MARIA - MÃE DE DEUS

   Frases como:  "Na Bíblia, ninguém concede qualquer prerrogativa à mãe de Jesus" ou "Não devemos rezar à Maria" além de outras verdadeiras calúnias são proferidas por muitos que se dizem "seguidores da Bíblia".

 "Como é que podem afirmar e espalhar por todas partes tais calúnias? Fica clara a vontade de denegrir a Igreja Católica com abertas mentiras.

* Já na Anunciação, sob a metáfora do Anjo Gabriel, Deus revela (isto é que significa Gabriel): "a uma virgem (...) chamada Maria (...) cheia de graça, o Senhor está contigo! (...) Encontraste graça junto a Deus. Eis que conceberás e darás a luz um filho (...), Filho do Altíssimo (...). O Espírito Santo virá sobre ti, e o poder do Altíssimo vai te cobrir com a sua sombra, por isso o Santo que nascer será chamado Filho de Deus".

* E no Magnificat, já no inicio do Evangelho de São Lucas 1,48s, canta Maria: "Doravante todas as gerações me chamarão bem-aventurada, pois o Todo- Poderoso fez em mim maravilhas". 

MÃE DE DEUS

*Acabamos de frisar, embora brevemente, que Jesus Cristo é Deus. E Maria foi Mãe de Jesus Cristo. Portanto Maria foi Mãe de Deus. Afirmar que Maria não foi Mãe de Deus seria manifesta contradição. Ou má vontade para atacar a Igreja. Em último caso, pleno desconhecimento de conceitos: Não se trata de duas pessoas. É uma única pessoa: Jesus Cristo. É a divindade assumindo a natureza humana (tecnicamente se chama união hipostática = união que forma uma só pessoa).

Nada menos que Aldous Huxley (talvez no seu afã racionalista contra o Cristianismo) afirmou que o mito de deuses feitos homens aparece em quase todas as religiões. Daí se espalhou a calunia ("Como pode...?"): "Os primeiros cristãos teriam absorvido da Índia ou de outras religiões pagãs o mito da Encarnação"

- Absolutamente falso. Nada menos que Geoffrey Parrinder, professor de religiões comparadas na Universidade de Oxford, demonstrou que fora do Cristianismo em nenhuma outra religião, nunca, nem se conheceu o conceito de um deus fazer-se homem sem deixar de ser deus.

- Por minha parte concretizarei um pouco. No antigo Egito fantasiavam com relações carnais, cheias de erotismo, por exemplo do deus Amon com a rainha-mãe Ahmès, da 18ª dinastia. Mas não nascia um deus. Entre os gregos e romanos Zeus ou Júpiter fecundou Diana, mas o filho de Diana não era um deus. Etc. etc. Analogamente divinizaram heróis, deixando de ser homens. E não ao revês, um deus convertido em herói humano sem deixar de ser deus. Fala-se, principalmente no Brasil, do absurdo da alma separar-se do corpo e reencarnar inumeráveis vezes em outros corpos, a geração humana pelos pais seria só do corpo!, a alma viria de outras reencarnações!, portanto o homem inteiro, corpo-alma não seria filho dos seus pais! É absurdo sobre absurdo, mas nunca um deus "reencarnando" num ser humano. Os avatares na Índia seriam como excrescências de um todo divino, não haveria almas individuais, nada de um deus fazer-se humano. Também os exús e orixás, especialmente a Pomba Gira, como muito parecidamente na época da bruxaria os demônios íncubos e súcubos, teriam erotismo com os mortais. Mas não "geram" exús nem demônios. Etc. Fora do Cristianismo, em nenhuma outra religião ou mito se fala de Deus, que sem deixar de ser Deus, encarna (não reencarna!, que é absurdo demais!) num ser humano. Só no Cristianismo a Revelação deste amor infinito: "Tanto amou Deus o mundo, que entregou Seu Filho único" (Jo 3,16).

* Desde o inicio do Cristianismo usa-se o termo Theo-tókos, em grego = geradora de Deus, em latim Deipara.

* Assim Orígenes no ano 243 no seu comentário da "epístola aos Romanos", de São Paulo, teceu uma ampla explicação da autenticidade do termo Theotókos ou Mãe de Deus.

* Também Piero, chamado elogiosamente o "Orígenes Junior", escrevera um tratado "Sobre a Theotókos" ("Perí tes Theotókos"). Morreu mártir no ano 300.

* No mesmo ano 300, Pedro I, bispo de Alexandria, ao referir-se ao mistério da Encarnação, por duas vezes chama Maria Theotókos.

* Por tanto, quando no ano 431 o Concílio Ecumênico (= Universal) de Éfeso viu-se na necessidade de proclamar, contra Nestório, como dogma Maria Theotókos, só confirmava a Tradição desde o início do Cristianismo. E frisava expressamente: "Os Santos Padres não duvidaram chamar Theotókos a Santíssima Virgem".

* Em 1917 a Biblioteca John Ryland, de Manchester (Inglaterra), entre outros fragmentos de papiros que comprou em Egito, havia um de 18 cm por 9,4 cm. Foi editado em 1938. Ninguém identificava seus dizeres. Até que um ano mais tarde o especialista F. Mercenier demonstrou tratar-se de uma oração mariana, do século III, tradicionalmente conhecida e recitada até hoje com as palavras iniciais "Sub tuum praesidium", em latim, "Sob a tua proteção". E lá está o termo Theotókos! A oração inteira, traduzida ao português, é assim: "Sob a tua proteção nos refugiamos, Mãe de Deus. Não desatendas nossas súplicas em nossas dificuldades, mas livra-nos do perigo, única casta e bendita".

* É mais do que interessante frisar que manuscritos latinos antigos traduzem em vez de "sob tua proteção" por "sub tuis visceribus", "sob tuas entranhas". O verdadeiro significado do termo grego eusplagjían é mesmo esse: boas entranhas. Isso nos dá idéia da antigüidade dessa oração, pois respira o original aramaico, judaico, dado que na Bíblia a misericórdia é freqüentemente comparada às entranhas de uma mãe que protege seu filho.

[Entre parênteses destaquemos um detalhe, a outro respeito. Brevissimamente porque deveremos trata-lo em outra oportunidade. É muito importante para a reflexão de tantas e tantas pessoas de boa vontade. É que essa oração antiquíssima usa o vocativo, Theotóke, além do adjetivo pessoal da segunda pessoa: tua proteção (ou tuas boas entranhas) e ainda a segunda pessoa do verbo: deixes, livra-nos. Tudo mostra que Lutero e seus seguidores, que deixam de rezar diretamente à Mãe de Deus, também por isto estão afastados do que sempre foi o Cristianismo, desde o inicio].

* Ninguém pode enumerar quantas vezes os cristãos, desde o inicio, ao longo dos séculos, em todo o mundo, hão rezado "Santa Maria, Mãe de Deus...".

 * E Deus assinou. Volto a insistir que não são as discussões humanas que mais interessam para dirimir as diversas interpretações. O que mais interessa é ver onde Deus assinou (os milagres). Os milagres em Santuários Marianos: La Virgem del Pilar, Guadalupe, Lourdes, etc., etc. Neste sentido louvo o grupo de teólogos luteranos reunidos recentemente em congresso, na Alemanha, quando reconhecem sinceramente que "seria culpável não reconhecer que Deus há feito muitos milagres em Santuários Marianos. Seria até tolice não reconhece-lo só porque foram feitos em ambiente católico e não entre nós, de outras confissões evangélicas".

 

Pe. Oscar G. Quevedo S.J.

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