os tempos.
Possuímos relações de casos acontecidos mil anos antes de Cristo. Numa relação sobre um caso acontecido em 1035 a.C. narra-se que houve materialização de objetos e aparições de seres fantásticos, vinham objetos através das paredes e das portas fechadas, ouviram-se vozes e música "transcendentes", etc. Magia organizada na América. Na América do Norte teve origem a organização mais ampla de fenômenos misteriosos. No "Cotage" conhecido pelo nome de Hysdeville, na Vila Arcádia, Condado de Wayne, no Estado de Nova Iorque, nasceu o moderno espiritismo como resultado de ruídos misteriosos que provinham da cama das irmãs Fox. A maior parte das seitas espíritas procuram nas suas sessões toda a classe de fenômenos. Com a difusão do espiritismo multiplicaram-se os prodígios, ao menos os mais comuns dentro da raridade dos fenômenos parapsicológicos. Outros fenômenos mais raros ao longo da história, como materializações, levitações do próprio corpo, e outros fenômenos para-físicos de maior monta não receberam incremento apreciável. Mas
nos começos do espiritismo parecia que inclusive os mais notáveis
fenômenos para-físicos iam receber grande incremento. Eusápia
Paladino foi à médium mais destacada entre as mulheres, realizando
perante os sábios que a controlavam grandes movimentos de objetos,
aparições de fantasmas rudimentais e até completos, etc. Daniel
Dunglas Home foi o mais famoso entre os médiuns varões, controlado
por grandes especialistas e perante as platéias mais destacadas.
Com o descobrimento contínuo de fraudes,
muitas vezes inconscientes e mais freqüentemente irresponsáveis, há
já anos que desapareceram os grandes médiuns de fenômenos para-físicos
que fossem dignos de serem observados por especialistas.
Mas, isso sim, ficaram, aqui e ali,
esses mesmos fenômenos espontâneos,
isolados, como em todas as épocas e povos. Bom, um tanto mais
freqüentes no Brasil porque aqui se fomentam mais...
No
Brasil. Atualmente o pais mais supersticioso do mundo
lamentavelmente é o Brasil. Há mais médiuns, curandeiros,
adivinhos, feiticeiros, etc.,
e mais casas mal-assombradas, endemoninhados, pessoas em transe ou
"repouso no Espírito", reencarnados, falando "em línguas",
assim como fundadores de novas religiões com seus milagres, etc.,
etc., em qualquer cidade um pouco grande do Brasil, do que em todo o
resto do mundo junto. Chico Xavier foi um médium destacado em
psicografia. Arigó destacou-se como médium de
curandeirismo. A "Igreja Universal do Reino de Deus",
e outras muitas, expulsa diariamente "mais demônios do que
gente" assistindo. Etc. etc. Sempre e em todas as partes. "Os fenômenos parapsicológicos têm sido assinalados em todas as épocas e em todos os povos. As descrições que chegaram até nós são fundamentalmente idênticas, embora as interpretações sejam muito diferentes nas diversas civilizações", assim conclui Eric Dingwall, um dos melhores historiadores da Parapsicologia. Diversíssimas as interpretações de fenômenos idênticos. Foram e são atribuídos às mais diversas causas, geralmente sobrenaturais como Deus, deuses, demônios, espíritos, larvas astrais, mahatmas, gnomos, gênios, fadas, duendes etc.
Tentativa de definição. O
grande pesquisador Robert Amadou, representando o sentir dos melhores
parapsicológicos, em diversos lugares da sua excelente obra "La
Parapsychologie" sugere diversas definições da Parapsicologia
ao englobar seu objeto de estudo. Por exemplo: "O fim da
Parapsicologia é a constatação e a explicação de fatos
desconcertantes, estranhos, misteriosos", "seus caracteres
desorientadores se podem agrupar na vasta categoria, profundamente
heteróclita, do oculto perceptível, das experiências mágicas, do
maravilhoso empírico. Sobre estes fatos, a Parapsicologia quer
pronunciar o veredicto da ciência". O lema dos estudos que, sob
a direção de Robert Amadou, se levam a cabo na "Tour Saint
Jacques", pode-se considerar como outra definição de
Parapsicologia: "Rien de ce qui est étrange ne nous est étranger".
Propomos uma definição a título de
orientação: Parapsicologia é o conjunto dos ramos da ciência
que têm por objeto a constatação e análise dos fenômenos à
primeira vista inexplicáveis, mas que, de início ofereçam a
possibilidade, mesmo que pareça remota, de dever-se a faculdades
humanas. Alguns esclarecimentos. Usamos o nome "ciência". É completamente apriorística, falsa, a afirmação de que só seria ciência se em todos os fenômenos estudados as suas observações pudessem ser repetidas com êxito igual em iguais circunstâncias. Ciência é o estudo da realidade do nosso mundo, e metodologia científica deve adaptar-se ao que a realidade exigir, não é científico pretender modificar a realidade para que se adapte à metodologia usada no estudo das coisas materiais e regulares.
"Possibilidade...
faculdade humana": não afirmamos que, de fato, sempre
derivem das faculdades humanas, nem que seja obrigatória a constatação
prévia de que derivam delas. Em todos esses fenômenos há um homem,
mesmo que seja considerado bruxo, feiticeiro, médium, endemoninhado
ou santo... Ou, ao menos, há uma testemunha, como, por exemplo, uma
adolescente numa "casa assombrada". Sempre intervém o homem
ao menos para comprovar ou testemunhar. Até certo ponto sempre cabe
perguntar-se: O fenômenos não se deverá a faculdades ocultas do próprio
homem?
"Conjunto dos ramos...".
É evidente a necessidade de colaboração interdisciplinar para poder
estudar a realidade dos fenômenos parapsicológicos de todos
os ângulos, sem miopias...
Classificação
dos fenômenos. Como
se vê, a Parapsicologia, contra a opinião certamente errada dos
autores da "micro-parapsicologia", a Escola Norte-Americana,
não se limita aos fenômenos extra-sensoriais = para-normais.
Nem só aos fenômenos sensoriais, extra-normais, como
pretendia a antiga escola materialista russa. De acordo com a escola
eclética e teórica européia, além dos fenômenos para-normais e
extra-sensoriais estuda também os fenômenos supra-normais,
mesmo que após criterioso estudo tenha que reconhecer que claramente
superam as faculdades humanas, os milagres. E tira as conseqüências
teóricas, filosóficas, e procura as aplicações práticas...
O conceito de Parapsicologia é bem amplo, sem miopias anti-científicas
e suposta a história e finalidade desta pesquisa. A pesquisa. Durante séculos e séculos tem sido menosprezada pela ciência estabelecida à análise destes prodígios e mesmo o veredicto sobre a sua existência. E talvez por isso mesmo parecem mais misteriosos. Reais ou imaginários, naturais ou atribuídos errada ou acertadamente a forças superiores, sempre ocuparam a atenção e a curiosidade dos homens.
É absolutamente imperdoável que pessoas
que se dizem cientistas deixem de lado toda essa ingente quantidade de
fenômenos. Com todo direito reclamava
Vítor Hugo, contra a oposição e zombaria anti-científica da
maioria dos sábios da sua época, ainda hoje muito atual, em relação
aos fenômenos parapsicológicos, que negavam sem nunca tê-los
estudado: "Substituir o exame pela mofa, é cômodo mas pouco
científico (...). Um sábio que ri do possível, está bem perto de
ser um idiota. O inesperado deve sempre ser esperado pela ciência,
que tem por encargo retê-lo e estudá-lo atentamente, rejeitando o
quimérico, confirmando o real (...). Que o falso se misture ao
verdadeiro, isso não justifica a rejeição do todo. Desde quando o
joio é pretexto para se recusar o trigo? Mondai a erva daninha, o
erro, mas ceifai o fato e atai-o aos outros. A ciência é o feixe dos
fatos. Evitar habilmente um fenômeno, recusar-lhe a dívida de atenção
a que ele tem direito, despi-lo, pô-lo na rua, virar-lhe as costas
sorrindo, é deixar a verdade caminhar para a bancarrota, é permitir
que seja contestada a assinatura da ciência. Abandonar os fenômenos
à credulidade, é trair a razão humana".
Os cientistas estabelecidos, vitimas de
verdadeira lavagem cerebral ambiental principalmente a partir de
finais do século XIX, negaram todos os fenômenos parapsicológicos
sem nada haver estudado. Mais motivo para que toda e qualquer pessoa,
precisamente tanto mais
quanto mais inteligente, atribua o fato que está presenciando,
inegável, a diversas forças do além, segundo o ambiente. Como tem
afirmado grandes pensadores, hoje a maior culpável de tanto
agnosticismo por um lado, e de tantas superstições e de tantas
seitas, por outro, é a universidade. A ciência não o aceita?
Portanto não existe: agnosticismo, materialismo, ateísmo. Mas é
inegável, está aí, todos são testemunhas. Portanto
é milagre. E hoje há 56.000 religiões apoiando-se na
interpretação que elas dão aos fenômenos parapsicológicos. Ora,
é evidente que Deus não pode haver revelado mais de uma só religião,
sendo todas tão diferentes e mesmo contraditórias. Por outra parte,
às religiões pertence analisar a doutrina revelada, não os fatos,
que pertencem à ciência. É a ciência que deve analisar se tal e
tal outra religião foi revelada ou inventada, se está assinado por
verdadeiros milagres, fatos verdadeiramente supra-normais ou se são
meramente extra-normais ou para-normais. Está certo Pio IX e o
Concilio Vaticano I quando proclamam que corresponde às ciências
humanas (à Parapsicologia) demonstrar o fato da revelação. Os fenômenos parapsicológicos são fraudes? São alucinações? São reais? São naturais? São milagres? Já é tempo que surjam especialistas perfeitamente preparados para entrar por estes difíceis mas interessantíssimos problemas. Já é tempo de não negar nem afirmar em nome da ciência sem prévio estudo especializado.
"Antepassados
plebeus". Em
outras oportunidades teremos que aludir, mais ou menos amplamente, aos
antigos assim chamados "iniciados" do Egito, da Índia...,
aos ocultistas e aos neo-ocultistas, ao magnetismo animal e, superado
esse erro, aos pioneiros do hipnotismo. Mas todas essas pesquisas
isoladas sobre alguns fenômenos parapsicológicos podemos chama-las
"pré-história", ou "Toda ciência teve seus
antepassados plebeus. A Química é filha da alquimia, a Astronomia é
filha da astrologia...".
Tentativas
científicas. Foi
o espiritismo quem deu o ensejo para que alguns sábios se
decidissem a estudar com intenção científica os fenômenos
parapsicológicos.
Foi em 1851-1852, aos 2 anos do nascimento do espiritismo
moderno, que na Grã-Bretanha o arcebispo de Canterbury, Edward White
Benson, funda a "Cambridge Ghost Society". A Sociedade logo
fracassa...
Em 1860 Myers e Sidgwick pretendem
examinar diversos médiuns, mas logo ficam desanimados diante de tanta
fraude. As pacientes investigações não oferecem quaisquer
garantias, nem para eles mesmos. Os seus métodos de pesquisa nestes
dificílimos temas logo lhes parecem deficientes. Na Química, na Física,
a matéria não engana. O inconsciente do homem, objeto de pesquisa
para se poder estudar estes fenômenos, engana inúmeras vezes com uma
precisão assombrosa, com um talento que supera todo o imaginável.
Muito teremos que aprofundar em outra oportunidade sobre o Talento
do Inconsciente em fenômenos parapsicológicos.
Em 1879, depois de ter constatado a
necessidade de se estudar seriamente os fenômenos chamados espíritas,
a "Dialectical Society" de Londres não chegará a publicar
suas pesquisas. Por
fim, depois de 1870, um sábio bem conhecido no campo da Química,
William Crookes, comunica as observações que, durante vários anos,
fez sobre os prodígios realizados por uma das irmãs Fox, Catharina,
e pelo mais famoso dos médiuns varões, Daniel Dunglas Home. Estas são
as primeiras observações sérias e sistemáticas, com intenção
científica, sobre os fenômenos do espiritismo moderno, embora com
muitíssimas falhas. Não em vão eram as primeiras pesquisas num
campo dificílimo, onde tantos e tão facilmente se enganam a si
mesmos e "enganam o povo" (At 8, 9.11).
Society for Psychical Research (SPR). Deveriam passar ainda mais treze anos, 62 desde o nascimento do espiritismo, para que Myers e Sidgwick, com a ajuda de Gurney, Podmoore e muitos outros sábios reconhecidos tivessem êxito na fundação da "Sociedade de Pesquisas Psíquicas" de Londres. Foi em 1882. Os mais destacados sábios colaboraram com a SPR. As duas publicações periódicas da Sociedade, "Proceeding..." e "Journal...", recolhem e analisam milhares de casos constituindo uma fonte importante e criteriosa dos fenômenos parapsicológicos, como tais (pois às vezes fica ampla margem para, hoje, corrigir a interpretação apresentada).
Sociedades, Congressos e Investigadores. Logo
se funda uma sociedade análoga nos Estados Unidos, a "American
Society for Psychical
Research" (ASPR), e no decorrer dos anos, em vários países,
aparecem sociedades semelhantes: "Parapsychology Foundation",
de New York, importante principalmente pelos trabalhos do seu diretor
Stanley Krippner; "Foundation for Research of Nature of Man",
a partir da Universidade Duke, de Durham, na Carolina do Norte, famoso
pelos trabalhos de Joseph B. Rhine; "L'Institut Métapsychique
International", de Paris, do que foram presidentes os
prestigiosos parapsicólogos Charles Richet e Eugene Osty, instituto
fundado pelo não menos importante pesquisador Gustave Geley, com a
ajuda econômica de Jean Meyer; "Società Italiana di
Parapsicologia", de Roma; "Centro di Studi Parapsicologici",
de Bolonha; o "Comité Belgue pour l'Investigation Scientifique
des Phénomènes Reputés Paranormaux"; "Instituto Argentino
de Parapsicologia" e "Asociación Ibero-Americana de
Parapsicología", de Buenos Aires; "Studievereniging voor
Psychical Research", de Amsterdam; "Instituts für
Grenzgebiete der Wissenschaft" (IGW), de Innsbruck, importante
principalmente pelos trabalhos do seu diretor, Padre Andreash Resh;
"Churches' Fellowship for Psychical Research and Spiritual
Studies", de Londres; "Instituto de Estudios Parapsicológicos"
(INEPA), de Panamá; "Instituto Mexicano de Psicología
Paranormal"; e com o mesmo título outra associação em
Argentina; "Parapsichological Institute of the State University
of Utrech", de Holanda, importante principalmente pelos trabalhos
do seu diretor W.H.C. Tenhaeff; "Sociedad Española de
Parapsicología", importante principalmente pelos trabalhos de
seu diretor geral Ramos Pereira Molina e do diretor técnico
Francisco Gavilán Fontanet; etc. etc. seria interminável
citar todas as instituições de Parapsicologia.
Celebram-se
Congressos Internacionais. Em muitas universidades os cientistas
têm-se dedicado a estudar os fenômenos parapsicológicos.
E como de passagem no parágrafo anterior destacamos alguns nomes, é
obrigatório render homenagem ao o melhor parapsicólogo de todos os
tempos. Como é que havendo falecido a 5 de Maio de 1758, quando nem o
nome Parapsicologia existia, ele nos seus escritos mostra saber toda a
Parapsicologia moderna, orienta para tudo o que a Parapsicologia ainda
está querendo saber..., e nunca erra? Com 19 anos já foi convocado
para orientar, e convenceu a todos os participantes de um conclave
internacional. Estamos falando de Próspero Lambertini, depois papa
Bento XIV. Um fenômeno parapsicológico tão extraordinariamente
admirável não pode ser deixado de lado pela Parapsicologia.
Nasce uma nova ciência. As primeiras pesquisas foram uma verdadeira revolução para o ambiente materialista da ciência a partir de fins do século XIX. Os parapsicólogos falavam em psiquismo, e até asseguravam que determinados fenômenos não podiam explicar-se senão pressupondo-se uma alma espiritual, interessavam-se pelos fenômenos surgidos no espiritismo, pelos endemoninhados, pelos milagres... Tudo isso que os cientistas estabelecidos aprioristicamente nem consideravam. Grande parte da ciência de então manifestou-se decididamente contra as pesquisas de Parapsicologia, e alguns erros graves em que caíram os primeiros pesquisadores alentaram mais ainda aos contraditores. Criou-se um ambiente de polêmica muito prejudicial ao progresso das pesquisas. O grande apriorismo dos cientistas estabelecidos, como bem analisa Charles Richet, prêmio Nobel em Fisiologia, no seu "Tratado de Metapsíquica", consistia em julgar impossível qualquer fenômeno extraordinário por o considerar contrário à ciência. Esta afirmação apriorística confundia "contrário à ciência" com "novo na ciência". Não é comum nem repetível à vontade, então não é científico.
Metapsíquica e Parapsicologia. A nova ciência usou vários nomes. Hoje, sem que se tenha logrado perfeita uniformidade, prevalece o nome de "Parapsicologia" para designar a ciência contemporânea, a partir de 1930, especialmente. E reserva-se o nome de "Metapsíquica" para as pesquisas mais antigas. Após árduos trabalhos, a Parapsicologia encontrou por fim o seu caminho e é reconhecida e respeitada como ciência de vanguarda. O reconhecimento oficial como ciência data de 1953, após o "Primeiro Congresso Internacional de Parapsicologia", celebrado na "Universidade Real de Utrecht", Holanda. Nessa mesma data e universidade surgia a primeira cátedra de Parapsicologia. Posteriormente foram-se multiplicando as cadeiras universitárias de Parapsicologia em muitos países. E a Parapsicologia é reconhecida pela Unesco e pela "Sociedade Internacional para o Avanço da Ciência".
Acertadamente
Gerad Frei proclama: Por cima da Psicologia, Psiquiatria,
Antropologia, Historia, Arqueologia e qualquer outro ramo da ciência,
"compete principalmente à Parapsicologia a incursão neste
campo, porque a Parapsicologia é o ramo da ciência atual que mais
contribui ao maior conhecimento do homem" e os temas
transcendentes com ele relacionados. E os prêmios Nobel Henri Bergson
e Werner Keller esperam que a Parapsicologia, "esta nova ciência
recuperará o tempo perdido" por séculos de religiões
irracionais por um lado e de materialismo por outro. E por esses
motivos, e também apoiado em muitos cientistas inclusive em Jung e no
mesmo Freud, no inicio adversário da Parapsicologia que não
conhecia, mas que terminou sendo um grande entusiasta dela, deduz e
confirma Harry Price, professor na Universidade de Oxford: A
Parapsicologia é "o mais importante campo de pesquisa jamais
empreendido pelo homem, e é dever de todo cientista familiarizar-se
com ela". Assim Charles Richet titulou a Parapsicologia como
"a grande esperança", e o célebre filósofo católico
Gabriel Marcel concretiza, "a revolução na ciência causada
pela Parapsicologia fará que ninguém possa ser materialista e abrirá
a prisão em que o agnosticismo e ateísmo encerraram a
humanidade".
Acabamos de tocar o tema da trascendência. É importantíssimo o estudo da Parapsicologia, mesmo que só fosse para estabelecer cientificamente se há milagres -fatos do nosso mundo por forças não do nosso mundo- e estabelecer a diferença entre verdadeiros e falsos milagres. Neste sentido terminamos com a exortação, entre tantas que poderíamos citar, do grande parapsicólogo Giovanni Battista Alfano: "Aproveito a ocasião, eu, sacerdote católico (...) para exortar vivamente meus colegas no sacerdócio a cultivar o estudo da Parapsicologia (...). Devemos antes de mais nada reconhecer a realidade dos fatos parapsicológicos (extra-normais e para-normais) para depois poder demonstrar em que medida (...) são diferentes as manifestações bíblicas e agiográficas, mesmo hoje, de claro caráter supra-normal".
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